O Homem para Blaise Pascal
O que é o homem na natureza? Um nada em relação ao infinito, um tudo em relação ao nada, um ponto a meio entre nada e tudo.
Quanto mais inteligente um homem é mais originalidade encontra nos outros. Os medíocres acham que todos são iguais.
Há duas espécies de homens: uns, justos, que se consideram pecadores, e os pecadores que se consideram justos.
O homem é feito visivelmente para pensar; é toda a sua dignidade e todo o seu mérito; e todo o seu dever é pensar bem.
A grandeza do homem está em ele se reconhecer como miserável. Uma árvore não se dá conta da sua miséria.
Todos os homens, sem excepção, procuram ser felizes. Embora por meios diferentes, tendem todos para este fim.
A razão, por mais que grite, não pode negar que a imaginação estabeleceu no homem uma segunda natureza.
A arte de persuadir consiste tanto mais em agradar do que em convencer, quanto os homens se guiam mais pelo capricho do que pela razão.
O homem não é nem anjo nem animal, e a infelicidade exige que quem pretende fazer de anjo faça de besta.
Os homens jamais fazem o mal tão completamente e com tanta alegria como quando o fazem a partir de uma convicção religiosa.
O que é, então, que este desejo e essa incapacidade nos proclamam, mas que houve uma vez no homem uma verdadeira felicidade da qual agora resta a ele apenas a marca e o traço vazio, que ele em vão tenta preencher de todo o seu entorno, buscando de coisas ausentes a ajuda ele não obtém nas coisas presentes? Mas estes são todos inadequados, porque o infinito abismo só pode ser preenchido por um objeto infinito e imutável, isto é, somente pelo próprio Deus.
Todos os homens buscam a felicidade. E não há exceção. Independentemente dos diversos meios que empregam, o fim é o mesmo. O que leva um homem a lançar-se à guerra e outros a evitá-la é o mesmo desejo, embora revestido de visões diferentes. O desejo só dá o último passo com este fim. É isto que motiva as ações de todos os homens, mesmo dos que tiram a própria vida.
Os homens têm um instinto secreto, que os leva a procurar divertimentos e ocupações exteriores, nascido do ressentimento de suas contínuas misérias; e têm outro instinto secreto, resto da grandeza de nossa primeira natureza, que os faz conhecer que a felicidade só está, de fato, no repouso, e não no tumulto; e desses dois instintos contrários, forma-se neles um projeto confuso, que os leva a procurar o repouso pela agitação... E assim se passa toda a vida.
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