Mini Textos de Ana Maria Braga

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Canto de regresso à pátria

Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo.

Oswald de Andrade
ANDRADE, O. Cadernos de Poesias do Aluno Oswald, Círculo do Livro, São Paulo

Fábula: A Raposa e a Cegonha

A Raposa convidou a Cegonha para jantar e lhe serviu sopa em um prato raso.

-Você não está gostando de minha sopa? - Perguntou, enquanto a cegonha bicava o líquido sem sucesso.

- Como posso gostar? - A Cegonha respondeu, vendo a Raposa lamber a sopa que lhe pareceu deliciosa.

Dias depois foi a vez da cegonha convidar a Raposa para comer na beira da Lagoa, serviu então a sopa num jarro largo embaixo e estreito em cima.

- Hummmm, deliciosa! - Exclamou a Cegonha, enfiando o comprido bico pelo gargalo - Você não acha?

A Raposa não achava nada nem podia achar, pois seu focinho não passava pelo gargalo estreito do jarro. Tentou mais uma ou duas vezes e se despediu de mau humor, achando que por algum motivo aquilo não era nada engraçado.

MORAL: às vezes recebemos na mesma moeda por tudo aquilo que fazemos.

Amor platônico

Amei, só eu aprendi a amar
Sofri, sofri como ninguém
Nos olhos eu carreguei um mar

Covarde assim me mantive
Com medo de me aproximar
Só te ver de longe era difícil
Te ver e não poder te tocar

E em meio à ilusão e o amor
O silêncio me fez naufragar
Esperei o que não aconteceu
Nosso olhar uma vez se cruzar

E talvez por não acontecer
Você não pôde me amar
Só eu te amei!

Lado Londres

Não importa a quebrada que você mora!
O que importa...
É o orgulho que você tem da sua quebrada!
Porque em todas, você vai ter que saber entrar
Estar e sair.
Não é o lugar que faz você,
E sim você que faz o lugar!
Mas acredite,
Em todo lugar, têm pessoas boas e más.
Pessoas bem-intencionadas,
Ou mal-intencionadas demais!
E por aqui não é diferente.
Aqui também existem os contrários
Os avessos, os contrastes,
Os universos que se misturam e os sonhos de cada um!
Aqui tem gente que sonha e realiza
Que luta, vence e concretiza.
E os que atrasam um lado...
Nem vou comentar!
A explosão demográfica,
Também chegou com o progresso
E a quebrada tornou-se maior
Com mais becos, vielas, favelas
Barracos, ruas de terras.
E muita coisa pra melhorar!
Aumentaram as amizades
E as tretas também
Periferia é assim!
Não é a sua roupa que te define
Porque se assim o fosse
Não teríamos tantos ladrões no Congresso Nacional!
Mas o que te define realmente,
É o seu caráter e postura!
Qualidades escassas há um bom tempo em Brasília!
Mas o que falta lá
Por aqui temos de sobra,
Que até transborda!
Aqui não tem holofotes,
Mas quando aparece um é para filmar mais um corpo no chão!
Mas aqui é Lado Leste,
Lodo Londres se preferir.
Sem glamour, pontos turísticos,
Sem atrações ou paisagens belas
E também sem cartões-postais
Mas é a nossa quebrada
Um salve a todas elas!

E o que me mata é olhar no fundo dos seus olhos e ver neles o mesmo brilho, a mesma leveza, e sentir o seu sorriso me dizendo, entrelinhas, pra esperar, que a nossa história louca e mal escrita não acabou.
É o que me mata e me dá vida. E a ternura que eu sinto a cada vez que você me olha e sorri, o seu carinho, a importância que eu tenho na sua vida, esse sentimento maluco que você tem por mim e não sabe nem o que é, isso tudo se confunde com o amor que eu preciso tanto que você sinta. Mas eu sei, eu sei que não é amor. E você também sabe. Talvez seja por isso que você me mantém sempre por perto, porque você precisa do meu carinho pra alimentar o seu vazio e te trazer paz por algum tempo, mas não me mantém do seu lado, porque pra caminhar junto é preciso amor demais. E é nessa que a gente vai seguindo. E mesmo distante você precisa sentir que eu estou por perto e te acompanho de longe, que eu ainda te espero, porque você se sente seguro, porque você sabe que eu vou estar lá quando você cair, com o meu carinho e a minha paz.

Carnaval

Sei que lutei contra o que sentia, sempre macho, sempre no controle, mas seu jeito meigo me pegou, não posso mais viver longe do seu sorriso, da sua voz, da paixão arrebatadora que emana do seu ser; o baile está triste com você longe de mim; então levanto minha bandeira, que já foi branca e agora está amarelada pelas lágrimas de saudade que chorei, não posso mais, vou gritar bem alto, mais alto que as marchinhas que estão tocando: “Volta pra mim, meu amor”!

Os Três Mal-Amados

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

João Cabral de Melo Neto
João Cabral de Melo Neto - Obra Completa

Tecendo a manhã

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

João Cabral de Melo Neto
Poesia completa. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2020.

SONETO DE CONTRIÇÃO

Eu te amo, Maria, eu te amo tanto
Que o meu peito me dói como em doença
E quanto mais me seja a dor intensa
Mais cresce na minha alma teu encanto.

Como a criança que vagueia o canto
Ante o mistério da amplidão suspensa
Meu coração é um vago de acalanto
Berçando versos de saudade imensa.

Não é maior o coração que a alma
Nem melhor a presença que a saudade
Só te amar é divino, e sentir calma...

E é uma calma tão feita de humildade
Que tão mais te soubesse pertencida
Menos seria eterno em tua vida.

Vinicius de Moraes
MORAES, V. de. Poesia completa e prosa. Editora Nova Aguilar: Rio de Janeiro. 1998. p. 254

Acho maravilhoso perceber o quanto algumas vidas interagem com a nossa de um jeito tão mágico e bonito (...). Todo encontro que verdadeiramente nos toca é uma espécie de milagre num mundo de bilhões de seres humanos. Algumas pessoas a gente nem imaginava que existiam, mas, meu Deus, que agrado bom é para a alma descobrir que vivem. Que estão por aqui conosco. Pessoas que fazem muita diferença na nossa jornada, com as quais trocamos figurinhas raras para o nosso álbum.

Desejo que tudo o que mais lhe importa floresça. Que cada florescimento seja tão risonho e amoroso que atraia os pássaros com o seu canto, as borboletas com as suas cores, o toque do sol com seu calor mais terno, e a chuva que derrama de nuvens infladas de paz. Desejo que, mais vezes, além de molhar só os pés, você possa entrar na praia da poesia da vida com o coração inteiro e brincar com a ideia que cada onda diz.

Tem gente que entra na nossa vida de forma providencial e se encaixa naquela história que gosto de imaginar: surpresas que Deus embrulha para presente e nos envia no anonimato. Surpresas que só sabemos de onde vêm porque chegam com o cheiro dele no papel. Acho maravilhoso perceber o quanto algumas vidas interagem com a nossa de um jeito tão mágico e bonito. Os milagres existem para quem tem olhos que sabem ver a sabedoria e a ludicidade amorosa, próprias do que é divino, do que transcende. Do que escapole da nossa lógica tantas vezes sem coração. Todo encontro que verdadeiramente nos toca é uma espécie de milagre num mundo de bilhões de seres humanos. Algumas pessoas a gente nem imaginava existirem, mas, meu Deus, que agrado bom é para a alma descobrir que vivem. Que estão por aqui conosco. Pessoas que fazem muita diferença na nossa jornada, com as quais trocamos figurinhas raras para o nosso álbum.

Tomara que a gente não desista de ser quem é por nada nem ninguém deste mundo. Que a gente reconheça o poder do outro sem esquecer do nosso. Que as mentiras alheias não confundam as nossas verdades, mesmo que as mentiras e as verdades sejam impermanentes. Que friagem nenhuma seja capaz de encabular o nosso calor mais bonito. Que, mesmo quando estivermos doendo, não percamos de vista nem de sonho a ideia da alegria. Tomara que apesar dos apesares todos, a gente continue tendo valentia suficiente para não abrir mão de se sentir feliz. As coisas vão dar certo. Vai ter amor, vai ter fé, vai ter paz – se não tiver, a gente inventa.

Ana Jácomo

Nota: Trecho adaptado do texto "Tomara", muitas vezes erroneamente atribuído a Caio Fernando Abreu.

...Mais

Desejo que encontre maneiras para se fazer feliz no intervalo entre o instante em que cada dia acorda e o instante em que ele se deita pra dormir, porque a verdade é que a gente não sabe se tem outro dia. Que quanto mais passar a sua alma a limpo, mais descubra, mais desnude, mais partilhe, com medo cada vez menor, a beleza que desde sempre você é.

Desejo que tudo o que mais lhe importa floresça. Que cada florescimento seja tão risonho e amoroso que atraia os pássaros com o seu canto, as borboletas com as suas cores, o toque do sol com seu calor mais terno, e a chuva que derrama de nuvens infladas de paz. Desejo que a sua vida inteira seja abençoada, cada pequenino trecho dela, em toda a sua extensão.

ANJO AMIGA ANA MARIA...,EU TE AMO E AGRADEÇO A DEUS TEU CORAÇÃO DE AMOR .

MONALIZA ═PAZ AMOR

"ORGULHO-ME DE TER ESCUPIDO O AMOR E O VALOR DO AMOR NO "SER" DO EXISTIR O AMOR NO MEU CORAÇÃO!...-PORQUE ME SERVE PARA SER MELHOR NO "TER" QUE ME APERFEIÇOAR MAIS...E MAIS???
(CÉU-DEUS) NO MEIO PELA QUAL DEVO
"SER" PARA TER O FIM DO MEU "SER-ETERNO" E O QUE FAÇO POR AMOR PARA CHEGAR A FORÇA DA SUPERAÇÃO DA VIDA ALÉM DAS ESTRELAS." ANG.EL.A

"Enquanto houver um louco, um poeta e um amante..
Haverá sonho, amor e fantasia.
E enquanto houver sonho, amor e fantasia
haverá esperança.
Nada virá do nada!"

(Shakespeare]
AMOR...- HOJE DEDICO AO CORAÇÃO...AMOR E MUITA PAZ.
_____AmorA
Quem se apaixona por si mesmo não tem rivais..-DEUS nos envolve com paz!

Mariana

Filha de Maria
Cheia de graça como Ana.
O que fala dessa pessoa que acredita que tudo pode pode realizar.
Apaixonada pela vida.
Se apega rápido como desapega.
Sempre alegre.
Nunca negativa.
Tudo vivido na intensidade certa.
Ama viver não importa a situação.
Mari,mari mari,maricota ou Mariazinha.
Prefere ir a luta.
Nunca desiste fácil.
Ama conversa como ela tivesse um dicionario.
Sempre pronta para viver diversas situações.
Companheira.
Focada para vencer
Ela encanta por onde passa.
Essa é um pouco da Mariana...

Minha vida não é essa hora abrupta
Em que me vês precipitado.
Sou uma árvore ante meu cenário;
Não sou senão uma de minhas bocas:
Essa, dentre tantas, que será a primeira a fechar-se.

Sou o intervalo entre as duas notas
Que a muito custo se afinam,
Porque a da morte quer ser mais alta…

Mas ambas, vibrando na obscura pausa,
Reconciliaram-se.
E é lindo o cântico.

\\\\
As folhas caem como se do alto
caíssem, murchas, dos jardins do céu;
caem com gestos de quem renuncia.

E a terra, só, na noite de cobalto,
cai de entre os astros na amplidão vazia.

Caimos todos nós. Cai esta mão.
Olha em redor: cair é a lei geral.

E a terna mão de Alguém colhe, afinal,
todas as coisas que caindo vão.

O Anjo
Com um mover da fronte ele descarta
tudo o que obriga, tudo o que coarta,
pois em seu coração, quando ela o adentra,
a eterna Vinda os círculos concentra.

O céu com muitas formas Ihe aparece
e cada qual demanda: vem, conhece -.
Não dês às suas mãos ligeiras nem
um só fardo; pois ele, à noite, vem

à tua casa conferir teu peso,
cheio de ira, e com a mão mais dura,
como se fosses sua criatura,
te arranca do teu molde com desprezo.

(Tradução: Augusto de Campos)

A Gazela

Mágico ser: onde encontrar quem colha
duas palavras numa rima igual
a essa que pulsa em ti como um sinal?
De tua fronte se erguem lira e folha

e tudo o que és se move em similar
canto de amor cujas palavras, quais
pétalas, vão caindo sobre o olhar
de quem fechou os olhos, sem ler mais,

para te ver: no alerta dos sentidos,
em cada perna os saltos reprimidos
sem disparar, enquanto só a fronte

a prumo, prestes, pára: assim, na fonte,
a banhista que um frêmito assustasse:
a chispa de água no voltear da face.