Moradores de Rua
Talvez se eu não fosse tão exigente, querendo encontrar um amor assim, sem querer esbarrando na rua, derrubando seus papéis ao chão e a gente se abaixando juntos para junta-los, e pegar justamente o mesmo fazendo nossos olhares se cruzarem. É, talvez se eu não fosse tão exigente, querendo encontrar um amor na biblioteca, puxando por um lado da prateleira o mesmo livro que ela puxa do outro lado, fazendo nossos olhares se cruzarem em meio aos livros. Talvez, se eu prestasse mais atenção, teria visto que o roteiro foi escrito e a história aconteceu, juntando a gente na longa espera pelo elevador, e depois novamente, nos fazendo descer as escadas juntos. Talvez se eu tivesse ao menos perguntado o nome dela...
O Lado Verde da Vida.
Na medida em que andava pela rua, empurrado pelo vento, Leonardo tinha apenas imagens vultuosas da realidade. Pensamentos iam e vinham aleatoriamente, trazidos por uma mente incompreensível e apartada de qualquer esforço refletivo.
Subitamente, Léo tropeça em uma raiz externa de uma árvore, que passa então a ser alvo de seus pensamentos. Analisando-a, começa a se indagar do humor dela. Cores vivas, folhas verdes balançadas pelo vento, descaídas em um ritmo sereno de se ver, tudo em perfeita harmonia. Mas como pode um ser vivo ser tão autossuficiente assim? A não ser que algum mal elemento a pragueje ou a derrube, é impressionantemente curioso e invejável imaginar a solidão benéfica da árvore.
Não precisa matar para se manter viva. Não precisa de companhia para irradiar boas energias. Não precisa sair do seu lugar para renovar suas forças. Apenas precisa ser ela, ali, presa ao solo entre o qual se alongou durante os anos, firmando as raízes que a mantém ereta, viva, altiva. Não há qualquer ingratidão de sua parte, pois que jamais abandona a terra que lhe ergueu, salvo a remoção compulsória contra a qual não pode combater. Porque se pudesse, não tenha dúvidas, a árvore morreria, porém nunca abandonaria o solo natural ou supervenientemente infértil que um dia lhe contemplou com a vida e lhe fez companhia acima de qualquer problema ou diferença. Sofreria, morreria, mas jamais o deixaria.
De sobra, ainda ajuda outros seres vivos a sobreviver, oferecendo abrigo e refeição, assim mesmo, sem qualquer pretensão ou troco, apenas por ter uma bondade inerente a si mesma, que talvez nem ela se dê conta.
Inobstante, eventualmente seus conterrâneos interferem em sua vida. Daí para diante, a árvore torna-se apenas vítima dessas forças, que terminam por pôr termo à sua vivência sadia e benevolente, em razão de fins injustificadamente perseguidos. Mas quanto a isso, não precisa a árvore se preocupar, pois nada de errado fez, senão se manter inerte e continuar a ajudar a todos mesmo no momento mais difícil de sua trajetória.
Costas encostadas no tronco e por ele aquecidas, foi assim que Leonardo se viu consolado pela árvore. Ao levantar, agradeceu e concluiu que regeria seus passos tentando neles avivar a muda da planta que consigo nasceu sem ao menos saber. E dessa forma percebeu que cabe a cada um se dar conta da sua muda e a regar todos os dias. Ao final, partiremos deste lugar, mas deixaremos nossas árvores. E nesse mundo não se tem relato de uma partida digna sequer que não tenha deixado um pedaço do seu verdor.
Ela fica boladona quando eu saio de casa
É que quando eu tô na rua meu relógio atrasa
Uma dose de Whisky parece que dá asa
Vontade de ir pra casa parece que vaza
Era segunda - feira e ela fazia bico enquanto mexia a cadeira, ao atravessar a rua. Mexia tanto que parecia cobra a rastejar, era um rebolado que não deixava a desejar. No seu olhar algo que dizia "Como eu amo o fim do dia." Me deixou mesmo intrigado aquele rebolado e a cabeça que mexia para todos os lados. Ah sim agora tá explicado não era qualquer rebolado era de uma negra mulher que confiada andava sem olhar pro lado. Ao terminar sua travessia percebi que a mulher sorria como quem dizia "Como eu amo o fim do dia."
Da minha janela do último andar
eu via relâmpagos
raios caindo no mar
e crianças a brincar na rua
como se a vida fosse
correr atrás daquela bola;
Aviso: mudei de endereço!
Estou morando no Bairro da Esperança, na Rua da Fé... Minha nova casa é ensolarada e iluminada, nela habita Deus, o Altissimo, que guia meus passos, renova minhas forças, recarrega minhas baterias e nessa nova etapa da minha vida, Ele é a prioridade, porque todas as coisas são para Ele! Priscilla Rodighiero
Nenhum movimento
Eu não quero o meu nome
Em nenhuma rua,
Eu não quero ir a lua ou a marte,
Eu não quero ir a nenhuma parte,
Não quero fazer nenhuma revolução,
Não quero fazer parte
De nenhum movimento,
Não quero saber de sem terra,
Apartheid, klu, klux, klan...
Eu não quero saber de greve,
Da queda da bolsa, do islã,
Ou do afã de qualquer religião ou mito
Maomé já foi pra montanha,
Jesus Cristo mostrou seu amor
E os filhos de Gandhi não ficarão órfãos
John deu a chance que a paz pedia...
E eu só quero fazer poesia...
Tadeu Memória
Se eu te dissesse que você anda mais pela minha cabeça do que pela sua rua, você acreditaria?
Se eu te pedisse pra ficar um pouco mais, você iria?
Se eu despejasse minha bagagem em cima de você, meio que sem querer, você se disponibilizaria a me ajudar a arrumar tudo de novo?
Caso eu esqueça das coisas e fique louca, você me ajuda a lembrar de tudo e a entender melhor o mundo?
Sou uma pequena parte da complexidade do universo, e preciso que você me ajude.
Me ajude com o peso, me ajude com as palavras, com o fôlego. Você me ajuda?
Eu sou a parte que fica calma quando você chega.
Lenitivo, 22 de Abril de 2014
"Numa certa noite na rua um ladrão de fogo trocou olhares com uma virgem que por ali passava, ela correspondeu o olhar.Golpe de sorte pensou ele, mal sabia que aquela virgem com perfume de primavera iria rouba-lo também, mas da forma mais bela que ele ou qualquer outra pessoa poderia imaginar.Em um simples instante a seguir os lábios deles começaram a dançar, uma dança que só os corações conseguem ouvir.Parecia coisa de cinema.Marte e Vênus nunca se deram tão bem.
Ele então sorriu para ela, se aproximou de sua orelha, e sussurrou: Eis aqui diante de mim a mais bela poesia em forma de mulher.Eis aqui diante de ti um ladrão, de alma poeta, e a ti e somente a ti me rendo diante dos versos dos teus olhos."
(trecho de 'O Ladrão e a Virgem')
O Tênis Vermelho
Um garoto caminhava pela rua a caminho do colégio. Procurava obsessivamente muros onde pudesse se esconder e observar as pessoas que passavam. O motivo era a vergonha que então sentia pelo tênis que estava usando e que comprara com sua mãe havia dois dias.
A cor do calçado era vermelha e o menino se encantou logo que o viu pela primeira vez. A mãe elogiou e disse que o tênis ficava ainda mais bonito em seus pés...
O primeiro dia de uso foi na escola. Para a tristeza do garoto, o tênis não agradou aos colegas, que logo começaram a zorra. O menino escutou todos rirem dele calado, pois não encontrava força para reagir. Apenas uma frase ficou em sua mente, como um eco infinito:
- Você é mesmo muito esquisito!
Na volta para casa, as lágrimas eram maiores que seus passos. Quando a mãe soube do ocorrido, lamentou a tristeza do filho e teve que lidar com a situação de não poder fazer algo, afinal carecia de dinheiro e o tênis foi comprado depois de muita economia.
No dia seguinte, o menino não teve outra escolha a não ser ir ao colégio com o tênis vermelho, e foi daí que a história começou a ser contada. Entre um muro e outro, foi interrompido por um senhor sentado na calçada que tinha barba e cabelo bem grandes e brancos. O senhor perguntou o que se passava e o garoto desabafou. Comovido, o senhor se lembrou do seu passado, quando todos os colegas fizeram piada do boneco de pelúcia que ele carregava escondido dentro da mochila. Mas o que ninguém sabia era que o boneco era a única lembrança deixada por sua falecida mãe, que tanto fazia falta...
Na época, sua tristeza foi consolada por um morador de rua que ficava em frente ao colégio, dizendo que "o mal do homem é criticar aquilo que ele não sabe o motivo da existência". Por isso, o senhor se achou na obrigação de dizer algumas palavras ao menino, na condição de morador de rua que se encontrava. Então ele pensou por um instante e citou o pensamento oriundo de sua reflexão:
- Todos nós somos um pouco estranhos. A normalidade não existe, a não ser na mente iludida dos ignorantes. A vida é mais que os risos da crueldade, que os risos da escuridão. Esses foram os risos que você ouviu, risos sem luz; sem verdade. Pergunte a si mesmo: eu sou estranho ou os outros é que são normais demais?
O garoto pensou e em seguida respondeu com segurança:
- Os dois.
A resposta foi validada pelo senhor:
- Exatamente. Os outros são normais demais porque não se conhecem, porque preferem ser um padrão social. Já você é estranho porque eu também sou e porque todos somos, porém só alguns sabem e entendem esse segredo. Parabéns pela sua estranheza que te faz sábio!
O senhor então foi embora e levou junto a angústia do menino, que estranhou o sorriso que ficara em seu rosto...
Na rua quase deserta ouço gargalhadas, talvez vindas de festas, saltos batendo no asfalto duro de um dia que termina para uns e começa nos olhos do crepúsculo. São ruídos de quem nem sabe que eu existo.
E, então "moço"...
Um dia não muito distante,
te verei caminhando pela rua...
e vou dizer ao amor da minha vida: Olha, meu amor,
não faz muito tempo...
eu o confundi com você!!
..