Místico
O poder místico que está dentro de mim saúda o poder místico que há em você.
(Aline de Alencar Rosa)
o místico experimenta as delícias de Deus, quase sempre sem paladar. A graça aguça os recipientes dos seus sentidos elevando-os a profundidade de Deus. De outro modo, retira-lhe todo vigor e obscurece as faculdades a ponto do não–sentir. O não-sentir Deus é uma das formas mais profundas de estar com Ele, pois excede toda explicação.
Do místico não se espera coisa alguma. Dele exala apenas o vazio. Seu olhar é abismo e seu semblante nostalgia. É um pobre andarilho. Falta-lhe até mesmo a palavra. Não há o que aplaudir ou prestar-lhe homenagem, pois seu ser beira a inexistência.
O místico, enquanto caminha, seu próprio chão se abisma. Seus pequenos passos alargam-se em mistério. Ele não caminha, é o mistério que lhe atravessa. Ele caminha lentamente, pois já encontrou o que não encontrou e conhece o que desconhece.
O Místico é uma seta apontada para o vazio, uma flecha presa ao arco e cravada no exato ponto invisível.
O místico é alguém que em Deus procura Deus. É um lançado no abismo da fé e que se alegra na distância do divino e sente saudade quando perto. Um sinal de contradição para si mesmo, na clara evidência do divino. Em seu coração a intensa luz de Deus obscurece. O místico não interpreta Deus, contempla-o. Não o ver quando mira os olhos em sua face. Nele, tudo é distância e unidade. O paradoxo do místico diz da sua própria experiência de Deus. Ele é, por natureza, um sinal de contradição. Sua palavra e silêncio "é paradoxal", uma in-explicação do divino.
O místico é a harpa do Espírito. Do seu centro surge uma melodia que não vem dele mesmo, pois nele vibra o Eterno. Do místico não se espera coisa alguma, pois ele não tem coisa alguma a oferecer, Deus não é coisa- Nele se irradia o totalmente Outro.
Ela pra mim é a natureza mais
bela, uma montanha dourada
que sonho escalar, um planeta
místico que sonho explorar.
Jamais
Jamais pude resistir,
Ao teu encanto místico de sereia
Por isso tenho que insistir,
Em você circulando em minhas veias.
Interagir com toda a tua alma,
No silêncio frio dessa madrugada,
Decidir com tamanha calma,
Sem o medo de ser abandonada.
Meu coração flutua,
Na imensidão da vida,
A tua linda religião ele cultua,
Bálsamo que cura as minhas feridas,
Bálsamo chamado amor,
Remédio necessário em toda a sua essência,
Cura os malefícios de uma dor,
Dor causada por minha frágil inocência.
Inocência, displicência e carência,
Ingenuidade,lealdade e necessidade,
Ilusão e vãs aparências,
Não pode podar a liberdade.
Liberdade de poder escolher,
O melhor para o meu coração,
Sem o medo de se perder,
Nesse grande fogo da paixão.
Fogo que me consome por inteiro,
Que me aquece nas manhãs frias,
Fogo sedutor e parceiro,
Calor que contagia e anestesia.
Lourival Alves
A característica do espírito místico consiste na atribuição de um poder misterioso a seres ou forças superiores, concretizados sob a forma de ídolos, de fetiches, de palavras e de fórmulas.
O espírito místico está na base de todas as crenças religiosas e na maior parte das crenças políticas. Estas últimas desaparecem frequentemente se são desprovidas dos elementos místicos que são seus verdadeiros suportes.
Transplantada para sentimentos e impulsos passionais que ela orienta, a lógica mística dá sua força aos grandes movimentos populares. Pessoas muito pouco dispostas a se matar racionalmente, sacrificam facilmente sua vida por um ideal místico que se tornou seu objeto de adoração.
Sempre prontos a matar, para propagar sua crença, os místicos de todas as eras empregam o mesmo meio de persuasão assim que se tornam os senhores.
O místico despreza o conhecimento da verdade e acredita que tudo em sua volta é uma revelação sobrenatural onde anjos e sinais miraculosos devem confirmar se tal ação é divina ou não.
"Reflexões". Resende, 14 de Março de 2016.
Ela
Ela o amor
Elemento físico
Com ela a dor
Transcende o místico
Rasga o peito
Adicto de ti
Ver lá dentro
Arranca-te da li
Vida nova
Novo amor
Amarra incrustada
Nó de um sonhador
Não sou místico nem metafísico,
sou de barro, holístico como
Aristóteles, como o passarinho
de Manoel...
Acredito que com o feitiço
das palavras se cria
anjos e demônios
bênção e maldição.
O homem é místico por natureza. Em todas as culturas primitivas o homem sempre se voltou para algo que considerava um ser superior e que ele chamava de Deus e
de quem esperava receber favores ou evitar castigos.
Todo artista preza muito seu trabalho e procura protegê-lo. Também Deus, sendo o artista idealizador dessa obra chamada homem deve dispensar muito carinho à sua obra artística.
Misticismo é amizade
“O místico, isto é, o contemplativo, não apenas vê e toca o que é real, mas além da superfície de tudo o que existe, ele chega à comunhão com a Liberdade, que é a fonte de toda realidade. Esta Realidade, esta Liberdade, não é um conceito, não é uma coisa, não é um objeto, nem mesmo um objeto de conhecimento: é o Deus Vivo, o Santo, Aquele ao qual ousamos atribuir um Nome unicamente por que Ele nos revelou um Nome; mas Ele está acima de todo Nome.”
PAISAGEM
Havia um lindo lago do outro lado da cidade. Era um lugar iluminado e místico, quase irreal. As águas cristalinas espelhavam as árvores frondosas que cobriam todo o vale, que cercavam o lago e se dobravam acima de suas margens. O caminho de pedras era simétrico e desenhado, passo a passo que poderia ser percorrido, da casa de largas varandas e portas gigantes até os arbustos da montanha. A montanha era inebriante, verde como o alto mar, e nas noites de lua cheia exalava o olor das milhares de plantas medicinais e flores de todas as espécies.
Eu me sentava e podia então tocar o verde do capim mal cortado, as flores vermelhas que pareciam brilhar ao meio dia, a água morna do lago. Sentia o vento tocar minha face e correr entre todas as árvores do vale. Ele brincava, ia e voltava em um balé que fazia as folhas caídas ao chão dançarem e voarem derradeiras vezes. Pareciam ter vida.
Durante as noites meu olhar se fixava ainda mais àquela paisagem porque o sol nunca sumia atrás do vale, ele permanecia dia após dia e iluminava além do que poderia.
Muitas vezes eu chorava por não poder nadar no lago, por não ser permitido que eu pudesse cortar algumas flores para fazer um lindo arranjo, pela impossibilidade de atravessar o longo vale para ir até a floresta. Mas minha tristeza não durava muito. Ao ver as gaivotas sobrevoando a mata, bebendo da água pura e límpida meus olhos se abriam ainda mais e por mais que me fossem restritas algumas coisas, somente a presença daquele lugar me extasiava. Ao deitar continuava desejando olhar e ao acordar eu corria em direção à maravilhosa vista. Todos os dias.
Em um mundo de criança onde brinquedos e cantigas tomavam lugar entre os pequeninos, o meu mundo era observar e até mesmo sonhar com aquele maravilhoso lugar.
A porta do casarão permanecia fechada e poucos adultos pareciam morar lá. As janelas davam para uma pequena igreja, a qual eu não conhecia o interior. E nunca poderia conhecer.
Fazia minhas orações olhando para ela, mas não havia quem a freqüentasse, senão eu, ao longe. E por mais que eu esperasse o sino tocar, ele continuava em silêncio e nem mesmo o vento era capaz de movê-lo para uma melodia sequer.
Em uma noite, ao fazer minha última oração à porta da pequena igrejinha, olhei para o sol forte e vigoroso no horizonte e cheguei a toca-lo. Deitei-me na cama e enquanto o sono vinha a passos lentos o sol foi se apagando.
Na manhã, ao acordar, estava escuro, o vento entrava pela janela do meu quarto e o sol já não existia. Do céu escuro descia uma chuva forte e ameaçadora. Não conseguia ver o vale, nem o lago, todas as árvores e flores. As gaivotas, pensava eu, deveriam ter voado para longe e a igreja não estava ao lado do casarão. Aliás, não havia também o casarão e suas varandas espaçosas e o caminho de pedras que um dia eu me imaginei percorrendo-o. Tudo havia sido levado, sumido. Para terras distantes, talvez.
Desci as escadas de casa e avistei meu pai na pequena salinha, nos fundos de casa.
Ele já sabia porque eu estava chorando. Então, pegou cuidadosamente minhas pequenas mãos e me guiou até o meu quarto. Na parede rosa, pendurou novamente o quadro e disse:
- Você gosta tanto dele que resolvi termina-lo.
A paisagem havia milagrosamente voltado. Mas, naquele instante, entre o casarão, a igreja, o vale e as flores, no caminho até os arbustos do lago, caminhava uma menina, de vestidinho vermelho e sapatos de cadarço. Na maior árvore, às margens do lago, podia-se avistar um balanço, de cordas verdes, coberto de heras que davam flores rosas e amarelas. Com certeza aquela menina, todos os dias, pela eternidade de sua infância, seguiria o caminho de pedras e iria até o lago, sentar-se ao balanço e admirar as gaivotas brancas.
Ainda a vejo e às vezes chego a conversar com ela. É impressionante que sua felicidade e seus desejos atravessem barreiras materiais ou não e se façam presentes em mim. Ainda oro, algumas vezes me esquecendo da igreja, onde os sinos nunca tocaram. Ou tocaram, em algum momento de desatenção. Mas o sol continua brilhando, dias e noites. E daqui muitos e muitos anos ainda estará lá, iluminando o vale e o meu quarto.