Mensagens de Martha Medeiros
E tive quase certeza de que Deus não existe mesmo, pois Ele, em sua infinita bondade, não faria isso comigo.
Eu costumava ser uma alegria ambulante. Agora a festa terminou, os copos estão espalhados pelo chão, os pratos sujos, silêncio absoluto, ficou um vazio devorador de uma solidão impossível de ser contada.
Porque a morte de uma pessoa é o fim estabilizado, é o retorno para o nada, uma definição que ninguém questiona.
Tentar outra vez o mesmo amor. Quem já não caiu nesta armadilha? Se ele também estiver sozinho é sopa no mel. Os dois já se conhecem de trás para a frente. Não precisam perguntar o signo: podem pular esta parte e ir direto ao que interessa. Sabem o prato favorito de cada um, se gostam de mar ou de montanha, enfim, está tudo como era antes, é só prorrogar a vigência do contrato. Tanto um como o outro sabem de cor o seu papel.
Quem acompanha o trabalho do Cirque du Soleil sabe o que pode esperar, mas nunca deixará de se surpreender: a turma sempre dá mais do que promete. Se pela tevê já encanta, ao vivo arrebata.
passei tanto tempo procurando as palavras
que resumiriam nossa relação
mas tudo o que encontrei
foi pontuação
exclamações, interrogações, reticencias
muita vírgula no lugar errado
tremas e acentos desatualizados
aspas que deixavam tudo formal
e um ponto final pra lá de precipitado
você não acredita como eu me importei
com você
como eu reparava nos teus cacoetes, ouvia
tua voz
e pelo tom eu percebia como andava o teu
humor,
como eu sabia bem dos teus horários, teus
macetes
eu poderia ter escrito teu diário, tanto eu
te conhecia
dava para sentir de longe o teu cheiro,
entender tuas manias
eu já estava louca de tanta nostalgia de você,
um rapaz que eu nunca vi, nunca falei,
nunca toquei,
nunca soube se existia
não quero saber quantas namoradas
que eu não descobri
silêncios e desvios que não percebi
nem quero saber
sobre aquele fim de semana que não te vi
do teu pouco caso com o meu sofrimento
de nenhum movimento a meu favor
de nenhum amor que eu me lembre
não quero saber
quantas mentiras pra me acalmar
quantos mares a navegar sem mim
que fim deram aqueles retratos
se aquele abraço era mesmo assim
não quero saber
quantos meses você me deixou
a delirar e quantos presentes me deu
sem escolher e quantos beijos foram dados
por dar
não quero saber dos requintes
de crueldade nem do momento
fatal
o que não se sabe
não faz mal
você não imagina o que imaginei pra nós
transas nos lugares mais insólitos
poeira, estrada, bebedeira, arame farpado
sexo, cheiro azedo, línguas inquietas
teu jeito canastrão, eu meio vadia
ninguém é dono de ninguém, ninguém é
de ferro
suspense, tudo muito suado, berros,
vertigem
e uma gargalhada lá no finalzinho da
história
ao nos vermos no espelho, casados
'' Mas você escolheu viver dentro de um redemoinho, você estava encurralado na sua irritabilidade constante, e só havia uma saída pra mim: abrir a porta e deixar você adoecendo sozinho.''
Ninguém está sozinho quando curte a própria companhia, porém somos reféns das convenções, e quando estamos sós, nossa solidão parece piscar uma luz vermelha chamando a atenção de todos. Relaxe. A solidão é invisível. Só é percebida por dentro.
Queria não me sentir tão responsável sobre o que acontece ao meu redor. Compreender e aceitar que não tenho controle nenhum sobre as emoções dos outros, sobre suas escolhas, sobre as coisas que dão errado e também sobre as que dão certo. Me permitir ser um pouco insignificante.
Se uma mulher conseguir manter o dom de ser velha
quando jovem e jovem quando velha , ela sempre
saber o que vem depois.
Crônica: O jogo da velha - Trem Bala
Queixas e lamentações provocam cegueira.
Abram os olhos: nosso prazo de validade foi
prorrogado. A desesperança ainda pode ser
substituída por projetos e realizações.
Quem tem 30 está dando os primeiros passos.
Quem tem 20, engatinha. E quem tem menos,
vai cruzar a reta dos 100 dando cambalhota.
Vive mais quem não perde tempo.
Mesmo tendo juízo
não faço tudo certo
todo paraíso
precisa um pouco de inferno
Todo mundo quer ser legal, e todo mundo se ferra na empreitada. É difícil ser legal o tempo inteiro. A gente consegue ser legal a maior parte do tempo, mas aí faz uma besteira e pronto: tudo o que você fez de bom é imediatamente esquecido e você se torna apenas aquele que fez a grande besteira. Aí você precisa de mais uns dois meses sendo exclusivamente legal para todo mundo esquecer da besteira. E quando eles esquecem, você faz outra, claro.
Não era amor. Era uma sorte, uma travessura, uma sacanagem, dois celulares desligados. Não era amor, era melhor.
Nota: Trecho de crônica de Martha Medeiros.
A gente se apaixona é pelo jeito. O jeito de caminhar. O jeito de usar a camisa pra fora das calças. O jeito de suspirar no final das frases. O jeito de beijar. O jeito de sorrir. Vá tentar explicar isso.
É fácil dizer que ama alguém quando tudo está bem, quando o máximo que você tem que oferecer, para que tudo continue normal é atenção. Mas a verdadeira prova de amor não está em um “eu te amo”… Não está em um abraço,e nem em um beijo… A verdadeira prova de amor está quando continuamos ao lado da pessoa amada, quando tudo está mal, quando tudo desaba, quando o assunto acaba, quando fica difícil tirar um sorriso. A verdadeira prova de amor está quando, mesmo depois de tantas pedras, duas pessoas conseguem dar as mãos e dizer, obrigado por estar ao meu lado, quando na verdade nem eu me suportaria.
Quem me vê caminhando na rua, de salto alto e delineador, jura que sou tão feminina quanto as outras: ninguém desconfia do meu hermafroditismo cerebral. (...) Penso como um homem, mas sinto como mulher.