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O amor é uma doença. Eu sinto náuseas, febres, dores musculares. Eu acordo assustada no meio da noite. Eu choro à toa.

Tati Bernardi

Nota: Trecho da crônica "O amor é uma doença".

Hoje na solidão ainda custo
A entender como o amor foi tão injusto
Pra quem só lhe foi dedicação

Tenho amor incondicional pelas pessoas que entram em minha vida e, sinceramente, não sei o quanto isso é bom atualmente. Talvez esse seja meu pior defeito.

Meu nome: amor.
Meu endereço: meu coração.
Minha idade: uma vida inteira para te querer bem.
Data de nascimento: o dia que te conheci.
Minha profissão: amar.
Minha estrada: todas as amizades.
Minha sorte: ter te conhecido.
Minha luz: teus olhos.
Meu desespero: ficar longe de ti.
Minha vontade: nunca sair do seu lado.
Meu pensamento: chegar até você.
Cheiro mais gostoso: teu perfume.
Uma música: tua voz.
Meu desejo: tua felicidade.
Minha morte: quado você não quiser mais minha amizade.
Um nome: o seu.
Uma recordação: o teu sorriso.
Uma tristeza: teu desprezo.
Um carinho: tua amizade.
Uma verdade: eu te adoro.
Uma realidade: eu não vivo sem sua amizade.
Um sonho: ter você sempre como uma pessoa adorável.
Uma dúvida: será que você sempre vai ser assim comigo?
Um pesadelo: perder a sua amizade!

Enquanto houver um louco, um poeta e um amante haverá sonho, amor e fantasia. E enquanto houver sonho, amor e fantasia, haverá esperança.

Não, meu bem, não adianta bancar o distante: lá vem o amor nos dilacerar de novo...

Caio Fernando Abreu
ABREU, C., Pequenas Epifanias

Soneto a quatro mãos

Tudo de amor que existe em mim foi dado
Tudo que fala em mim de amor foi dito
Do nada em mim o amor fez o infinito
Que por muito tornou-me escravizado.

Tão pródigo de amor fiquei coitado
Tão fácil para amar fiquei proscrito
Cada voto que fiz ergueu-se em grito
Contra o meu próprio dar demasiado.

Tenho dado de amor mais que coubesse
Nesse meu pobre coração humano
Desse eterno amor meu antes não desse.

Pois se por tanto dar me fiz engano
Melhor fora que desse e recebesse
Para viver da vida o amor sem dano.

Quando o amor é sincero ele vem com um grande amigo, e quando a amizade é concreta ela é cheia de amor e carinho

Busque Amor novas artes, novo engenho,
para matar me, e novas esquivanças;
que não pode tirar me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.

Que dias há que n'alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como, e dói não sei porquê.

Luís de Camões
Camões, L. V. de. Sonetos. Lisboa: Livraria Clássica Editora. 1961

Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.

E então serás eterno.

Cecília Meireles
MEIRELES, C. Poesia completa: Volume 1. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2001.

AMOR E SEU TEMPO

Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe

valendo a pena e o preço do terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.

Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.

Carlos Drummond de Andrade
"Poesia completa". Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002.

Que as minhas lágrimas corram assim para bem longe, para que meu amor nunca saiba que um dia chorei por ele.

Paulo Coelho
Na Margem do Rio Piedra eu Sentei e Chorei. Rio de Janeiro: Sextante, 2012

[...] sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor, pois se eu me comovia vendo você, pois se eu acordava no meio da noite só pra ver você dormindo, meu Deus... como você me doía! De vez em quando eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno, bem no meio duma praça, então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta, mas tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme... só olhando você, sem dizer nada só olhando e pensando: Meu Deus, mas como você me dói de vez em quando!

Caio Fernando Abreu
ABREU, C., O Ovo Apunhalado

O amor imaturo diz: eu te amo porque preciso de ti.
O amor maturo diz: eu preciso de ti porque te amo.

Erich Fromm
A arte de amar (1956).

AMOR

Amor, então,
também, acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima.

Paulo Leminski
Caprichos & Relaxos

INVASOR AMOR

Tão surpreendente é o amor,
Aparece sempre sem avisar,
Muito insinuante e sedutor,
Depressa começa a enfeitiçar.
Encantador e também invasor,
Nem pede licença para entrar,
Começa a penetrar sem pudor,
Deseja o coração arrebatar.
E quando domina o interior,
Não é mais possível disfarçar,
O brilho do olhar é revelador,
O melhor agora é se entregar.

Você só saberá realmente o que é o amor, quando lhe perguntarem sobre ele e você não pensar em uma definição, mas em um nome.

Sonho e amor

Sonho, a gente só se dá
conta dele depois que acorda, depois que ele acabou.
E fica aquela vontade na gente de sonhar mais um pouquinho.
Existem pessoas que são um sonho.
Um sonho pelo qual a gente dormiria a vida inteira.
Mas o destino vem e nos acorda violentamente.
E nos leva aquele sonho tão bom.
Existem pessoas que são estrelas.
Doces luzes que enfeitam e iluminam as noites
escuras de nossas vidas.
Mas vem o amanhecer e nos rouba com toda a sua claridade
aquela estrela tão linda.
Existem pessoas que são flores. Belezas discretas
que alegram o nosso caminho.
Mas com o tempo, as flores murcham,
e nos enchem de saudade de sua cor e de seu perfume.
Existem, finalmente, as pessoas que são simplesmente amor.
Um amor doce como o mel de uma flor que desabrochou numa estrela
e que veio até nós num lindo sonho!
E ainda bem que são "amor", porque flores, estrelas ou sonhos,
mais cedo ou mais tarde terminam.
Mas o amor...o amor não termina nunca.

Há certas horas, em que não precisamos de um amor, não precisamos da paixão desmedida, não queremos beijo na boca e nem corpos a se encontrar na maciez de uma cama. Há certas horas, que só queremos a mão no ombro, o abraço apertado ou mesmo o estar ali, quietinho, ao lado, sem nada dizer...

Mas tantos defeitos tenho. Sou inquieta, ciumenta, áspera, desesperançosa. Embora amor dentro de mim eu tenha. Só que não sei usar amor: às vezes parecem farpas.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica Deus.

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