Frases de Mia Couto

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"A minha pátria é outra e ela está ainda por nascer."
(in " Mulheres de Cinza " pág .36)

"Os outros passam a escrita a limpo,
Eu passo a escrita a sujo.
Como os rios que se lavam em encardidas águas.
Os outros tem caligrafia, eu tenho sotaque.
O sotaque da terra."

(Em "O outro pé da sereia". Lisboa: Editorial Caminho, 2006. Fonte: elfikurten.com.br)

História de um homem é sempre mal contada. Porque a pessoa é, tem todo o tempo, ainda nascente. Ninguém segue uma única vida, todos se multiplicam em diversos e transmutáveis homens.

Só um mundo novo nós queremos: o que tenha tudo de novo e nada de mundo.

Cada homem é uma raça.

A razão dos nossos actuais e futuros fracassos mora também dentro de nós.

O que mais dói na miséria é a
ignorância que ela tem de si mesma.
Confrontados com a ausência de tudo,
os homens abstém-se do sonho,
desarmando-se do desejo de serem outros.
(Em Vozes Anoitecidas)

Mia Couto

Nota: Mia Couto em Vozes Anoitecidas

⁠Em tempos de terror, escolhemos monstros para nos proteger.

O mar foi ontem
o que o idioma pode ser hoje,
basta vencer alguns Adamastores.

Poema Mestiço

escrevo mediterrâneo
na serena voz do Índico

sangro norte
em coração do sul

na praia do oriente
sou areia náufraga
de nenhum mundo

hei-de
começar mais tarde

por ora
sou a pegada
do passo por acontecer...

"Lembrou as palavras da sua mãe: mulher preta livre é a que sabe o que fazer com o seu próprio cabelo".
(Em "O Perfume" - Do livro "Estórias Abensonhadas)

“Fazer da palavra um embalo
é o mais puro e apurado
senso da poesia”.

(trecho em "Idades cidades divindades". Lisboa: Editorial Caminho, 2007.)

BIOFAGIA

É vitalício: comer a Vida
deitando-a entontecida
sobre o linho do idioma.

Nesse leito transverso
dispo-a com um só verso.

Até chegar ao fim da voz.

Até ser um corpo sem foz.

" Na veia rasgada se confirma: nenhuma vida é alheia. E todo o sangue é sempre nosso".
(Vagas e Lumes)

Só me pertence o que não abraço.
Eis como eterno me condeno:
Amo o que não tem despedida.

O que dói na morte é a falsidade. A morte apenas existe por uma brevíssima troca de ausências.

"Andemos, meu amor, de coração descalço sobre o sol". (in 'Raiz de Orvalho)

" As pálpebras limpam os olhos das poeiras. Que pálpebras limpam as poeiras do coração?
(In " Na berma de nenhuma estrada " - página 175)

Entrego-te os meus pulsos
para que me leves
mesmo que eu seja
apenas um esquecimento teu.

A infância não é um tempo, não é uma idade, uma coleção de memórias. A infância é quando ainda não é demasiado tarde. É quando estamos disponíveis para nos surpreendermos, para nos deixarmos encantar. A infância é uma janela que, fechada ou aberta, permanece viva dentro de nós.

Mia Couto
Tradutor de chuvas. Portugal: Ed Caminho, 2015.