Ninguem se Encontra por Acaso

Os dias prósperos não vêm por acaso. São granjeados, como as searas, com muita fadiga e com muitos intervalos de desalento.

Agora, livro meu, vai, vai para onde o acaso te leve.

A sorte é um acaso, a felicidade uma vocação.

O que é acaso em relação aos homens é desígnio em relação a Deus.

O acaso é uma palavra inventada pela ignorância.

Até mesmo o acaso não é impenetrável, tem as suas próprias regras.

Não há ninguém, mesmo sem cultura, que não se torne poeta quando o amor toma conta dele.

Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho.

Ainda não vi ninguém que ame a virtude tanto quanto ama a beleza do corpo.

O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso.

Se não queres que ninguém saiba, não o faças.

Cada um de nós é uma lua e tem um lado escuro que nunca mostra a ninguém.

Ninguém nasce mulher: torna-se mulher.

A descoberta consiste em ver o que todos viram e em pensar no que ninguém pensou.

Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar.

TRADUZIR-SE

Uma parte de mim
é todo mundo;
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera;
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta;
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente;
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem;
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?

De sonhar ninguém se cansa, porque sonhar é esquecer, e esquecer não pesa e é um sono sem sonhos em que estamos despertos.

Mas eis a hora de partir: eu para morte, vós para a vida. Quem de nós segue o melhor rumo ninguém o sabe, exceto os deuses.

Sem amigos ninguém escolheria viver, mesmo que tivesse todos os outros bens.

Ninguém é realmente digno de inveja, e tantos são dignos de lástima!