Morto
Um guerreiro considera que já está morto, e que não há nada a perder. O pior que podia ter acontecido para ele, já aconteceu.
Mas quando eu estiver morto
Suplico que não me mate (não)
Dentro de ti...
Aprenda a deixar o passado onde ele esta.Deixa os morto enterrarem seus mortos.Aprenda a perdoar e ser grato, viva o hoje, aprenda para poder ensinar, seja do bem e tenha o selo de Deus. Demonstre alegria no viver, quando fizer algo, faça-o com amor, seja a imagem e semelhança de Deus, seja fiel e verdadeiro com os demais. Ame, lute, quebre a cara... Mas viva!
Nunca minta e nem queira ter vantagens, não deixe a vaidade e o orgulho serem mais fortes, seja manso, seja amigo, seja a mão que ajuda, seja alguém que possamos identificar o Senhor.
Não pare até o bom se tornar melhor e o melhor se tornar o máximo. Só o peixe morto nada com a corrente. O vivo este sempre contra ela.
É meio difícil de perguntar a um cara morto o que ele fez de errado.
(Minho)
Adão foi expulso do Paraíso por amar e confiar em Eva.
Sansão foi morto pelos filisteus por amar e confiar em Dalila.
Davi quase pôs seu reino em ruínas por amar Batsaba.
Troia caiu por causa do amor do Príncipe de troia por Helena.
E você insiste em dizer que os homens são todos iguais.
Sinceramente não somos todos iguais.
Vox Victimae
Morto! Consciência quieta haja o assassino
Que me acabou, dando-me ao corpo vão
Esta volúpia de ficar no chão
Fruindo na tabidez sabor divino!
Espiando o meu cadáver ressupino,
No mar da humana proliferação,
Outras cabeças aparecerão
Para compartilhar do meu destino!
Na festa genetlíaca do Nada,
Abraço-me com a terra atormentada
Em contubérnio convulsionador ...
E ai! Como é boa esta volúpia obscura
Que une os ossos cansados da criatura
Ao corpo ubiqüitário do Criador!
Mãe. Eu tenho algo para te dizer. Sou morto-vivo. Agora, eu sei que você pode ter algumas noções preconcebidas sobre os mortos-vivos. Eu sei que você pode não estar confortável com a idéia de eu ser morto-vivo. Mas eu estou aqui para te dizer que mortos-vivos são como você e eu ... bem, tudo bem. Possivelmente mais parecidos comigo do que com você.
Estou morto
Abandonado
Desprezado
Só que consigo viver
Viver sem alguém
Viver com outro alguém
Tantos já conseguiram
Porque eu não sou capaz
Ou será que eu apenas penso não ser capaz
Encampas e aquele o qual já morreu
É
Eu também já morri
Será
Se me beliscarem será se ira doer
Penso que não devo testar
Enfim
Consigo ver e conversar com todos que sempre viveram ao meu lado
Então não morri
Apenas deve ser um vazio que me fizeram
Que me deixaram
Vazio tão grande que penso não mais existir
Irei retomar
Retomar o amor
Retomar a vida
Retomar o amor
Retomar com os que comigo compartilham de um pensamento
Acho que já encontrei
Retomar
A velhice pode ser o nosso tempo de ventura. O animal está morto, ou quase morto. Restam o homem e a alma.
Os lados, de Paulo Mendes Campos
Há um lado bom em mim.
O morto não é responsável
Nem o rumor de um jasmim.
Há um lado mau em mim,
Cordial como um costureiro,
Tocado de afetações delicadíssimas.
Há um lado triste em mim.
Em campo de palavra, folha branca.
Bois insolúveis, metafóricos, tartamudos,
Sois em mim o lado irreal.
Há um lado em mim que é mudo.
Costumo chegar sobraçando florilégios,
Visitando os frades, com saudades do colégio.
Um lado vulgar em mim,
Dispensando-me incessante de um cortejo.
Um lado lírico também:
Abelhas desordenadas de meu beijo;
Sei usar com delicadez um telefone,
Nâo me esqueço de mandar rosas a ninguém.
Um animal em mim,
Na solidão, cão,
No circo, urso estúpido, leão,
Em casa, homem, cavalo...
Há um lado lógico, certo, irreprimível, vazio
Como um discurso,
Um lado frágil, verde-úmido.
Há um lado comercial em mim,
Moeda falsa do que sou perante o mundo.
Há um lado em mim que está sempre no bar,
Bebendo sem parar.
Há um lado em mim que já morreu.
Às vezes penso se esse lado não sou eu.
Paulo Mendes Campos (Belo Horizonte 28 de Fevereiro 1922 - Rio de Janeiro 1 de julho de 1991) - Foi poeta, escritor, cronista e jornalista brasileiro. Foi um dos mais talentosos escritores da geração mineira, junto com seus grandes amigos Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Hélio Pellegrino e outros. Como ele mesmo disse, "fui para o Rio de Janeiro para conhecer o poeta chileno Pablo Neruda, e aqui estou até hoje". Paulo foi um dos que revolucionou o estilo da crônica na imprensa e, com certeza, foi um grande poeta brasileiro.
Pois morrer é uma destas duas coisas: ou é como um nada e o morto não tem nenhuma sensação de nada, ou (conforme se diz por aí) ocorre de ser uma transmigração e uma transferência da alma aqui deste lugar para um outro lugar.
Lembrar
É sentir saudade
Do que foi adormecido,
Mas, nunca esquecido,
Nem morto,
Nem despercebido,
Nem o passar do tempo.
Lembrar...
Mesmos em a reciprocidade,
Mesmo que signifique sofrer,
O que foi bom,
Vale apena reviver.