Norte
Se a esta hora o agora
se fez em você passivo,
é porque de algum modo
estou em você cativo.
Se a esta hora meu verso
é espelho e você me lê,
é porque de algum modo
estou vivo em você.
Os vencidos não têm história
e a glória é tarde
para a palavra vazia.
Sincronizo o tempo
e os vencidos escorrem
pelo ralo da pia.
Conto do Desmantelo Azul
Uma vez, durante a primavera, eu vi o mar. Era fim de tarde, eu era criança, pouco mais de seis anos. Foi a primeira, foi a última vez.
O encontro, no horizonte, do céu azul com um mundo de espelho azulado com moldura azul-dourada invadiu meus olhos, arrebatou minha alma. Nunca nada mais enxerguei.
Uma vez, durante a primavera, ouvi o mar. Era fim de tarde, eu criança era, pouco mais de seis anos. Foi a primeira, foi a última vez.
O encontro do marulho azul com o silêncio azulado do infinito estourou meus tímpanos, ensurdeceu minha alma. Nada nunca mais ouvi.
Uma vez, durante a primavera, cheirei o mar. Era fim de tarde, criança eu era, pouco mais de seis anos. Foi a primeira, foi a última vez.
O encontro da maresia de azul salgado com o aroma celeste de um céu azulado quase noite entranhou-se pelas minhas narinas, embrenhou-se em minha alma.
Nunca mais nada cheirei.
Uma vez, durante a primavera, degustei o mar. Era fim de tarde, era eu criança, pouco mais de seis anos. Foi a primeira, foi a última vez.
O encontro de minha doce inocência com o azul salgado segredo das águas engravidou meu peito, emprenhou minha alma. Nada nunca mais provei.
Hoje, toda tarde, sento em frente ao mar, e uma suave fluida mão anil acaricia minha pele instantes antes de meu corpo se diluir na brisa marinha e meus poros explodirem em azul ao serem penetrados pela alma do mundo.
Arrancar do peito o indizível,
e deixá-lo exposto em minha cara,
pode ser um ato de extremo egoísmo,
mas é no fundo do abismo
que nascem as flores mais raras.
Não se limite
a dizer coisa com causa.
Não beba o eco ou o cio
que brota de versos alheios.
Não se banhe duas vezes
no mesmo vazio,
mesmo estando cheio.
Não caminhe por estradas conhecidas
nem queira novas perguntas
para suas velhas respostas.
Não se imite,
perca-se no caminho da volta.
Não tenho visão, sou visionário
no dicionário dos pequenos.
Não tenho calma, trago na palma
a alma dos mais, a alma dos menos.
Não tenho fama, sou difamado
pelos mais amados, pelos mais amenos.
Não tenho abrigo, sou amigo das estradas,
das madrugadas, do sereno.
Não tenho dor, vivo doendo.
Não faço versos,
os versos, em mim, vão se fazendo.
Quanta coisa me trava:
o medo, a solidão, a palavra.
Quanta coisa me cala:
a dor, o desejo, a fala.
Quanta coisa me cria:
a palavra, a fala, a poesia.
Palavro termos ternos,
buscando no efêmero
o que tenho de eterno.
A solidão vocabulizo
e, em cada rima perdida,
em cada rumo que tomo na vida,
eu me poetizo.
Na madruga, sozinho, pensando enquanto a cidade dorme eu vejo que as vezes é até bom perder algumas coisas: as chaves, as meias, o vôo. A cabeça, a fome, o norte, o ar... Ah, não! Perder não! Bom mesmo é quando te roubam isso.
- O senhor não sabe nada do sul. Se há menos aventura e menos progresso – suponho que não devo dizer menos excitação – provocados pelo espírito de jogatina do comércio, que parece forçar a criação dessas maravilhosas invenções, também há menos sofrimento. Vejo homens aqui, andando de um lado para outro nas ruas, que parecem derrotados por alguma perturbadora tristeza ou preocupação, e que não são apenas sofredores, mas inimigos. Lá no sul temos lá os nossos pobres, mas não há nos seus rostos essa terrível expressão de doloroso senso de injustiça que eu vejo aqui.
O que eles não poderiam entender é como seu coração sofria, o tempo todo, com um peso que não havia suspiro que remediasse ou aliviasse – e como o empenho constante das suas capacidades perceptivas fora o único meio de evitar que gritasse de dor
Se Mr. Thornton foi um tolo pela manhã – como ele mesmo se assegurou, pelo menos vinte vezes, que era – não se tornou muito mais sábio à tarde. Tudo o que ele ganhou em troca do seu passeio de ônibus barato, foi uma convicção ainda mais vívida de que nunca existiu, e nunca poderia existir, ninguém igual a Margaret; que ela não o amava e nunca o amaria; mas que ela – não! nem o mundo inteiro! - nunca poderia impedir que ele a amasse.
A senhorita olha como se considerasse uma desonra ser amada por mim. Não pode evitar isso. Não. Se eu pudesse, a liberaria dessa desonra. Mas eu não vou, nem que possa...Agora eu amo e continuarei amando
A senhorita olha como se considerasse uma desonra ser amada por mim. Não pode evitar isso. Não. Se eu pudesse, a liberaria dessa desonra. Mas eu não vou, nem que possa. Eu nunca amei mulher alguma antes: minha vida foi sempre muito ocupada, meus pensamentos muito absorvidos por outras coisas. Agora eu amo e continuarei amando. Mas não tenha medo de que haja muita expressão desse sentimento da minha parte.
A consciência é a principal ferramenta para as nossas decisões. É a bússola propulsora que nos orienta aonde queremos chegar. Quando temos consciência, temos um norte, uma direção, um movimento.