Mensagens de reflexão de Mario Quintana
Cada palavra é uma borboleta morta espetada na página:
Por isso a palavra escrita é sempre triste...
Um autor, primeiro, é assunto. Mas a glória, mesmo, é quando ele vira falta de assunto.
O bicho,
quando quer fugir dos outros,
faz um buraco na terra.
O homem,
para fugir de si,
fez um buraco no céu.
Velhice é quando um dia as moças começam a nos tratar com respeito e os rapazes sem respeito nenhum.
Há dois sinais de envelhecimento. O primeiro é desprezar os jovens. O outro é quando a gente começa a adulá-los.
O homem é um bicho que arreganha os dentes sem necessidade, isto é, quando nos sorri.
Um poeta sofre três vezes: primeiro quando ele os sente, depois quando os escreve e, por último, quando declamam os seus versos.
Os silêncios
Não é possível amizade quando dois silêncios não se combinam.
A tarde é uma tartaruga com o casco pardacento de poeira, a arrastar-se interminavelmente. Os ponteiros estão esperando por ela. Eu só queria saber quem foi que disse que a vida é curta...
Deve ser o fio de vida que vai unindo, pedaço a pedaço, essa colcha de retalhos que é a história do mundo.
Mas se a vida é tão curta como dizes
por que é que me estás lendo até agora?
Tenho uma enorme pena dos homens famosos, que por isso mesmo perderam sua vida íntima e são como esses animais do Zoológico, que fazem tudo à vista do público.
Se a tua vida não puder ser uma tragédia grega – por amor de Deus! – não a faças um tango argentino...
O dia passa, a vida continua. E os que pensam que a vida muda com o gosto devem pensar também que o corpo se transforma com as modas.
A vida está cheia de interferências indébitas, de acasos estúpidos, de personagens errados que travam conosco desencontrados diálogos de surdos, a vida está atravancada de pormenores inúteis, a vida parece um romance malfeito!
” Querias que eu falasse de "poesia" um pouco mais... e desprezasse o quotidiano atroz... querias... era ouvir o som da minha voz e não um eco - apenas - deste mundo louco!”
(trecho extraído do livro em PDF: Baú de Espanto)
O mais espantoso nos velhos é a sua falta de pressa, como se eles dispusessem de todo o tempo que teriam os moços se não tivessem tanta pressa.
O mais triste nas praias de verão é que nos assemelhamos a um bando de focas tropicais.
O que mais enfurece o vento são esses poetas inveterados que o fazem rimar com lamento.
O que há de mais admirável nas democracias é a facilidade com que qualquer pessoa pode passar da crônica policial para a crônica social.