Nem sei quem sou
Quem és tu que queres julgar, / com vista que só alcança um palmo, / coisas que estão a mil milhas?
Dinheiro é um negócio curioso. Quem não tem está louco para ter; quem tem está cheio de problemas por causa dele.
Para quem tem uma boa posição social,
falar de comida é coisa baixa.
É compreensível: eles já comeram.
A porta da felicidade abre só para o exterior; quem a força em sentido contrário acaba por fechá-la ainda mais.
Todo o homem de ação é essencialmente animado e otimista porque quem não sente é feliz.
Quem se despreza a si próprio não deixa mesmo assim de se respeitar como desprezador.
Quanto não ganha em tranquilidade quem não se preocupa com o que o vizinho diz, faz ou pensa, mas apenas com os seus próprios atos.
Todos se dizem amigos; mas doido é quem acredita: nada há de mais banal que esse nome; nada é mais raro do que isso.
Um procura um parteiro para os seus pensamentos, outro alguém a quem possa ajudar: é assim que nasce uma boa conversa.
São tão simples os homens e obedecem tanto às necessidades presentes, que quem engana encontrará sempre alguém que se deixa enganar.
Sábio é quem monotoniza a existência, pois então cada pequeno incidente tem um privilégio de maravilha. O caçador de leões não tem aventura para além do terceiro leão. Para o meu cozinheiro monótono uma cena de bofetadas na rua tem sempre qualquer coisa de apocalipse modesto. Quem nunca saiu de Lisboa viaja no infinito no carro até Benfica, e, se um dia vai a Sintra, sente que viajou até Marte. O viajante que percorreu toda a terra não encontra de cinco mil milhas em diante novidade, porque encontra só coisas novas; outra vez a novidade, a velhice do eterno novo, mas o conceito abstracto de novidade ficou no mar com a segunda delas.