Moradores de Rua
Menino de Rua - Escrito há mais de 30 anos.
(Rayme Soares)
De amor eu sou carente
Ando descalço e sem camisa
O meu futuro dizem ser delinquente
O meu dever amar a vida
O meu sorriso é momentâneo
O meu desprezo já lhe avisa
Que não sou nenhum simples estranho
Mas um moleque da avenida
Meu sonho mesmo é ser alguém
Que seja visto como gente
Não tenho nada e tenho o mundo
Pra aprender a me virar
Minha escola é a rua
Os "professores", quem não quer me ver
Pois sou um menino de rua
Mas posso até vir a crescer
FENÔMENO QUASE NATURAL
Vinham três homens pela rua.
- Olha! Uma estrela cadente!
- Não é estrela não!
- É sim!
- Não é não!
- E o que é então?
- Opa! O chão tá tremendo!
- Era uma estrela!
- Era um avião!
E o terceiro...
- Bobagem! Foi uma estrela que bateu no avião,
Que caiu no chão!
Iam três ébrios pela rua...
Pela calçada...
Pela rua...
Pela calçada...
Somos a história: poetas, meninos, meninas, contadores de HISTÓRIAS, fazedores da HISTÓRIA. Podem escrever: a poesia está solta, na rua, ninguém mais consegue prendê-la em pedestais, em estantes polidas, está na boca do povo!
Corredores já nascem amigos, só precisam de uma corrida juntos para se reconhecerem!
Sergio Fornasari
Quando os postes se apagam
É quando os vizinhos saem de suas casas
Perguntam uns para os outros quando a luz volta
E enchem a rua dela
Vou mijar no poste da rua e está tudo bem
jogar lixo no chão e andar totalmente nú
andar de terno na chuva, abrir meu escritória sem esperar por ninguém
Vou viver feliz na rua de Raul
na cidade de Raul
Na rua de Raul
na cidade do além
Comer lixo com sabor de ketchup
jogar meus livros na rua pro mendigo ler
rasgar dinheiro e falar pra alguém I love you
viver na rua esperando um dia morrer
Vou viver feliz na rua de Raul
na cidade de Raul
Na rua de Raul
na cidade sem você.
E vou vivendo pra ninguém me conhecer
sou louco nesta rua, sozinho,
sozinho com vontade de te ver
Vou viver feliz na rua de Raul
na cidade de Raul
Na rua de Raul
esta cidade é uma rua sem você.
Ouço o grito da rua rouca
o brilho da loucura
essa mente muito louca
é a felicidade da doçura
Vou viver feliz na rua de Raul
na cidade de Raul
Na rua de Raul
na cidade com esta rua, de loucura
só nesta rua se cura!
Aquela velha rua me trás saudades de velhos momentos que ali aconteciam.
Aquela velha rua, com a velha simpática, falastrona e cheia de boas histórias e estórias sentada à calçada.
Aquela velha rua, cheia de velhas casas com toda a simplicidade de um lar cuidado com carinho, onde o amor reinava.
Aquela velha rua, com os velhos de hoje, sendo crianças brincando com as velhas brincadeiras.
Aquela velha rua me faz querer trocar o novo pelo velho.
Trocar o atual pelo antigo.
Quem dera poder voltar ao velho tempo, naquela velha rua, com os velhos de lá, com as velhas brincadeiras e as velhas casas, mas com todos aqueles momentos que não ficam velhos em minha memória.
Sentados na calça, ainda meio terreiro, limpo e preparado para passar a noite ali. Uma roda ia se formando, velhos, crianças e cachorros.
De tudo se falava. Falava-se da filha da Maria que saiu de casa roubada pelo filho do Francisco. Comentava-se acerca do vestido da Joana, que não tinha necessidade de usar roupa nova antes da missa da quaresma. Os meninos ficavam a roubar pela rua, a roubar bandeira, brincadeira essa que fazia todos ficarem molhados de suor. Depois, sentavam-se todos aos pés das velhas senhores que contavam histórias assustadoras de seres encantados, assombrados e enfeitiçados. Até que se ficava tarde, já era hora de cada qual ir ao seu lugar. Nesse tempo, todos moravam perto. Não era preciso telefone para se comunicar. Se fosse necessário chamar alguém, bastava da porta gritar: “Fulano, é hora dormir”. A rua inteira ouvia, e prontamente o fulano corria para cama. Esse tempo era bom, era intenso e cheio de boa intenção. Tudo hoje mudou, queria eu poder voltar ao tempo que a rua era o lugar de reunião.
É fácil tirar uma pessoa da rua, difícil é tirar a rua dela, uma pessoa que dançava no mundo, quer dançar dentro da Igreja.
O amor não apresenta mais problemas que um veículo qualquer. Os problemas estão no motorista, nos passageiros e na rua.
Ah, se eu fosse um poeta!
Eu faria uma história de amor feliz.
Faria o sol se casar com a lua.
Faria uma esquina de flor
No meio da rua.
Faria o joão-de-barro construir uma casa
Só minha e sua.
Ah, se eu fosse um poeta!
Na rua todos loucos.Uma exibição espetacular de egos eivados do sentimento de que são únicos no mundo.
Entre tantas noites
Entre tantas danças
Um copo, gelo, álcool
Sorrisos, ousadia
Um salto alto
Um vestido que delineia
Suas curvas
Ruas, vento, lento
E lá está ela
Leve, pouco sóbria
De alegria ambiciosa
Encanta de longe
Conquista de perto
Entre poucas entregas
Seu Amor próprio
É sua festa
E ela se completa
Se embriaga em suas asas
Mais um gole
Mais um brinde
Cansada
Ressaca de tanto faz
Copo esvazia
Noite esfria
E ela amanhece
Em prece
Entre tantos dias
Entre tantas horas
Ela viaja, desarruma
Sua bagunça
Ela e sua calca rasgada
Remendada
Não se renda
Se ausenta
Ela e seus tantos planos
Caminhos
Na praia
Sempre um sorriso
Na volta pra casa
De saia curta
Longa, rodada
Vestidos
Sorrisos Largos
Ela se completa
Dignidade Humana
O contexto social de um morador de rua me causa tanto inconformismo que chego a sentir culpa por ter um teto para morar.