Morto Vivo
Criminosos fogem, pessoas saem feridas. É parte do trabalho.
Mas se não se permitir um descanso, não será útil para ninguém. Porque estará morto.
"Sou um menino que envelheceu logo à nascença. Dizem que, por isso, me é proibido contar minha própria história. Quando terminar o relato eu estarei morto. [...] Mesmo assim me intento, faço na palavra o esconderijo do tempo”.
( em "A varanda do frangipani", Lisboa: Editorial Caminho, 1991.)
“Comportamo-nos como se as pessoas de quem gostamos fossem durar para sempre. Em vida não fazemos nunca o esforço consciente de olhar para elas como quem se prepara para lembrá-las. Quando elas desaparecem, não temos delas a memória que nos chegue. Para as lembrar, que é como quem diz, prolongá-las. A memória é o sopro com que os mortos vivem através de nós. Devemos cuidar dela como da vida.
Devemos tentar aprender de cor quem amamos.
Tentar fixar.
Armazená-las para o dia em que nos fizerem falta.
São pobres as maneiras que temos para o fazer, é tão fraca a memória, que todo o esforço é pouco.
Guardá-las é tão difícil.
Eu tenho um pequeno truque.
Quando estou com quem amo, quando tenho a sorte de estar à frente de quem adivinho a saudade de nunca mais a ver, faço de conta que ela morreu, mas voltou mais um único dia, para me dar uma última oportunidade de a rever, olhar de cima a baixo, fazer as perguntas que faltou fazer, reparar em tudo o que não vi; uma última oportunidade de a resguardar e de a reter.
Funciona.”
Miguel Esteves Cardoso, in As Minhas Aventuras na República Portuguesa
Curem os enfermos, ressuscitem os mortos, purifiquem os leprosos, expulsem os demônios. Vocês receberam de graça; deem também de graça.
Foi o amor que te elevou às nuvens a ponto de seres considerado um morto, porque só os mortos atingem a altura dos céus.
Juro que não me importa como esse verme será morto, mas, seja como for, façam o que fizerem, só tentem não errar.
Beijos molhados, tesão, carícias e libidos. Somente um ser morto nunca desejaria tudo isso... O resto é tudo falsa santidade...
O cristianismo não tem nenhuma tumba para visitar, nenhuma cinza para adorar, nenhum morto para adorar. Cristo está vivo e viverá para sempre.
Vi uma pixação escrita num muro: 'Deus está morto' (Nietzsche). Escrevi abaixo: 'Nietzsche está morto' (Deus).
Que inferno, cara, se você pensar sobre isso, à luz fria do dia, você já está bem morto.
Eu posso estar esperando
por algo que esteja morto
e posso ser o mais tolo
por fingir não saber
que nada vai voltar a ser igual
a quando eu te via inocente e tão frágil
e queria te abraçar
pra proteger e esconder do mundo
o que era tão meu.
Mas me faz bem fechar os olhos,
acreditar ser um sonho
e que vou acordar, vou te abraçar
e ter mais uma chance
de não te ver morrer em meus lábios.