Morto Vivo
Vivo sempre no presente. O futuro, não o conheço. O passado, já o não tenho.
Nota: Trecho de poema do "Livro do Desassossego", de Bernardo Soares (heterônimo de Fernando Pessoa). Link
...MaisNão vivo em mim; torno-me parte daquilo que me rodeia. As montanhas ferem-me a sensibilidade, ao passo que a bulha das cidades humanas só me tortura.
Tenho uma mania de achar que nada acontece por acaso. Talvez isso ainda me deixe louca, já que vivo esperando sinais. Não sei se você está me entendendo, é mesmo meio difícil de explicar, mas volta e meia penso assim puxa, será que isso vai mesmo dar certo? Se for pra dar, vai acontecer tal coisa e se acontecer tal coisa é porque é pra ser. Tá, eu sei que é coisa de gente doida, mas eu nunca disse que era totalmente certa.
Quer saber? Até acho que um pouco de doideira faz bem. Não dá pra ser muito certinho, viver de uma forma muito correta, fazendo o bêabá do jeito que todo mundo disse. Eu sei o que quero pra mim. Além de brigar pelas coisas que quero, também tenho um pouco de sorte. Sei que sim. Sorte por ter no meu caminho pessoas que me dão apoio e estrutura. Porque a gente precisa disso quando o mundo está desmanchando feito desenho na chuva.
Acho que as pessoas surgem na vida da gente por algum motivo. Algumas nos ensinam, outras aprendem. É uma via de mão dupla. E penso o seguinte: se alguém aparece na minha vida e eu posso ajudar, ajudo. Acho que é obrigação. Não sou de desperdiçar oportunidades, talvez porque já tenha desperdiçado um punhado delas no passado. Hoje em dia o que aparece na minha frente eu agarro. Acho que se a gente tem condição de fazer algo não tem porque não fazer. É meu dever, entende? Não dá pra ficar parado vendo as coisas acontecerem, tem que agir.
O mundo e as pessoas mudam muito rápido. Hoje quem você ama está aqui, amanhã pode não estar. Hoje você tem um emprego, amanhã pode não ter. Hoje você dormiu com a frase entalada na garganta, amanhã o dia nasce de outro jeito, com outra cara e a frase pode ficar perdida no meio do nada. Ou pode ser tarde demais.
Acredito que todo mundo tem um poder. E a gente pode, sim, mudar as coisas. Me chame de idealista. De sonhadora. E de romântica. Sou tudo isso. Mas ainda acredito nas pessoas e nas mudanças. E toda mudança começa no fundinho de cada pessoa que quer realmente fazer alguma diferença.
Por dentro eu sempre me persegui. Eu me tornei intolerável para mim mesma. Vivo numa dualidade dilacerante. Eu tenho uma aparente liberdade mas estou presa dentro de mim.
Endechas a Bárbara escrava
Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que pera meus olhos
Fosse mais fermosa.
Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas não de matar.
U~a graça viva,
Que neles lhe mora,
Pera ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.
Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão,
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.
Presença serena
Que a tormenta amansa;
Nela, enfim, descansa
Toda a minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo;
E. pois nela vivo,
É força que viva.
Tudo é vivo e tudo fala ao nosso redor,
embora com vida e voz que não são humanas,
mas que podemos aprender a escutar,
porque muitas vezes essa linguagem secreta
ajuda a esclarecer o nosso próprio mistério.
Estou com saudade de mim. Ando pouco recolhida, atendo demais ao telefone, escrevo depressa, vivo depressa. Onde está eu?
Vivo cada dia como se fosse cada dia. Nem o último, nem o primeiro simplesmente o único.
Eu sou a pedra no meio do meu caminho.
gostaria de esquecer que vivo tropeçando em mim:
ao invés de olhar por onde ando,
tentando me desviar de comigo,
olharia o horizonte, bem lá adiante,
onde ainda não cheguei pra me atravessar o caminho.
Estar vivo não nos distingue radicalmente dos mortos; mas, estar apaixonado, sim.
Corpo flexível, estranho, sinuoso que nem cobra e fogoso com os olhos: um fogaréu vivo ambulante. Espirito impaciente para romper o molde, incapaz de retê-lo. Os cabelos pretos, longos e sedosos, ondulavam e balancavam ao andar. Sempre muito animada ou então deprimida. Segundo alguns, era louca. Opinião de apáticos que jamais poderiam compreendê-la. E passava a vida a dancar, a namorar e a beijar. Mas, salvo a raras exceções, na hora H sempre encontrava forma de sumir e deixar todo mundo na mão. A mentalidade é que simplesmente destoava das demais: nada tinha de prática. Guardava, inclusive, uma cicatriz indelevel na face esquerda, que em vez de empanar-lhe a beleza, só servia para realçá-la.
Claro, faço muitos planos. Esse é o segredo para ficar vivo. Toda a minha família é muito forte. Eu tenho certeza de que vou viver pelo menos até uns 70 anos.
Se me abandonar, ainda vivo um pouco, o tempo que um passarinho fica no ar sem bater asas, depois caio, caio e morro.
"Vivo com essa sensação de abandono, de falta, de pouco, de metade. Mas nada disso é novidade. Antes dele, teve o outro, o outro que continua indo embora para sempre porque nunca foi embora pra sempre. Eu não sei deixar ninguém partir, eu não sei escolher, excluir, deletar. São as pessoas que resolvem me deixar, melhor assim, adoro não ser responsável por absolutamente nada, odeio o peso que uma despedida eterna causa em mim. Nada é eterno, não quero brincar de Deus."