Monstro

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Quem luta com monstros deve velar por que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro. E se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti.

Friedrich Nietzsche
Além do bem e do mal. São Paulo: Companhia de Bolso, 2005.

Amo o público, mas não o admiro. Como indivíduos, sim. Mas, como multidão, não passa de um monstro sem cabeça.

Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

Augusto dos Anjos
ANJOS, A. Eu e Outras Poesias. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.

Eu era uma criança, esse monstro que os adultos fabricam com as suas mágoas.

Jean-Paul Sartre
SARTRE, J., As Palavras. 2.ed. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2005

O defeito é um monstro que não procria.

O casamento deve combater incessantemente um monstro que devora tudo: o hábito.

(...) esse monstro enorme a que se chama público, e que tem tantos ouvidos e tantas línguas, mas ao qual faltam os olhos.

Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você.

Friedrich Nietzsche
Além do bem e do mal. São Paulo: Companhia de Bolso, 2005.

Os ciumentos não precisam de motivo para ter ciúme. São ciumentos porque são. O ciúme é um monstro que a si mesmo se gera e de si mesmo nasce.

Sou um monstro predador. É isso quem eu sou.

O ciúme é um monstro que zomba da carne que consome.

Meu Senhor, livrai-me do ciúme! É um monstro de olhos verdes que escarnece do próprio pasto que o alimenta. Felizardo é o enganado que, cônscio, não ama a sua infiel! Mas que torturas infernais padece o homem que, amando, duvida, e, suspeitando, adora.

Quem já não se perguntou: sou um monstro ou isto é ser uma pessoa?

Clarice Lispector
A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

A multidão é um monstro sem cabeça.

O desejo transforma o ser de que nos aproximamos num monstro que não se parece com ele.

Não sou mais a mesma pessoa e certamente nunca mais serei tudo muda,nada fica,adquirimos novos costumes e ganhamos novos defeitos,as pessoas passam a te odiar mais do que admirar,passam a te julgar mais do que te ajudar,fazem de você ninguém mais esquecem que por você se tornaram alguém,não da pra desistir por algo que nunca se lutou,não da para lutar por algo que nunca existiu,as palavras fazem a diferença agir leva a concorrência,mais vivemos assim provocando ódio,amor,respeito,pena,as vezes temos fama de covarde as vezes de guerreiro o importante como eu ja disse não sou mais como antes e não serei minha tendência é piorar para uns e ser a melhor para outros...não faz diferença o que pensam de mim eu sou fabricação especial sou edição limitada...só quem entende compreende,só vai interpretar quem precisar...não é para o espertos nem para os inteligentes muito menos para o descontentes que se acham desprovidos de inteligencia é para aqueles que apreciam..

O ser humano tornou-se uma caricatura, um monstro; o simples fato de vê-lo já é algo repugnante, que se destaca até pelo branco de sua pele, não natural a ele, e pelas conseqüências repulsivas da sua alimentação à base de carne, que vai contra a natureza, bem como das bebidas alcoólicas, do tabaco, dos excessos e das doenças. Ele surge como uma mácula na natureza!

Ninguém escreve para si mesmo, a não ser um monstro de orgulho. A gente escreve pra ser amado, pra atrair, encantar, etc.

Mário de Andrade

Nota: Em carta a Manuel Bandeira

A Fome e o Amor

A um monstro

Fome! E, na ânsia voraz que, ávida, aumenta,
Receando outras mandíbulas a esbangem,
Os dentes antropófagos que rangem,
Antes da refeição sanguinolenta!

Amor! E a satiríasis sedenta,
Rugindo, enquanto as almas se confrangem,
Todas as danações sexuais que abrangem
A apolínica besta famulenta!

Ambos assim, tragando a ambiência vasta,
No desembestamento que os arrasta,
Superexcitadíssimos, os dois

Representam, no ardor dos seus assomos
A alegoria do que outrora fomos
E a imagem bronca do que inda hoje sois!

Augusto dos Anjos
ANJOS, A. Eu e Outras Poesias. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.

Quem já não se perguntou: sou um monstro ou isto é ser uma pessoa?
Quero antes afiançar que essa moça não se conhece senão através de ir vivendo à toa.

Clarice Lispector
A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.