Mudar de Cidade
A VALA
Dos esgotos ao riacho, a água suja levando todo tipo de relaxo humano. Aqui embaixo, no vale dos escrotos, pouco se vê daquela selva de concreto onde a vida abstrata torna a todos os cinzentos viventes robôs, inorgânicos por natureza consumista destrutiva.
Minha pele ferida pelo tempo passado dentro de manilhas ásperas e contaminadas, enfraquecida pela carência do sol, marcada pelo desespero. Considerava-me parte deste submundo de fezes e lixo, entre os ratos e as baratas, partilhava de suas rotinas o mesmo espaço, porém, hoje percebo que sou apenas mais um fruto da desumanidade, um resto inútil que um dia foi descartado.
Pelos canos rastejei buscando abrigo, porém minha presença opressora prejudica a liberdade no esgoto, não sou resto suficiente de algo, talvez seja eu restos de nada, talvez nada. O córrego de merda desperta-me o desejo de navegar, de sair pra ver o céu, respirar um pouco melhor este ar.
Principio de um desejo a jornada rumando junto à corrente, das paredes abissais escorrem desesperança, mas, o trajeto da grande valeta parece me trazer o sentimento de um futuro favorável. Segui-lo hei na minha aventura, embrenhado na pequena mata baldia sigo, e a cada passo que dou me sinto um pouco mais vivo, pelo menos, a sensação de que o coração ainda bate me conforta.
Ruídos, buzinas, freadas, sirenes, latidos, roncos, pancadas, batidas. A cidade é um monstro estranho, não pretendo compreende-lo. Deveria me assustar, apavorar, mas ele já arrancou de mim todo o medo, consumiu-me até não restar bagaço à desfazer, ando por suas entranhas como um fantasma anônimo, perdido, avulso, perambulando leve nulo desumanizado.
Avanço pela fenda cada vez mais larga, distante dos tubos, enquanto acompanho o escorrer do denso regato fétido sou observado pelos habitantes das fossas, um desirmanado só, errando extraviado de todo o resto, perdido. Mas por que julgar de tal modo o olhar curioso das criaturas? Por que estabelecer tais qualidades tão desprezíveis à mim mesmo? Talvez minha imaginação tenha sido arruinada, uma cabeça desprovida de sonhos e esperanças, uma cabeça oprimida e comprimida de forma a servir um propósito alheio não mais pensa livremente para si.
Deparo-me com uma comunidade às margens do riacho, estranhamente sinto pelos que ali vivem o horror de ser humano lixo, descartados como bosta deste monstro conhecido como cidade. O crepúsculo triste de um sol que não se vê, torna aquele lugar mais estranho. Na escuridão vejo uma tímida fogueira, queimando lixo, iluminando e aquecendo rostos anônimos a queimar e fumar a dura pedra da decepção, cravando desilusões na mente já ludibriada pelo desapontamento vívido vivido desde a infância.
Peço-lhes fogo, para atear em minha própria fogueira, longe da desesperança e do lamento, aquecerei meu desejo de seguir adiante e matarei minha sede longe do olhar desconfiado dos que receiam. O cheiro das fezes lançadas pelos tubos empesteia a noite, e não há noia que catingue tanto a ponto de nos fazer esquecer que o vale dos escrotos foi enterrado com esterco e pavimentado com ignorância.
A chuva cai sobre nós lixos, evaporando do solo toda a podridão tornando o fedido cânion um caldeirão infectado, que logo é tomado por uma enxurrada de chorume decomposto lavado das ruas levando indiferente tudo o que havia ou não pela frente.
Fui junto, tornei-me mais um corpo inchado boiando na merda removido com repulsa e enterrado com repugnância, despido de qualquer pingo de empatia tido como resíduo inútil de uma existência desnecessária.
Tornei-me lembrança passageira de alguns ratos de esgoto, o homem que foi lixo do homem, um lixo de homem na vala de lixo.
Rio 453 anos
Meu Rio que sorrio e te abraço, e te encontro no Rio de Janeiro e te faço, um sorriso de samba, no pôr do Sol da praia, na festa, do Copa e da Lapa, da escada que te leva e faço, e trago pra ti ... Aquele abraço!
Bela Nina
Entre brilhantes mantas verdes
Banhada por águas límpidas
Debaixo de um sol dourado
Encontra-te, mui bela Nina.
És um manto de belezas
Com água em abundancia
Com seus braços verdejantes
És sorriso de criança.
Tens em si uma beleza
Um carisma sem igual
Quem te visita sempre volta
Ao seu abraço maternal.
És uma terra abençoada
O teu ar transmite paz
As virtudes do teu povo
São valores sem igual.
Há em ti belos segredos
Nas entrelinhas da história
Com os tesouros vividos
Em teus feitos em tuas glórias.
És cidade acolhedora
teu sol é brilho, emoção
quem te conhece te ama
tem você no coração.
És pequena em tamanho
Mas imensa em virtudes
Tua história te engrandece
És registro de atitude.
És história Nina Rodrigues
Teu valor não se desfaz
Nos relatos de tuas glórias
A história se refaz.
-Ei cara oque se passa?
- Não sei amigo eu tenho me afastado, caminhando talvez encontre oque procuro mais certamente não encontrei nada nesta cidade.
Nessa terra toca o som do meu amor
Meu coração bate no ritmo do Olodum no pelo
E só de lembrar vem a saudade
dessa linda cidade
São Salvador
Meu orgulho se aflora no instante em que posso dizer, sou baiano com amor!
O sol, nosso astro-rei, nasce nos campos e nas grandes cidades. No primeiro caso, de parto normal; no segundo, extraído a fórceps.
Cabedelo-PB
Aqui vivemos em paz
temos muito a oferecer
nossas belezas naturais
ainda esperam por você.
Mariana, minha querida filha
Meu orgulho, minha vida! Quero lhe prestar uma homenagem. Cada dia que passa você demonstra ser uma menina de muita coragem ao empreender essa decisão de ir morar sozinha em outra cidade para estudar, por isso estou expressando toda a minha admiração.
Em sampa vc nao se sente sozinho, voce esta sozinho! Eu sento no chao e observo as pessoas irem e virem, ninguem liga pra voce! Ninguem quer saber se vc precisa de algo, a selva de pedra nunca fez tanto sentido... Cada barraco, cada viela, cada pessoa, mostra a realidade da qual queremos nos proteger com medo de um dia por ironia do destino acabar ali no mesmo lugar que um dia nos horrorizamos, e no fim.... SOMO TODOS IGUAIS... Acho que essa é a maior ironia.
Onde tudo é pequeno nada tem exceção, pessoas grandes sonham com lugares grandes coisas grandes não aceitam a linha de conforto não se conformam com falsidade lutam por igualdade, desafiam poderosos e saem vencedores.
Mala pronta
A minha mala segue sob o armário
embalada por um plástico amarelo
desses de por lixo, sabe?
Ela segue aguardando o dia em que me encherei de sonhos
e partirei na viagem tão desejada.
Segue aguardando... Empoeirada!
Esperando ansiosa que eu desembarque na próxima estação
segue aguardando o meu retorno
cheia de sonhos, cheia de planos.
Prontos para saírem enfim, do papel.
Espera embarcar comigo um dia
e explorar o mundo de opções
espera que eu chegue um dia
e nunca mais parta.
Espero chegar um dia
o dia de enfim desarrumar a mala
e por fim de vez nessa história.
Espero poder contar a meus filhos e netos
todas as memórias e aventuras vividas
espero ver neles o mesmo brilho nos olhos
que um dia eu vi na vida.
Essa é a história de um homem e sua mala
espero que compreenda.
Pois, não pretendo me demorar!
Estava mesmo de passagem
não pretendia ficar.
Espero que não se ofenda
pois, agora, preciso partir
tenho de ir e desarrumar a mala
tenho que me estabelecer e constituir família.
Meu cão está só, me espera faminto
as flores em meu jardim também não tem quem as regue
tem de ser eu, sou eu quem faz isso
por isso, tenho de partir.
Tenho que fazer a mala...
E refazer-me antes de ir
tenho que desfazer o que fiz
e preparar a sala para acomodar-lhe
- café, chá, leite e bolachas crocantes -
Espero que entenda, mas tenho mesmo que ir!
Antes riremos um pouco, rir iremos de todas essas mazelas
nos abraçaremos feito se abraçam os casais em despedida
antes de eu partir, nos abraçaremos, feito quem se despede da vida.
Mas não choraremos, chorar não iremos
enxugaremos as lágrimas um do outro
e pela última vez, nos abraçaremos forte.
Será o ponto alto de nossa despedida...
Você me entregando a mala feita,
um pote de sobremesa acondicionada em um vasilhame plástico
e duas ou três mudas de plantas arrancadas com todo carinho de seu quintal.
Então eu direi até logo e acenarei com a mão direita
me despedindo pela décima segunda vez.
De longe, você só observará a minha partida
pelas costas, você verá
eu e a mala, desaparecer no horizonte.
As ruas são nossos museus
os muros as nossas telas
o sangue nos olhos a nossa tinta
e a poesia marginal a nossa arte.
A noite excelsa das grandes cidades, transmitem aos seus habitantes uma grande satisfação, mas, para os habitantes das aldeias de cujo País pertence a cidade, nem sempre a noite transmite igual sensação.
"Eu já não tenho mais pudor, eu quero te ver em toda face.
Me ame, meu amor, rogo para que esse louco amor, não me mate.
Essa doença me faz bem, tudo bem; não se vá, mas se for, já vai tarde.
Tarde demais para as lágrimas; muito cedo pra saudade.
Busco conforto em cada esquina da cidade.
Tento encontrar-lhe.
No cheiro das flores, na calmaria dos parques.
No bailar de cada árvore.
Nos semáforos, nos prédios, no cinza céu, nas mesas dos bares.
Não passa, aquele nosso amor, que jurei ao meu eu, ser só uma fase.
Deus, que fase!
Eu queria que a saudade fosse aquele tipo de lâmina, que não rasgasse a alma, somente a carne.
Queria que, ao sentir seu cheiro no vento, aquela antiga ferida, não sangrasse.
Me acostumo com a dor, pois já não tenho mais pudor, eu quero te ver em toda face..."
TRISTEZA MARAVILHOSA
.
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Rio de Janeiro,
sob teu corpo de concreto
teu santo padroeiro
dorme, como um feto.
.
Ainda não nasceu, teu santo,
ainda é cedo para o milagre;
e a lágrima doce do teu pranto
não é vinho, é só vinagre.
.
Baía de Guanabara,
como mente o teu postal.
Vejo fome em pau-de-arara
sob a camada social.
.
Queria entender teu segredo,
tua miséria, tua mentira;
mas o que vejo é o degredo
que escapa da tua mira.
.
Seres humanos migratórios
compelidos à mudança
cujos mortos compulsórios
são produtos da esperança.
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Rio, Deus te abençoe,
e do alto do Corcovado
em pedra o Cristo nos perdoe
por teu índio dizimado.
.
Cidade Maravilhosa,
herança dos guaranis...
na tua culpa misteriosa
guarda a lembrança dos brasis.
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Rio, cidade poesia,
olha teu negro na construção;
não lhe conceda alforria:
tu és a própria escravidão.
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Rio, alguém que tardia
espreita em teu carnaval;
sobre a tua fantasia
jaz a beleza de um postal.
.
Rio de Janeiro,
teu caminho não é reto;
ao sul do teu cruzeiro,
um voto vira um veto.
.
Ainda não nasceu teu quebranto,
ainda é cedo para o céu;
e a cachaça do pai de santo,
não é néctar, é só mel.
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[BARROS, José D'Assunção. Publicado na revista Insurgência, 2023]
O caririzeiro carrega consigo
Na sua simples singularidade
A honestidade e o ombro amigo
A pura e verdadeira sinceridade
Este é o Brasil que eu quero
Com orgulho e muito esmero
Estou de volta a minha cidade.
*Rosan Rangel - (15 de abril de 2018)
Experiência de peregrino.
.
Eu via uma terra de viajantes, terras distantes.
Alguns jovens sentado à margem, pássaros cantando,
ramos de flores, algumas cores do presente.
-- Vi uma geração, cantando alto aos montes,
vi brilho de criança, com sorriso de paz,
havia mares ao redor da ilha,
o sol era quente; havia nascentes de águas puras
observei e vi vidas, saindo da semente,
músicas clássicas em cantos gregorianos,
os velhos não envelheciam, àespera do final
Havia uma escola de cantos,
fogo sagrado em cada instrumento,
os instrumentos eram homens
que através da história
buscavam fazer uma cidade melhor
Sábios, juntos da palavra,
sábios, perto de Deus
cidade fortificada,
cidade poética