Morto
Há muito não olho para céu.
Rever aquele brilho que sempre esteve morto.
Depois dessa escuridão não houve grandes mudanças,
Pois ainda me lembro do seu nome e de todo sentimento inalcançável,
Tão longe quanto a minha estrela mais distante.
Falo aos meus sentimentos e nada se resolve.
E quando for embora, eu não os levarei comigo.
Assim acalento minha mágoa e curo minha dor.
Por isso os deixei com você e com todos que me conheceram nesses dias.
Para onde vou, não há diferença em levar.
Hoje eu olhei para o céu e isso me traz grandes lembranças
Recordações de um tempo que não posso carregar.
Essas noites mexem muito com a gente.
Não consigo dormir...
Continuo pensando em você.
Mas quando eu for, não poderei levar.
Nenhuma das coisas que amei tanto cuidar.
MORTO POR UM ABORTO
(Esta poema é produto de uma ficção que traz à tona o veemente repudio do próprio feto, contra UM CRIME CHAMADO ABORTO.)
Mãe! Eu consigo e você comigo,
Poderíamos viver juntos por muito tempo
Se não fosse esse seu inescrupuloso intento,
Prestes a decretar minha não-vinda.
Esse intento que desenfeita a beleza feminina
De dois corpos num só.
Que desvenda o mal que você apronta,
Ao ilustrar na tela do desrespeito à vida
Ao apresentar a aparição dos contras
E o desenrolar da eliminação dos prós.
Mãe! Eu que queria ser o fruto de sua existência.
A rósea flor da sua façanha,
Regada com o choro da criança que viria,
Sou, no entanto, um botão pisoteado num canto.
SOU UMA CRIATURA sendo abatida, sem clemência.
SOU UM SER sendo assassinado nas entranhas,
Sob os mandos e desmandos
Da frieza, da perversidade, da covardia.
Mãe, como é pecaminoso esse seu delito!
Emolduras um quadro com falso desenho.
Colas um cartaz com rasurados manuscritos,
Ocultando, no ventre, a falência de seu juízo,
Ao agredir-me, às escondidas, com golpes doloridos,
Certificando-se, assim, que não mais tenho
O vigor que possuí outrora.
O calor materno daquela ocasião...
Nos minutos daquelas horas.
Mãe, eu me perco na escuridão desse desafeto
E, pouco a pouco, desfalecendo,
Sou um feto doado à dor e à agonia.
...Me remexo, me enfraqueço.
Desfaço-me nesse embaraço
Que tanto me judia.
Que me tinge com o corante da violência.
Que me queima com o fogo do sofrimento,
Levando-me a saborear
A ceia das conseqüências,
Como o mais recomendável dos alimentos.
Mulher!
Você é simplesmente mulher, adiante,
Porém, jamais pura ou sublime.
Você não é mais digna
Da minha admiração que se finda,
Ao ser impiedosamente detonada, explodida,
Pela exterminadora sem-vergonhice do seu crime.
Você, pra mim, vale menos que uma moeda,
Pois a gestante que se preza não pratica isso:
Não ignora a semente de sua vida,
Pondo-lhe um maltratante sumiço.
Mulher, conclui-se o seu insensato desejo!
Sei que, prematuramente, sairei.
Que sua barriga logo... logo eu a deixarei,
Para entre os seres vivos não permanecer.
Para não dar e nem receber
Sequer um... um único beijo.
Agora, mulher!
Agora... agora tudo está para ser desfeito.
Se o arrependimento a fizer voltar atrás,
Não será possível dar um jeito,
Porque já é tarde demais.
Porque eu já presencio a morte
Vindo ao meu encalço, ao meu encontro,
E, daqui a alguns segundos,
Ela fará com que eu esteja morto.
Morto por sua conduta contrária.
Morto por seu aborto.
Por essa injustiça cruel e voluntária,
Que me traz o ponto final
De um total desconforto.
Adeus,
Mulher que não quis dar-me ao mundo.
Adeus,
Mulher que não quis ser a minha mãe.
Adeus...
É o meu irremediável fim... ADEUS!
Pobre jardim cheio de flores
Tornou-se um lugar morto e escuro
Não me convença que há lugar como esse
Tão lindo como procuro
Pena que não haja mais luz nesse mundo
Aqui não nasce, só morre.
Seja pobre, rico, limpo ou imundo.
Pobre jardim cheio de flores
Não há mais riqueza em ti para admirar
Queria não pertencer aqui
Mas aqui é meu lugar
Tudo em volta é maldade
Pobre criança que sou
De viver essa realidade
Onde foram parar suas flores, jardim?
Algo que já brilhou pode morrer assim?
Cruelmente, secamente, silencionsamente..
E a esperança que não tinha fim?
Não lamento de um sonho já morto, lamento do desejo da minha alma de querer voar cada vez mais alto em busca do paraíso de Deus, em busca do paraíso inexistente, e eu não puder ao menos realizar o sonho da minha alma que um dia sonhara ser a estrela de Deus, ser a estrela morta.
Ser o maior mulherengo ou pegador morto em um cemitério, não é o que mais importa para mim… Ir para a minha cama à noite pensando que eu estou fazendo alguma coisa grande para alguém que eu amo. Isso sim é o que mais importa para mim.
Não tenho mais vida. Não estou morto, de fato. Mas, como se vive sem vida? Como se morre sem morte? O que fazer agora?
Embora eu insista no erro, é difícil falar de vida quando se está morto por dentro. Insensível, indiferente. Sobreviver e viver são coisas absolutamente diferentes.
somente um ser morto é que se torna incapaz
pq enquanto houver vida, tudo é permissível
até realizar os sonhos mais impossíveis
Na verdade a impossibilidade é uma barreira.
mas com certeza,
barreiras foram feitas para serem quebradas
A linguagem é a criadora de todas as coisas. De um simples e morto grão de areia, ao mais vívido e complexo ser, nada existe sem a linguagem. Ela permite-nos a ciência de nós mesmos e de tudo mais.