Morto

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À beira da estrada
Com o pêlo tão sedoso
O cachorro morto.

Só a cabeça de um morto diz que sim a todos os movimentos que lhe imprimem.

sol quente de outono
a mão do amigo morto
toca meu ombro

caído, um corpo
acabado, um sonho
imóvel, um morto

O homem está morto.
A barba não sabe.
Crescem as unhas.

Sol. E nas asas
do pássaro morto,
secreta noite.

mosquito morto
sobre poemas
asas e penas

De que serve ressuscitar? Toda a gente continua a ver o morto.

Pois o homem vivo, bem como o homem morto / tem uma cabeça de morto na cabeça.

Ás vezes o diabo permite que as pessoas vivam sem problemas, porque não quer que recorram a Deus.
Seu pecado é como uma cadeia, só que, tudo é lindo e confortável lá dentro, não há a necessidade de sair, a porta está aberta. Até que um dia, o tempo se esgota, e a porta da cela se tranca, e então, é muito tarde"

Texto do filme Deus não está morto.

Eu tenho a esperança que nada se perde,
tudo alguma coisa gera...
O que parece morto, aduba...
O que parece estático, espera.

O pauloleminski
é um cachorro louco
que deve ser morto
a pau e pedra
a fogo a pique
senão é bem capaz
o filhadaputa
de fazer chover
em nosso piquenique.

Paulo Leminski
Toda Poesia

Como o amor não se compra, é infalivelmente morto pelo dinheiro.”

Se pela manhã você souber com precisão como será o seu dia, você está meio morto - quanto mais precisão, mais morto você está.

Os corvos devoram os mortos e os aduladores devoram os vivos.

Criminosos fogem, pessoas saem feridas. É parte do trabalho.
Mas se não se permitir um descanso, não será útil para ninguém. Porque estará morto.

Mais vale um jumento vivo que um filósofo morto, mas é melhor morrer como filósofo do que viver como jumento.

Se você vai me matar, vá em frente. Eu estou morto, de qualquer forma.
(Denji)

"Sou um menino que envelheceu logo à nascença. Dizem que, por isso, me é proibido contar minha própria história. Quando terminar o relato eu estarei morto. [...] Mesmo assim me intento, faço na palavra o esconderijo do tempo”.


( em "A varanda do frangipani", Lisboa: Editorial Caminho, 1991.)

“Comportamo-nos como se as pessoas de quem gostamos fossem durar para sempre. Em vida não fazemos nunca o esforço consciente de olhar para elas como quem se prepara para lembrá-las. Quando elas desaparecem, não temos delas a memória que nos chegue. Para as lembrar, que é como quem diz, prolongá-las. A memória é o sopro com que os mortos vivem através de nós. Devemos cuidar dela como da vida.
Devemos tentar aprender de cor quem amamos.
Tentar fixar.
Armazená-las para o dia em que nos fizerem falta.
São pobres as maneiras que temos para o fazer, é tão fraca a memória, que todo o esforço é pouco.
Guardá-las é tão difícil.
Eu tenho um pequeno truque.
Quando estou com quem amo, quando tenho a sorte de estar à frente de quem adivinho a saudade de nunca mais a ver, faço de conta que ela morreu, mas voltou mais um único dia, para me dar uma última oportunidade de a rever, olhar de cima a baixo, fazer as perguntas que faltou fazer, reparar em tudo o que não vi; uma última oportunidade de a resguardar e de a reter.
Funciona.”

Miguel Esteves Cardoso, in As Minhas Aventuras na República Portuguesa