Milan Kundera

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Milan Kundera (1929-2023) foi um escritor tcheco, naturalizado francês, autor da consagrada obra “A insustentável leveza do ser”. Morreu em 11 julho de 2023, em Paris, aos 94 anos.

Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida?

Milan Kundera
A insustentável leveza do ser. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.

Mesmo nossa própria dor não é tão pesada quanto a dor cossentida com outro, por outro, no lugar de outro, multiplicada pela imaginação, prolongada por centenas de ecos.

Milan Kundera
A insustentável leveza do ser. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.

A armadilha do ódio é que ele nos prende muito intimamente ao adversário.

Milan Kundera
A imortalidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

As metáforas são uma coisa perigosa. Não se brinca com as metáforas. O amor pode nascer de uma simples metáfora.

Milan Kundera
A insustentável leveza do ser. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.

Longe de serem mais sensatos depois de mortos, os habitantes do cemitério eram ainda mais extravagantes do que em vida.

O que se abatera sobre ela não era um fardo, mas a insustentável leveza do ser.

Milan Kundera
A insustentável leveza do ser. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.

Seu drama não era o drama do peso, mas da leveza. O que se abatera sobre ela não era um fardo, mas a insustentável leveza do ser.

Milan Kundera
A insustentável leveza do ser. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.

Já havia compreendido que as pessoas se alegravam demais com a humilhação moral alheia para deixar esse prazer ser estragado por uma explicação.

Milan Kundera
A insustentável leveza do ser. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.

A primeira traição é irreparável. Provoca, numa reação em cadeia, outras traições, cada uma das quais nos distancia mais e mais do motivo da traição inicial.

Milan Kundera
A insustentável leveza do ser. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.

Quando o coração fala, não é conveniente que a razão faça objeções.

Milan Kundera
A insustentável leveza do ser. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.

Não existe nada mais pesado que a compaixão. Mesmo nossa própria dor não é tão pesada quanto a dor cossentida com outro, por outro, no lugar de outro, multiplicada pela imaginação, prolongada por centenas de ecos.

Milan Kundera
A insustentável leveza do ser. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.

A palavra grega para "retorno" é "nostos". "Algos" significa "sofrimento". A nostalgia é, portanto, o sofrimento causado pelo desejo irrealizado de retornar.

A luta do homem contra o poder é a luta da memória contra o esquecimento.

Milan Kundera
O livro do riso e do esquecimento. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

Depois que o homem conseguiu nomear todas as partes do corpo, o corpo o inquieta menos. Atualmente, cada um de nós sabe que a alma nada mais é que a atividade da matéria cinzenta do cérebro. A dualidade entre a alma e o corpo foi dissimulada por termos científicos e, hoje, não passa de um preconceito fora de moda que só nos faz rir.
Mas basta amar loucamente e ouvir o ruído dos intestinos para que a unidade da alma e do corpo, ilusão lírica da era científica, imediatamente se dissipe.

Milan Kundera
A insustentável leveza do ser. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.

“Tenho medo de sentir vergonha.”
“De quem? Você tem uma opinião tão elevada assim das pessoas que o cercam para se importar com o que pensam?”

Milan Kundera
A insustentável leveza do ser. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.

A Verdadeira Beleza de uma Mulher - Uma roupa desacertada, uns dentes ligeiramente tortos, uma mediocridade requintada da alma – estes são os tipos de detalhes que fazem uma mulher real, viva. As mulheres que vemos nos cartazes ou em revistas de moda – aquelas que todas as mulheres tentam imitar hoje em dia – como é que podem ser atraentes? Elas não têm realidade própria; são apenas a soma de um conjunto de regras abstractas. Elas não nascem de corpos humanos; elas nascem prontas a servir a partir de computadores.

As pessoas estão sempre gritando que querem criar um futuro melhor. Não é verdade. O futuro é um vazio apático que não interessa a ninguém. O passado está cheio de vida, ansioso para nos irritar, provocar e insultar, nos tentando a destruí-lo ou a repintá-lo. A única razão pela qual as pessoas querem ser donas do futuro é para mudar o passado.

Mas quem era eu de fato? Sou obrigado a repetir: eu era aquele que tinha muitas caras.
Durante as reuniões, era sério, entusiasta e convicto; desenvolto e brincalhão em companhia dos colegas; elaboradamente cínico e sofisticado com Marqueta; e, quando estava só (quando pensava em Marqueta), era humilde e encabulado como um colegial.
Essa última cara seria a verdadeira?
Não. Todas eram verdadeiras: eu não tinha, a exemplo dos hipócritas, uma cara autêntica e outras falsas. Tinha muitas caras porque era moço e porque não sabia eu mesmo quem era e quem queria ser.

Milan Kundera
A Brincadeira

Só é grave aquilo que é necessário, só tem valor aquilo que pesa.

Milan Kundera
A insustentável leveza do ser. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.

O eterno retorno é uma ideia misteriosa e, com elas, Nietzsche pôs muitos filósofos em dificuldades: pensar que um dia tudo vai se repetir como foi vivido e que tal repetição ainda vai se repetir indefinidamente! O que significa esse mito insensato?
O mito do eterno retorno afirma, por negação, que a vida que desaparece de uma vez por todas, que não volta mais, é semelhante a uma sombra, não tem peso, está morta por antecipação, e por mais atroz, mais bela, mais esplêndida que seja, essa atrocidade, essa beleza, esse esplendor não têm o menor sentido. Essa vida é tão importante quanto uma entre dois reinos africanos do século XIV, que não alterou em nada a face do mundo, embora trezentos mil negros tenham encontrado nela a morte depois de suplícios indescritíveis.
Será que essa guerra entre dois reinos africanos do século XIV se modifica pelo fato de se repetir um número incalculável de vezes no eterno retorno?
Sim: ela se tornará um bloco que se forma e perdura, e sua brutalidade não terá remissão.
Se a Revolução Francesa devesse se repetir eternamente, a historiografia francesa se mostraria menos orgulhosa de Robespierre. Mas como ele trata de algo que não voltará, os anos sangrentos não passam de palavras, teorias, discussões, são mais leves que uma pluma, já não provocam medo. Existe uma diferença infinita entre um Robespierre que apareceu uma só vez na história e um Robespierre que voltaria eternamente para cortar a cabeça dos franceses.
Digamos, portanto, que a ideia do eterno retorno designa uma perspectiva em que as coisas não parecem ser como nós as conhecemos: elas aparecem para nós sem a circunstância atenuante de sua fugacidade. Com efeito, essa circunstância atenuante nos impede de pronunciar qualquer veredicto. Como condenar o que é efêmero? As nuvens alaranjadas do crepúsculo douram todas as coisas com o encanto da nostalgia: até mesmo a guilhotina.
Não faz muito tempo, surpreendi-me experimentando uma sensação incrível: folheando um livro sobre Hitler, fiquei emocionado com algumas fotos dele; lembravam-me o tempo de minha infância; eu a vivi durante a guerra; diversos membros da minha família foram mortos nos campos de concentração nazistas; mas o que era a sua morte diante dessa fotografia Hitler que me lembrava um tempo passado da minha vida, um tempo que não voltaria mais?
Essa reconciliação com Hitler trai a profunda perversão, moral inerente a um mundo fundado essencialmente sobre a inexistência do retorno, pois nesse mundo tudo é perdoado por antecipação e tudo é, portanto, cinicamente permitido.

(A Insustentável Leveza do Ser)