Morte de um Amigo

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A morte nunca se aprende, mas pode-se saber-se de cor. As guerras sabem-no. E as epidemias. E um simples agente funerário.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Pensar, Bertrand, 1992

A morte / conta-se / vivendo.

A velhice não se me afigura, de modo algum, (...) o melancólico vestíbulo da morte, mas antes como as verdadeiras férias grandes, depois do esgotamento dos sentidos, do coração e do espírito que foi a vida.

Aos generosos / a morte justa dispensa glórias.

A morte, que há-de vir para todos, chegará nobremente se dermos as nossas posses e a nossa vida para ajudar os homens a viverem.

Ao lado do homem vou crescendo

Defendo-me da morte quando dou
Meu corpo ao seu desejo violento
E lhe devoro o corpo lentamente

Mesa dos sonhos no meu corpo vivem
Todas as formas e começam
Todas as vidas

Ao lado do homem vou crescendo

E defendo-me da morte povoando
de novos sonhos a vida.

A cigarra canta
o anúncio de sua morte -
formigas na contra-dança.

O desprendimento de tudo nunca é tão completo que não sobreviva ainda um sonho à morte dos sonhos.

São incalculáveis os benefícios que provêm da noção de incerteza do dia e ano da nossa morte: esta incerteza corresponde a uma espécie de eternidade.

A morte que tira a importância a todos, confere-a a muito poucos.

O mundo floresce pela vida, e renova-se pela morte.

O covarde teme a morte, e isso é tudo o que teme.

A poesia é a impressão de estar sempre em contato com a morte.

A morte é a pessoa feminina de Deus.

Afasta esse medo pueril da morte. Sou eterna e invariável, como tu és mortal e te transformas. Sou a vida, e os teus tormentos e a tua existência não me dizem respeito.

A morte troça das palavras; a doença teme a palavra, mas a morte está-se nas tintas.

A tragédia da morte consiste em que ela transforma a vida em destino.

A melhor morte é aquela que nos agrada.

O uísque é o melhor amigo do homem: é um cachorro engarrafado.

Vinicius de Moraes
Vinicius sem ponto final

Depois, um amigo me chamou para ajudá-lo a cuidar da dor dele. Guardei a minha no bolso. E fui.

Caio Fernando Abreu
Pequenas epifanias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014.

Nota: Por vezes atribuído de forma errônea a Clarice Lispector.

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