Mensagens Profundas

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Em amor, se é preciso explicar, então já não se deu o entendimento profundo, a adivinhação da verdadeira necessidade do outro.

Toda a parte mais inatingível de minha alma e que não me pertence – é aquela que toca na minha fronteira com o que já não é eu, e à qual me dou. Toda a minha ânsia tem sido esta proximidade inultrapassável e excessivamente próxima. Sou mais aquilo que em mim não é. E eis que a mão que eu segurava me abandonou. Não, não. Eu é que larguei a mão porque agora tenho que ir sozinha.
Se eu conseguir voltar do reino da vida tornarei a pegar a tua mão, e a beijarei grata porque ela me esperou, e esperou que meu caminho passasse, e que eu voltasse magra, faminta e humilde: com fome apenas do pouco, com fome apenas do menos.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

É preciso sinceridade. Existe essa coisa incrível chamada nobreza de caráter e fofurinha de alma. A vontade de aceitar a vida, perdoar as traições, ser amiga de todo mundo, alegrar pessoas. Gostar de gente. Pior: gostar das pessoas como elas são.

Precisamos de livros que nos afetem como um desastre, que nos entristeçam profundamente, como a morte a quem tenhamos amado mais que a nós mesmos, como ser banido pra florestas isolas de todos, como um suicídio. Um livro deve ser um machado para o mar enregelado que temos dentro de nós.

Entre a árvore e o vê-la
Onde está o sonho?
Que arco da ponte mais vela
Deus?... E eu fico tristonho
Por não saber se a curva da ponte
É a curva do horizonte...

Entre o que vive e a vida
Pra que lado corre o rio?
Árvore de folhas vestida -
Entre isso e Árvore há fio?
Pombas voando - o pombal
Está-lhes sempre à direita, ou é real?

Deus é um grande Intervalo,
Mas entre quê e quê?...
Entre o que digo e o que calo
Existo? Quem é que me vê?
Erro-me... E o pombal elevado
Está em torno na pomba, ou de lado?

A marca de sua ignorância é a profundidade da sua crença na injustiça e na tragédia. O que a lagarta chama de fim de mundo, o mestre chama de borboleta.

O Mestre do Amor semeou as mais belas sementes no solo da alma e do espírito humano.

Não acumule o que escurece a alma e amarela o sorriso. Acumule o que perfume a vida.

Entre profundezas e superfícies

No silêncio enfrentamos e admitimos a brecha entre as profundezas de nosso ser, que ignoramos constantemente, e a superfície que é infiel à nossa própria realidade. Reconhecemos a necessidade de estar à vontade conosco a fim de ir ao encontro dos outros, não com apenas uma máscara de afabilidade, mas com um compromisso real e um amor autêntico.

Quem não tiver medo de ficar alegre e experimentar uma só vez sequer a alegria doida e profunda terá o melhor de nossa verdade.

Clarice Lispector
Água viva. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

"Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição
De qualquer semelhança no fundo."

...QUANDO JA SE ESTÁ QUASE SEM ALMA E SE TEM CONSCIÊNCIA DISSO, É PORQUE AINDA SE EXISTE.
Depois sentava e coNtemplava o mar. Numa hora dessas, torna-se dificil acreditar numa série de coisas, como, por exemplo, que houvesse país como a China e os EUA, ou um lugar como o vietnã, ou que ja tivesse sido criança. Não, pensando bem não era tão inacreditavel assim; a infãncia tinha sido um horror, impossível esquecer isso. E a vida de adulto: todos os empregos, as mulheres, de repente nenhuma, e agora desempregado. Sem ter o que fazer, aos 60 anos. Liquidado. Sem nada. Com um dolar e 20 cents no bolso, o aluguel, pago de antemão por uma semana. O oceano...recapitulou as mulheres na lembrança. Algumas haviam sido boas pra ele, outras não passavam de megeras, interesseiras, meio loucas e tremendamente brutais. Quartos, camas, casas, natais, empregos, cantorias, hospitais, apatia, dias e noites de pura monotonia, sem sentido nenhum, sem chance alguma.

Está faltando o sonho no que eu escrevo. Como viver é secreto! Meu segredo é a vida. Eu não conto a ninguém que estou viva.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Mas há mais alguma coisa... Nessas horas lentas e vazias, sobe-me da alma à mente uma tristeza de todo o ser, a amargura de tudo ser ao mesmo tempo uma sensação minha e uma coisa externa, que não está em meu poder alterar.

Julgar e condenar moralmente é a vingança preferida das
almas limitadas sobre aquelas que são menos que elas, uma
espécie de indenização por tudo aquilo que obtiveram de menos
da natureza, eis uma ocasião para mostrar espírito e tornar-se
refinado — a malícia espiritualiza o homem. No fundo de seus
corações gostariam que existisse uma medida, diante da qual
também os homens ricos e privilegiados sejam seus iguais

A terra tão rica
e – ó almas inertes! –
o povo tão pobre...
Ninguém que proteste! (...)

Eu que já andei pelos quatro cantos do mundo procurando, foi justamente num sonho que ele me falou...

Se ouvirmos a criança que temos na alma, os nossos olhos tornarão a brilhar. Se não perdermos o contacto com essa criança, não perdermos o contacto com a vida.

E porque minha alma é tão ilimitada que já não é eu, e porque ela está tão além de mim – é que sempre sou remota a mim mesma, sou-me inalcançável como me é inalcançável um astro.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Espero que não sejamos um sonho que Deus sonha, ou nosso futuro será muito relativo.