Morrer
O CORVO
Vago por entre os túmulos que me fitam com seus olhos de mármore
Sentindo a chuva que perfura a carne e sangra a alma
Tornando o dia cinza
Reflito assim sobre a morte
Transformo todo vão pensamento ou cada tétrica palavra em sonetos sombrios
E as escrevo com imagens em minha mente
Os homens de outrora vagavam como sonâmbulos
Desprovidos da leveza do espírito
Reclamões, céticos e agnósticos.
Cuspindo discursos doentios nos ouvidos mecânicos da laica classe operária
Agora jazem em silêncio sepultados
Não mais desejam, não mais sussurram, não mais amam, não mais sangram
Silêncio
Consegue ouvir?
Um corvo me olha imóvel sobre as pedras
Olho para as lápides e procuro por homens
Não os vejo
Penso em mim quando eu já não mais existir
Outro alguém procurará por meus olhos?
Desejará ouvir minha voz procurando respostas?
E assim como eu agora só ouvirá uma resposta
Morreu...
As boas ações são o conforto para a morte
O maior dever do ser humano é ter algum papel em vida. Em um universo tão imenso, diante inúmeras vidas que por aqui circulam, precisamos fazer algo para mudar. Você não precisa ter sido o inventor da lâmpada, você não precisa ter feito uma obra-prima, você não precisa ter descoberto a cura da aids. Dê um bom dia para alguém, peça licença, ame e faça a diferença. Assim, sua morte não será despercebida, o mundo não seguirá da mesma forma após a sua morte. Nosso maior medo não é a forma que iremos morrer ou para onde iremos, nosso maior medo é que a nossa morte não seja lembrada por ninguém. Se nossa morte não for lembrada por ninguém, significara que nossa vida foi em vão, tudo aquilo que conquistamos e passamos, se resumiu a nada.
Comumente escuto/leio que envelhecer é o produto final do trato digestivo... Prefiro agradecer que (ainda) estou no mundo, seja lá quanto espaço tempo for.
De Tanto Amor
De quanto estou a te amar em sentido vão?
Do amor... que dele me valha a certeza
Que dele me traga sua plena beleza
Rica quimera para um infeliz coração.
De quantas esperas sofro eu de solidão?
Cortina que se fecha de grande tristeza
Luz que se apaga, por tamanha frieza
Traz vazio d’alma de dor em comoção.
Pela tua ausência, que me lide à vida:
Arrancam-me as encostas, sombras sem ti
Por vulto ébrio, que te solvo embebida.
Mas um dia, mesmo consumida e vencida,
De tanto amor, amar-te em vida... Só a ti
Hei de morrer, tendo-te além da partida.