Mensagens de Saudades Eternas
Estes são tempos breves... breves para o amor, breves para a lembrança, breves para os sentimentos, breves para a catarse humana, breves para a humanidade.
Meu avô recorta da imaginação a figura, e suas mãos com o pequeno canivete modelam a madeira trazendo alegrias a minha infância.
Eu me esqueci de checar a porta,
Eu me esqueci onde deixei as chaves,
Eu me esqueci que as crianças já não moram mais aqui,
Eu me esqueci que o tempo passou,
E me esqueci de esquecer você, que benção.
O túnel do tempo é um enorme vazio
Tuas queixas o som da queda
Mas você olha pro alto e vê uma plataforma qualquer que dizem ser um lugar aprazível
Dizem ser ali o reino do amor
Esta logo ali um pouco acima do seu mergulho
Esta logo ali na cápsula mais vistosa dos seus ideais
A vida segue em outro lugar
Sempre em outro lugar
sexta-feira, 31 de maio de 2019
Esse mundo é mesmo um lamento cão.
O gozo existe.
Porém com muita lamentação.
Ocupar o tempo com aberração.
És assim como tradição.
Insensatez e mazelas.
Palavras ao leo são elas.
Porém compreendo que muitas possuem um interesse sadio.
Uma palavra amiga, um abraço a confortar.
Pois o destino encarrega de acender o pavio.
Devemos ter força em apagar.
Estar com as chamas da amizade, da coragem.
Cultivar humildade, matar a trairagem.
Ter laços de um bom espírito de vida.
Escrever páginas, ainda que não são lidas.
Meu decorrer e o seu é uma história.
Tudo passa, até a memória.
Giovane Silva Santos
Todos já viramos um pouco ciborgues. O celular funciona como uma extensão da nossa memória; terceirizamos funções mentais básicas para diversos algoritmos; entregamos de bandeja nossos segredos, para serem armazenados em servidores e analisados por computadores. O que nunca podemos esquecer é que não estamos apenas nos fundindo a máquinas, mas às empresas que controlam as máquinas.
O passado quieto é arquivo
O passado relembrado, é álbum
O passado repassado é herança
O passado é diário guardado, trancado.
Só entende o passado,
Quem o viveu!
O passado não é herança
para quem não o quer herdar
Para este é retrocesso, prisão.
Eu gostaria de poder deixar para você algumas imagens em minha mente, porque elas são tão bonitas que eu odeio pensar que elas serão extintas quando eu me extinguir. Bem, mas, de novo, esta vida tem sua própria beleza mortal. E a memória tampouco é estritamente mortal por natureza. É uma coisa estranha, afinal, ser capaz de retornar a um momento, quando dificilmente pode-se dizer que ele tem alguma realidade, mesmo em sua passagem. Um momento é uma coisa tão leve. Quero dizer, sua permanência é um alívio muito agradável.
Caça à palavra
repleta, minha alma espreita atrás do estrume do mundo:
de onde vêm os versos, que face ocultam entre o amor e a morte?
às vezes os sons são os mesmos, as texturas, o tempo,
o mesmo homem a revolver-me as veias
onde se lacram as vãs repetições, que noite veste o poema?
o sol nos vasos de crisântemos, ecos de um triste país,
largos horizontes onde meu pai passeia verbos nem sempre sublimes.
tudo é memória, sirenes ligadas. a infância sempre ontem, mas aqui.
todo verso sugere uma serpente oferecida.
que na minha caça à palavra (que face ocultam o amor e a morte?)
não haja qualquer vislumbre de repouso.
Isto não é uma história. Isto é história. Isto é história e, no entanto, quase tudo o que tenho a meu dispor é a memória, noções fugazes de dias tão remotos, impressões anteriores à consciência e à linguagem, resquícios indigentes que eu insisto em malversar em palavras.
E os livros, livros por todos os lados. Cada superfície plana era ocupada por um livro. Tampo da mesa, armário, criado-mudo, mesinha de cabeceira. Nenhum bibelô, Nenhum suvenir. Nenhum porta-retratos. Só restaram os livros. Para que ele soubesse quem fora realmente a mãe, teria de abri-los e ler. Teria de ler cada página de milhares, milhões.
A cada ano, minha mãe tirava um quadro do meu pai da parede para dar espaço a mais uma estante de livros.
Em lágrimas ela segurou minhas mãos e disse: - Isso passa, tudo passa e ainda vais lembrar e rir disso tudo.
Como gostaria que ela estivesse aqui agora para darmos essa risada que ficou guardada na memória...Mãe não deveria passar...
O SILÊNCIO DA NOITE
A noite chega de mansinho
Pela janela entra um vento em laço
O silêncio é triste, um descaminho
O coração pulsa em descompasso
Os pensamentos fluem em polvorosa
Nenhum norte a ser seguido
A estrada é curvilínea e perigosa
O destino é incerto e traiçoeiro
Mas nada impede que a esperança
Renasça a cada aurora
Como no movimento de uma dança
Que não me sai da memória
Eu sempre fui diferente, querendo dizer que eu gostava de ser eu mesmo. Até no jardim de infância, quando diziam para formarmos uma fila e ir ao parquinho, eu não gostava de participar. Eu não era bagunceira; eu não apreciava a fila. Algumas das minhas melhores lembranças de infância são de mim sozinha no meu quarto – escrevendo, lendo livros, ouvindo Beatles, vivendo na minha mente. É sempre agitado lá.
Tenra idade
Saudade da minha tenra idade
Na qual não estava conectado
Mas brincava de verdade
Quão boa foi a minha infância
Andava de bicicleta, corria, pulava
E tudo isso tinha muita importância
Na minha geração não havia redes sociais
Ficávamos na rua até altas horas
E levávamos broncas demais
Nos tempos hodiernos, vejo tudo mudar
As crianças não querem mais sair
E anseiam somente brincar com o celular
Essa constatação me entristece
Pois o lúdico está cada vez menos presente
Nas gerações que aparecem
Jovens, divirtam-se muito mais
Ao ar livre, em boas companhias
Dependendo menos das atrações digitais
Vocês em breve adultos serão
Cultivem bons momentos
E da infância, se recordarão com emoção
(Lázaro de Souza Gomes)
Onde estão os olhos da minha infância, aqueles olhos medrosos que ela tinha há trinta anos, os olhos que me fizeram?
Quando vier à procura do que o passado enterrou, é preciso saber que estará às portas de uma terra em que a memória não pode ser exumada, pois o segredo, sendo o único bem que se leva para o túmulo, é também a única herança que se deixa aos que ficam.
Quando temos alguma lembrança ruim, não significa que perdemos o dia, mas que ganhamos mais uma etapa.