Morte

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Estar sozinho é treinarmo-nos para a morte.

Louis Céline
Viagem ao Fim da Noite

No meio da vida acontece que a morte surge e mede o homem. A visita é esquecida e a vida continua. Mas o fato está feito, silenciosamente.

Sabe-se que enquanto vivemos estamos mais ou menos expostos à inveja, mas depois da nossa morte os nossos inimigos deixam de nos odiar.

A morte é o repouso, mas o pensamento da morte é o perturbador de todo o repouso.

A vida, para os desconfiados e os temerosos, não é vida, mas uma morte constante.

O avarento gasta mais no dia da sua morte do que gastou em dez anos de vida, e o seu herdeiro mais em dez meses do que ele na vida inteira.

O grande político conhece-se pelo fato de os seus pensamentos viverem depois da sua morte ou da sua derrota.

O temor da morte é a sentinela da vida.

A velhice poderia ser a suprema solidão, não fosse a morte uma solidão ainda maior.

A meu favor tenho o teu olhar
testemunhando por mim
perante juízes terríveis:
a morte, os amigos, os inimigos.

E aqueles que me assaltam
à noite na solidão do quarto
refugiam-se em fundos sítios dentro de mim
quando de manhã o teu olhar ilumina o quarto.

Protege-me com ele, com o teu olhar,
dos demónios da noite e das aflições do dia,
fala em voz alta, não deixes que adormeça,
afasta de mim o pecado da infelicidade.

Criar é matar a morte.

Condenados à morte, condenados à vida, eis duas certezas.

Tão bom morrer de amor! E continuar vivendo...

Mario Quintana
Baú dos espantos, Porto Alegre: Editora Globo.1986.p. 596 p. 87.

Nota: Trecho do poema Conversa Fiada, compilado na obra referida de Mário Quintana.

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O próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela.

Fernando Pessoa
Livro do Desassossego, por Bernardo Soares. São Paulo: Montecristo, 2012

Temos a arte para não morrer da verdade.

Friedrich Nietzsche
A Vontade de Poder. Rio de Janeiro: Contraponto, 2008.

A vida sem luta é um mar morto no centro do organismo universal.

Machado de Assis
Memórias póstumas de Brás Cubas (1881).

Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso

Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso...

Não é que eu tenha medo de morrer. É que eu não quero estar lá na hora que isso acontecer.

Está morto: podemos elogiá-lo à vontade.

Machado de Assis
Assis, M. Obra Completa de Machado de Assis. vol. II. Rio de Janeiro: Nova Aguilar 1994.

Nota: Conto "O Empréstimo."

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Temer o amor é temer a vida, e os que temem a vida já estão meio mortos.