Morte Irmão
Isso é parte do que eu gosto no livro, em alguns aspectos. Ele retrata a morte com sinceridade. Você morre no meio de sua vida, no meio de uma frase.
A morte apenas dilata as nossas concepções e nos aclara a introspecção, iluminado-nos o senso moral, sem resolver, de maneira absoluta, os problemas que o Universo nos propõe a cada passo, com os seus espetáculos de grandeza.
A morte não tem mais nada de assustador; não é mais a porta do nada, mas a da libertação, que abre para o exilado a entrada de uma morada de felicidade e de paz.
Habitua-te a pensar que a morte nada é para nós, visto que todo o mal e todo o bem se encontram na sensibilidade e a morte é a privação da sensibilidade.
As rosas brancas, agora manchadas de sangue, completando a bela imagem da morte em sua melhor face. O amor. Uma forma de morte. Uma forma de morrer. Uma forma de matar. Mata-se por tão pouco. Morre-se por tão pouco. Por que não por amor? As rosas apodreceram, o sangue secou. Talvez nada tenha restado ali, talvez não para olhos superficiais. Talvez aquele amor nem tivesse existido, talvez não tivesse tido tempo para isso. Mas eles tentaram. Tarde demais, mas tentaram. Como dizem? Nunca é tarde demais.
A morte não é para amadores. A morte não pede para você guardar os óculos antes de bater em sua cara. A morte não se intimida se é idoso ou uma criança. A morte é implacável e não espera que você prepare um discurso de adeus - os outros terão que se virar com as palavras ditas e as lembranças esparsas. A morte dói duas vezes: para quem parte sem saber e para quem fica sem compreender o sumiço. A morte desidrata a alma. A morte não lhe poupa das piores notícias, diz de uma vez, grosseira. A morte vai tirando quem você mais gosta de repente e deve se virar com o luto. A morte é a solidão da memória. A morte não respeita Dia dos Pais ou das Mães e leva o seu pai e sua mãe no meio da comemoração.
A morte não poupa sequer o aniversário de alguém. Não aguarda que soprem as velas, que vire o pêndulo da meia-noite, que se abram os presentes. Ela não ama ninguém para dar desconto, sobrevida, perdoar atrasos.
A morte tem inveja da vida. Parece que ela nos obriga a ser feliz sem pensar muito no futuro, sem se demorar para responder os afetos, sem adiar os sonhos. A morte grita em nossos ouvidos: faça agora antes que seja tarde.
Fabrício Carpinejar 🍃
Ser forte é sempre desejar vida sem temer a morte.
Querer o impossível e desafiar o imponderável.
É seguir firme querendo o inatingível.
E tornar o improvável, possível.
Assim salientou Epicuro de Samos:
...¨quando existimos, não existe a morte, e quando existe a morte, não existimos mais.¨
Logo, viver é morrer; morrer é viver.
Concluo: viver mata!