Mudar de Cidade
Nem tudo são flores na nossa linda cidade. Mas elas estão por toda parte, olhe para elas, pense na complexidade desse milagre e reflita, elas não estão aqui por acaso.
A Nossa Cidade e bom mora aqui pq aqui tem fe´e tem deus aqui e bom aqui e abecoado por anjos e nossa senhora e deus jesus aqui todas pessoas ja vem aqui e gosto daqui obrigado tem uma cidades linda cheio de anjos aqui deus obrigado ta no coraçao e na nossa cidade viva hoje viva mais viva tudo dia amém.
Eu diria que esta cidade está morrendo, e que minha entrada no festival é a última chance de sobrevivermos como cidade.
Magnetismo pessoal
Quero poder abrir os olhos e ver ao teu lado na companhia de uma noite de lua cheia as luzes da cidade do outro lado do rio, ao longe.
Quero olhar para as luzes vibrantes sentado no pé de um monte, no meio da natureza com o teu perfume do meu lado.
Quero escutar apenas a tua respiração para eu me sentir próximo da tua intimidade.
Vejo através dos teus olhos o reflexo das luzes da lua e da cidade.
Eu em relação a você, possuo um magnetismo pessoal intenso.
Toda essa transferência de atividades do campo à cidade parece ser motivada por uma exigência técnica da produção industrial: a aglomeração espacial das atividades – que se traduz em sua urbanização – parece ser um requisito de sua crescente especialização e consequente complementaridade.
A cidade é o modo de organização espacial que permite à classe dominante maximizar a transformação do excedente alimentar, não diretamente consumido por ele, em poder militar e este em dominação política.
Morar longe da selva da pedras te deixa sempre mais perto de algo significativamente maior que a cidade grande.
O lamento da Cidade.
Ôh! Esses muros que brotaram.
Eles saltaram da terra e foram crescendo. Crescendo... criaram farpas sobre eles! Olha: agora são arames! Não! São elétricos.
Por todos os lados e em todos os lugares. Vejo somente prisões?
Cadê? Onde está a minha Goiânia?
Aquela cidade em que cresci com as pessoas vendo as casas? As pessoas nas varandas. Os jardins rosados. Com cheiro de jasmim?
Onde estão as praças floridas e as fontes jorrantes? As crianças cheias de esperança, correndo ou em velocípedes... tão lindas! Nos seus rostinhos havia esperança.
Aos olhos de quarenta centímetros de altura, hoje tem tela branca.
Onde estão os cumprimentos? E os lugares que se chegavam?
A cidade virou um muro.
E dentro de cada fortaleza vivem pessoas. De magoadas, ficaram amargas!
A cidade não é mais minha. Nem eu pertenço a ela.
Goiânia hoje é cinza e espelhada. Mas não se vê nos reflexos. Porque a imagem é indigesta.
Ela deixou de ter a Rua 20 com a Casa do Dr Vigiano.
Mataram a Amoreira. Mataram as lembranças.
Nem sei se sou de Goiânia. Ou ele que nunca foi de mim.
Hoje é um Centro, onde eu tenho medo de caminhar.
É uma ausência de cor. Numa ironia sarcástica frente ao Sol.
Ao invés de brilhar. Goiânia consome a luz.
Não. Não é uma cidade feita para nós os seres humanos.
Transformaram Goiânia para os carros.
De nossa terra... a um culto à vaidade.
Deparei-me assustada! Eu deixei de amar.
Quando aconteceu?
Como foi?
Não sei explicar!
Quando os espigões iam subindo. As pessoas ficaram mais egoístas.
E eu vi gerações apagadas pelo materialismo. Sozinhos e tristes. Nossos sonhos se apagaram de luz natural amarela para luz branca.
O asfalto queima. Demonstra uma Anhanguera com o significado de seu nome. Ela arde nossa pele ao andar. Existe uma gaiola no meio dela. Uma falta de sombra.
Existe povos desencontrados dentro da minha encantadora ilusão. Mais educados querem ostentar. Os mais pobres ficavam marginalizados na periferia. Hoje a periferia da periferia é para os ricos encarcerados em seus feudos de medo.
Muda-se de lugar. Mas não muda-se a mentalidade.
O que mais de valor podemos dar? Dinheiro? Não! Dedicar nossos talentos e espalhar conhecimento. De que me adianta este altar de vaidade? Se somos todos perenes nesta Terra?
Há um clamor! Um choro que perpassa os nossos olhos e aceitamos como “natural”. Este lamento é a exposição não de uma cidade. Mas de nossas crenças. O que fizemos com Goiânia?
E minha linda cidade... Princesa adornada com lindos arcos deitados no meio do Cerrado.
Com pulseiras de flores e brincos de fontes.
Passou a ser um triste vazio. Um abandono escuro.
Na minha memória.
Uma dor no meu coração.
Uma repugnância ao horror do progresso sem amor.
Fizemos Goiânia. Lutamos no meio do nada por ela. Matamos a bela sonhada pelo jovem Atílio. Porque não soubemos cuidar da cidade para nós ao invés de para mim.
Hoje, ela mostra-se amarga. Ela chora e nós sofremos.
E para os mais jovens... começa a diáspora!
No breu da noite
A noite chegava
Pouco se fazia
A noite chegava
E a cidade dormia
Contavam os feitos
do resto do dia
A noite chegava
e a cidade dormia
Brincavam, jogavam,
faziam folia
A noite chegava
e a cidade dormia
A noite chegava
o breu assumia
A noite chegava
e a cidade dormia
-da época em que
tudo era mais fácil
Todas as luzes entram em combinação na tua presença, miram-te a máquina e lentes que calculam a tua imagem para além de um click. O resto da cidade tem dado chilique na presença da tua imagem. Esses iPhone jamais passarão fome. Tu o alimentas. Basta o teu riso menina, que os prédios mudos, jamais passarão a te chamar em silêncio enquanto dorme a cidade na tua foto.
Mau te conhecia e você
me fez cidade fria, fechada e vazia
Fiquei sonhando com o sol
esperando a chegada da chuva
Lembro daquela noite em que
conheci você e dividimos coincidências
absurdas, cafés e expectativas
Parecia tudo tão simples
as suas mentiras pareciam
verdadeiros poemas de amor
Hoje lamento sem dó e sem dor
porque essas canções não são
mais minhas... são suas.
Praças são lugares feitos para pessoas serem elas mesmas com outras pessoas na insegurança e movimentação de uma cidade.
O gringo no Café Central.
Assim meu pai me contou, enquanto ria; a história de um gringo no Café Central.
Era lá pelas bandas do final dos anos cinquenta, um gringo muito chique, metido à besta, resolveu vir à Goiânia para ganhar dinheiro. Mas como todo inglês que se preze, fez um curso de Português com um erudito de Portugal. E como todo homem prevenido, trouxe o professor com ele até o Rio de Janeiro.
Três meses de viagem, o tal inglês hospedou-se no Grande Hotel.
E hotel você já sabe... pagando bem... eles entendem até língua de cachorro! Lá eles ensinaram que um homem de “porte” como ele, deveria ir ao Café Central para fazer contatos.
O homem se ajeitou. Colocou seu terno escuro, completinho. Até com colete e gravata com broche. Chapéu preto e sapato escuro. Tudo na risca de giz, fresquinho; para Londres. Saiu o cândido, rumo ao Café Central, a pé. Sentindo-se!
Eram três da tarde, onde passava, os homens de chapéu branco olhavam para ele e o cumprimentavam. Logo, o gringo percebeu que talvez teria que ouvir com mais cuidado os cumprimentos porque os fonemas saiam todos iguais numa palavra só:
_Bastard! Boatard!
Quanto mais as pessoas o cumprimentavam, mais calor ele sentia. Era o meio de setembro.
E... depois de encharcado de suor. O homem chega no aglomerado de pessoas, na esquina da Avenida Anhanguera com a Rua 7, que era o Café Central.
Adentrando o gringo; meu pai, mocinho do Lyceu, que estava de fora do estabelecimento; olhou de soslaio aquele branco de dar dó. Preto riscado, empoeirado, com uma mistura de perfume e um “certo cheirinho”.
Lá dentro, ninguém olhou para o homem. Todos absortos na sua própria conversa, em negociações. Um burburinho entre comerciantes de tudo. Conforme o recomendado pelo funcionário do Grande Hotel, o inglês foi de pronto ao balcão.
Avistou um atendente, que abriu um sorriso quando olhou outro homem que chegou de terno de linho branco e botas de cano alto. Sem cerimônia, o intruso sentou-se no banco que, para o inglês era dele. Depois do susto, resignado diante de sua ansiedade, o protagonista acomodou-se ao lado do homem e pôs-se a observar.
_ Bastardeee Tiaozim! Que vaicê ogi?
_ Bastardiii! Demaisdaconta! Dissempri!
_Intão-tá!
O atendente virou-se todo feliz para trás e pegou um cestinha com pão-de-queijo e uma xícara de café. Voltou-se ao moço.
Nisso, o inglês vendo a cena, já começava a sentir um certo frio na barriga. Pois não compreendia nada do que eles falavam. Fitava-os atentamente. Agora, nosso fidalgo, sentia-se um mero protagonista.
O moço trouxe o café, colocou para o jovem ao lado e com um bule de leite numa mão, perguntou:
_ Poçopô?
_ Pó-pô!
Ele colocou um pouco. O rapaz deu um gole e o atendente olhou para o inglês. Tudo pareceu em câmera lenta. Nisso, o homem já não suava de calor, mas frio de nervoso. Olhou atentamente para a boca do atendente tentado decifrar o que ele falava: _ Êita língua difícil! Ainda tem que mudar?
O atendente meio que receoso que talvez o homem muito que arrumado estivesse a passar mal. Fitou-o esperando uma resposta, quando o nosso insigne ia responder...suspirou aliviado! O garçom voltou-se para o moço de branco.
_ Tiaozim pó-pô mais?
_ Mais é clar-que-sim!
Colocou mais café na xícara e voltou com o “indigesto dialeto”:
_ Quémais?
_ Pó-pô!
Colocou mais.
_ Pó-pô-mais?
_ Pó-pô-mais!
_ Tá bãmassim?
_Num tá-não! Pó-pô-mais!
Nosso excelso ficou mais apreensivo. Compreendeu que o homem nativo, negou, afirmou para negar. E como se não bastasse, terminou afirmando novamente em imperativo! E o atendente nem achou ruim. Parece que agora ele sentia sua gravata muito apertada e sua boca extremamente seca.
De repente, o atendente olha para ele e faz uma pergunta. Assustado o ingles respondeu:
_I would like to a cup of tea and a glass of water, please. _ traduzindo: “Eu gostaria de tomar uma xícara de chá e um copo de água, por favor.” _ Of course! One moment please. _ traduzindo: Claro! Um momentim, por favor!
E não era que o garçom falava o Inglês!
O problema é que o inglês não sabia nada de Goianês. Êita sô! Tem base um troço desses?
Nerisírley Barreira do Nascimento 2018.