Mentiras

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O verdadeiro tesouro do homem é a verde mocidade. Os anos que nos restam são apenas invernos.

Uma boa frase cria a sua verdade. É por isso que os políticos escolhem meticulosamente os seus slogans para criarem a deles.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Pensar, Bertrand, 1992

A verdade «sou eu». Quando o outro disse «o Estado sou eu», disse a mesma coisa. Só que meteu a polícia para não haver dúvidas e outros a dizê-lo também.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Pensar, Bertrand, 1992

A fé é um condão. Mas o bom trabalho, no amor do ideal, dá a fé. Não há trabalho no sentido verdadeiro sem fé.

A verdade és tu. O que mais que se segue já não interessa à conversa. Excepto para demonstrares essa verdade, em movimento de recuo.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Pensar, Bertrand, 1992

Uma religião é tão verdadeira quanto outra.

O verdadeiro pode por vezes não ser verosímil.

Nicolas Boileau
BOILEAU, N., Epístolas

Muitas vezes, o inacreditável vale para a multidão / mais do que o verdadeiro, e é mais acreditável.

As verdades mais triviais parecem novas quando se enunciam por um modo mais elegante e desusado.

As verdades consoladoras devem ser demonstradas duas vezes.

Vivemos uma vida, sonhamos com outra, mas a verdadeira é a que sonhamos.

O erro é a regra: a verdade é o acidente do erro.

Não há ordem verdadeira sem a justiça.

O casamento, se queres saber a verdade, / é um mal, mas um mal necessário.

A verdade primeiro ama-se, depois demonstra-se.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Escrever, Bertrand, 2001

A estreita ligação do erro com a verdade nasce do fato de um erro simples e consumado ser inconcebível e, por ser inconcebível, não existir. O erro fala com duas vozes, uma delas afirma o falso, mas a outra desmente-o.

Olhando bem
O cafezal, na verdade,
São laranjeirinhas...

Se é verdade que as conjurações são, por vezes, montadas por pessoas de espírito, são, contudo, executadas por animais ferozes.

Toda verdade inédita começa como heresia e acaba como ortodoxia.

A Alegria na Tristeza

O título desse texto na verdade não é meu, e sim de um poema do uruguaio Mario Benedetti. No original, chama-se "Alegría de la tristeza" e está no livro "La vida ese paréntesis" que, até onde sei, permanece inédito no Brasil.

O poema diz que a gente pode entristecer-se por vários motivos ou por nenhum motivo aparente, a tristeza pode ser por nós mesmos ou pelas dores do mundo, pode advir de uma palavra ou de um gesto, mas que ela sempre aparece e devemos nos aprontar para recebê-la, porque existe uma alegria inesperada na tristeza, que vem do fato de ainda conseguirmos senti-la.

Pode parecer confuso mas é um alento. Olhe para o lado: estamos vivendo numa era em que pessoas matam em briga de trânsito, matam por um boné, matam para se divertir. Além disso, as pessoas estão sem dinheiro. Quem tem emprego, segura. Quem não tem, procura. Os que possuem um amor desconfiam até da própria sombra, já que há muita oferta de sexo no mercado. E a gente corre pra caramba, é escravo do relógio, não consegue mais ficar deitado numa rede, lendo um livro, ouvindo música. Há tanta coisa pra fazer que resta pouco tempo pra sentir.

Por isso, qualquer sentimento é bem-vindo, mesmo que não seja uma euforia, um gozo, um entusiasmo, mesmo que seja uma melancolia. Sentir é um verbo que se conjuga para dentro, ao contrário do fazer, que é conjugado pra fora.

Sentir alimenta, sentir ensina, sentir aquieta. Fazer é muito barulhento.

Sentir é um retiro, fazer é uma festa. O sentir não pode ser escutado, apenas auscultado. Sentir e fazer, ambos são necessários, mas só o fazer rende grana, contatos, diplomas, convites, aquisições. Até parece que sentir não serve para subir na vida.

Uma pessoa triste é evitada. Não cabe no mundo da propaganda dos cremes dentais, dos pagodes, dos carnavais. Tristeza parece praga, lepra, doença contagiosa, um estacionamento proibido. Ok, tristeza não faz realmente bem pra saúde, mas a introspecção é um recuo providencial, pois é quando silenciamos que melhor conversamos com nossos botões. E dessa conversa sai luz, lições, sinais, e a tristeza acaba saindo também, dando espaço para uma alegria nova e revitalizada. Triste é não sentir nada.

Martha Medeiros
Crônica "A Alegria na Tristeza", 1999.

Nota: Texto originalmente publicado na coluna de Martha Medeiros, no website Almas Gêmeas, a 8 de março de 1999.

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