Frases de Mia Couto

Cerca de 138 frases de Mia Couto

"Os outros passam a escrita a limpo,
Eu passo a escrita a sujo.
Como os rios que se lavam em encardidas águas.
Os outros tem caligrafia, eu tenho sotaque.
O sotaque da terra."

(Em "O outro pé da sereia". Lisboa: Editorial Caminho, 2006. Fonte: elfikurten.com.br)

História de um homem é sempre mal contada. Porque a pessoa é, tem todo o tempo, ainda nascente. Ninguém segue uma única vida, todos se multiplicam em diversos e transmutáveis homens.

Só um mundo novo nós queremos: o que tenha tudo de novo e nada de mundo.

"Lembrou as palavras da sua mãe: mulher preta livre é a que sabe o que fazer com o seu próprio cabelo".
(Em "O Perfume" - Do livro "Estórias Abensonhadas)

O mar foi ontem
o que o idioma pode ser hoje,
basta vencer alguns Adamastores.

Cada homem é uma raça.

Poema Mestiço

escrevo mediterrâneo
na serena voz do Índico

sangro norte
em coração do sul

na praia do oriente
sou areia náufraga
de nenhum mundo

hei-de
começar mais tarde

por ora
sou a pegada
do passo por acontecer...

O que mais dói na miséria é a
ignorância que ela tem de si mesma.
Confrontados com a ausência de tudo,
os homens abstém-se do sonho,
desarmando-se do desejo de serem outros.
(Em Vozes Anoitecidas)

Mia Couto

Nota: Mia Couto em Vozes Anoitecidas

A razão dos nossos actuais e futuros fracassos mora também dentro de nós.

⁠Em tempos de terror, escolhemos monstros para nos proteger.

"A minha pátria é outra e ela está ainda por nascer."
(in " Mulheres de Cinza " pág .36)

O que dói na morte é a falsidade. A morte apenas existe por uma brevíssima troca de ausências.

" Na veia rasgada se confirma: nenhuma vida é alheia. E todo o sangue é sempre nosso".
(Vagas e Lumes)

"Andemos, meu amor, de coração descalço sobre o sol". (in 'Raiz de Orvalho)

" As pálpebras limpam os olhos das poeiras. Que pálpebras limpam as poeiras do coração?
(In " Na berma de nenhuma estrada " - página 175)

Entrego-te os meus pulsos
para que me leves
mesmo que eu seja
apenas um esquecimento teu.

Só me pertence o que não abraço.
Eis como eterno me condeno:
Amo o que não tem despedida.

“Fazer da palavra um embalo
é o mais puro e apurado
senso da poesia”.

(trecho em "Idades cidades divindades". Lisboa: Editorial Caminho, 2007.)

BIOFAGIA

É vitalício: comer a Vida
deitando-a entontecida
sobre o linho do idioma.

Nesse leito transverso
dispo-a com um só verso.

Até chegar ao fim da voz.

Até ser um corpo sem foz.

"Agora sou velha ,magra e escura como a noite...Escuro que não vem da raça, mas da tristeza. Mas tudo isso que importa, cada qual tem tristezas que são maiores que a humanidade”.

(in "A Varanda do Frangipani “