Névoa
POEMA BOCEJADO
Essa névoa que a tudo faz grisalho
e revolve num véu a luz do sol,
põe silêncio e preguiça nos meus olhos;
rege os passos num ritmo contido...
Na manhã deste julho quase agosto,
molho a minha poesia no cenário
como se molha o pão no capuccino;
bem mais por hábito que por sabor...
Por falar de sabor, bebo lembranças,
nostalgias, imagens requentadas,
tomo chá com torradas de saudades...
Neste quadro em que a vida quase para
na moldura do momento infinito,
poetar é meu rito; meu despacho...
AMOR SEM ECO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Um gostar dissolvido em névoa e véu;
disfarçado no céu de minha voz;
uma chama escondida que não chama
e me leva pra cama só comigo...
Meu amor se declara pra si mesmo,
minhas mãos te procuram nos meus cantos,
onde os mantos de minha solidão
chocam sonhos que nunca darão crias...
Tenho via de fato sem saída,
servidão que não serve um horizonte,
velha ponte quebrada noutro extremo...
É assim que meu mundo anseia o teu;
céu de ateu que não crê, só por despeito;
eu te odeio de amor ignorado.
DESISTÊNCIA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Se não podes me ver sem essa névoa,
essa trave nos olhos constrangidos,
um olhar de gemidos camuflados
pelos traços de alguma simpatia...
E não tens o que possas apostar
na lisura e no tom do meu carinho,
neste ninho de sonhos e levezas
que te oferto em silêncio e contrição...
Só me resta calar o sentimento,
recolher o sentido que não faz,
onde o vento gastou a confiança...
Tentarei não sentir a nostalgia,
cada dia do tempo que me resta
será tempo de achar quem faça jus...