Ninguem se Encontra por Acaso

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Todo mundo querendo demais e ninguém querendo de menos, isso não adianta, pois a vida é um jogo, e no jogo da vida está faltando malícia, está faltando coragem, e está sobrando medo.

É impressionante como eu não gosto de ninguém mas, de vez em quando, escapa um momento, um gesto, uma pessoa perdida e linda e única. E eu fico nessa felicidade de ser uma pessoa boa e capaz dessas coisas boas.

Mas se eu gritasse uma só vez que fosse, talvez nunca mais pudesse parar. Se eu gritasse ninguém poderia fazer mais nada por mim; enquanto, se eu nunca revelar a minha carência, ninguém se assustará comigo e me ajudarão sem saber; mas só enquanto eu não assustar ninguém por ter saído dos regulamentos. Mas se souberem, assustam-se, nós que guardamos o grito em segredo inviolável. Se eu der o grito de alarme de estar viva, em mudez e dureza me arrastarão pois arrastam os que saem para fora do mundo possível, o ser excepcional é arrastado, o ser gritante.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Mas eu te possuirei mais que ninguém
porque poderei partir
E todas as lamentações do mar,
do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente,
a tua voz serenizada.

Ninguém controla o mundo interno dos outros

Não sou escravo de ninguém
Ninguém, senhor do meu domínio
Sei o que devo defender
E, por valor eu tenho
E temo o que agora se desfaz.

Viajamos sete léguas
Por entre abismos e florestas
Por Deus nunca me vi tão só
É a própria fé o que destrói
Estes são dias desleais.

Eu sou metal, raio, relâmpago e trovão
Eu sou metal, eu sou o ouro em seu brasão
Eu sou metal, me sabe o sopro do dragão.

Reconheço meu pesar
Quando tudo é traição,
O que venho encontrar
É a virtude em outras mãos.

Minha terra é a terra que é minha
E sempre será
Minha terra tem a lua, tem estrelas
E sempre terá.

II

Quase acreditei na sua promessa
E o que vejo é fome e destruição
Perdi a minha sela e a minha espada
Perdi o meu castelo e minha princesa.

Quase acreditei, quase acreditei

E, por honra, se existir verdade
Existem os tolos e existe o ladrão
E há quem se alimente do que é roubo
Mas vou guardar o meu tesouro
Caso você esteja mentindo.

Olha o sopro do dragão...

III

É a verdade o que assombra
O descaso que condena,
A estupidez, o que destrói

Eu vejo tudo que se foi
E o que não existe mais
Tenho os sentidos já dormentes,
O corpo quer, a alma entende.

Esta é a terra-de-ninguém
Sei que devo resistir
Eu quero a espada em minhas mãos.

Eu sou metal, raio, relâmpago e trovão
Eu sou metal, eu sou o ouro em seu brasão
Eu sou metal, me sabe o sopro do dragão.

Não me entrego sem lutar
Tenho, ainda, coração
Não aprendi a me render
Que caia o inimigo então.

IV

- Tudo passa, tudo passará...

E nossa estória não estará pelo avesso
Assim, sem final feliz.
Teremos coisas bonitas pra contar.

E até lá, vamos viver
Temos muito ainda por fazer
Não olhe pra trás
Apenas começamos.
O mundo começa agora
Apenas começamos.

A ninguém ofereço meu vinho branco
Não empresto minhas roupas mais caras
E são só meus os meus segredos.

Martha Medeiros
MEDEIROS, M. Poesia Reunida. Porto Alegre: L&PM, 1999.

Reza muito pra não aparecer ninguém que mexa comigo enquanto você fica brincando de não saber o que quer.

Ninguém consegue enganar-nos melhor que nós mesmos.

Lá vou eu aqui de novo falar de mim, porque não consigo mais falar de ninguém. Lá vou eu aqui de novo tentando me conhecer, porque sei que a gente não conhece ninguém.

Acabei de tomar meu Diempax, meu Valium 10 e um Triptanol 25, e a chuva promete não deixar vestígios.

Eu olho a janela, e quando vou percebendo algo me transporto para Feira Velha e não sei se sinto saudade ou se eu não tenho medo de morrer.

Mergulho no baú. Revejo, repasso as minhas teorias, fico me perguntando porque eu não choro e qual a última vez que chorei. Fico com raiva de minha bobagem, digo que é isso mesmo, tocar o barco pra frente.

Levanto e fico achando que o ser humano é engraçado.

Todo mundo chama de violento a um rio turbulento, mas ninguém se lembra de chamar de violentas as margens que o aprisionam.

Porque quando eu jurei meu amor eu traí a mim mesmo.
Hoje eu sei que ninguém nesse mundo é feliz tendo amado uma vez, uma vez...

Humilha ninguém não mano, você não sabe o dia de amanhã.

E nas mensagens que nos chegam sem parar, ninguém pode notar. Estão muito ocupados pra pensar.

Não direi mal de ninguém, mas só o que souber de bom acerca de cada pessoa.

Sempre que fizer algo, mesmo que ninguém venha a saber, faça como se o mundo estivesse olhando para você.

A lembrança, ninguém a faz crescer
Quando perdeu a raiz.
Apertar-se em volta a terra,
Mantê-la ereta, talvez
Possa enganar o universo,
Mas não recupera a planta.
A memória verdadeira
É como o cedro — tem pés
Calçados em diamante.
Nem se pense que adiante
Cortá-la, se já arraigou:
Seus brotos de ferro irrompem
Novamente, se alguém a derrubou.

Emily Dickinson
Emily Dickinson: Uma Centena de Poemas

Tudo o que você faz com modéstia faz bem, joga a vaidade fora. Não tente agradar ninguém. O modesto é muito ele. Errar é uma maneira de aprender. O modesto é muito livre, muito na dele, muito autêntico e faz tudo o que tem vontade. Vai numa festa, se diverte, faz tudo o que quer.

Ninguém perde ninguém, porque ninguém possui ninguém. Essa é a verdadeira experiência da liberdade: ter a coisa mais importante do mundo sem possuí-la.

Nós vivemos dentro de um grande conto de fadas, do qual ninguém faz realmente ideia.
(A garota das laranjas, p. 110).