Mensagens de Martha Medeiros
As pessoas não mudam na sua essência, mas mudam muito de sonhos, mudam de pontos de vista e de necessidades, principalmente de necessidades.
solidão que tanto temem
que tanto ignoram o bem que faz
sozinha não minto, não finjo
não causo nenhum escarcéu
sozinha não maltrato, não disfarço
não há pesquisa que me sonde
sozinha não retruco, não provoco
não deixo ninguém sem resposta
sozinha não julgo nem condeno
não trato ninguém como réu
sozinha não grito, não rogo praga
não renego meu deleite
sozinha não trapaceio, não peco
não falto nem chego atrasada
sozinha não sumo, não volto
não tenho presença notada
sozinha eu sou quem eu posso
sozinha eu faço o que quero
sozinha não há céu que me rejeite
Passei a ocupar meus dias pensando sobre o que, afinal, é isso que todo mundo enche a boca pra chamar de amor
Um dos maiores fermentos de um relacionamento é a admiração. É desanimante atravessar os dias sem sentir orgulho da pessoa que está vivendo ao nosso lado. É prioritário seguir para sempre pensando que ele é um bilhete premiado. A cada observação perspicaz que ele faz sobre um fato, a cada gesto de solidariedade para com o irmão, a cada bola dentro que ele dá no trabalho, é um alívio pensar: este é o cara que escolhi para estar comigo. Um sujeito legal.
Desassossegados têm insônia e são gentis, lhes incomodam as verdades imutáveis, riem quando bebem, não enjoam, mas ficam tontos com tanta idéia solta, com tamanha esquizofrenia, não se acomodam em rede, leito, lamentam a falta que faz uma paz inconsciente. Desta raça somos todos, eu sou, só sossego quando me aceito.
Amores passados contentam-se com migalhas e sobrevivem muito: ajude-se, negando-lhe qualquer banquete.
Faço menos planos e cultivo menos recordações. Não guardo muitos papéis, nem adianto muito o serviço. Movimento-me num espaço cujo tamanho me serve, alcanço seus limites com as mãos, é nele que me instalo e vivo com a integridade possível. Canso menos, me divirto mais.
Nota: Trecho da crônica "O permanente e o provisório" de Martha Medeiros.
...MaisTudo se passou como num teatro, eu e Gustavo os atores principais e, na platéia, os amigos. Disseram que eu estava bonita, mas não existe noiva feia. Casei com Gustavo. Não casei com um namorado. Ele já era meu marido.
A gente casou no primeiro dia em que nos vimos, pulamos a parte do reconhecimento, foi desde início um salto sem rede. Estávamos predestinados, sabíamos disso antes mesmo de tocarmos um no outro. Mesmo quando houve brigas e implicâncias, elas faziam parte do querer-se. Não forjamos isso, aconteceu, e não se deve esnobar um presente do destino. Casamos porque já estávamos casados e não tinha cabimento fingir-se de solteiros.
Gustavo e eu trocamos alianças. Gustavo e eu dançamos a valsa. Gustavo e eu cortamos o bolo. Gustavo e eu fizemos tudo o que todos os noivos fazem, cumprimos o ritual até o fim. Quando chegamos ao hotel ele fechou a porta do quarto, a gente soube que o nosso casamento não seria igual aos outros. Ele não disse enfim sós. Disse enfim juntos.
Você sabe que não sou mulher de arrependimentos, de olhar pra trás, essas coisas. A gente tem que mirar no alvo e atirar, pronto, foi. A flecha não volta. Se acertamos ou erramos, não tem volta. Foi assim que levei a vida sempre.
Somos, nem tanto por burrice, mais por reflexo condicionado,
prisioneiros do julgamento alheio. Tememos outras alternativas que
não sejam as já testadas e aprovadas. Os diferentes abrem caminhos,
criam opções, sobrevivem da própria independência, enquanto os outros
vêm atrás concorrendo ao título de melhores ou piores em repetição.
Amores precisam dar a volta ao redor de si mesmo, fechando o próprio ciclo. Isso é que libera a gente para ser feliz de novo
Tive um vizinho que gritava com a namorada ao telefone, sem se importar que o prédio inteiro ouvisse: “Não sei o que fazer! Fico mal contigo e fico mal sentigo!”. Sempre achei essa situação desoladora, e nem estou falando do português do sujeito. É duro ter apenas duas alternativas (ficar ou ir embora) e ambas serem terríveis.
Não sou de frescura e muito menos de compulsões consumistas. Mas ainda tenho um lado mulherzinha: choro à beça, sou louca por flores, não vivo sem meus hidratantes, aprecio o cavalheirismo, gosto de ficar de mãos dadas no cinema, devoro revistas de moda, me interesso por decoração e fico chocada quando escuto expressões grosseiras.
Lembre-se do que sua bisavó dizia:
regue as plantas, regue suas relações,
regue seu futuro, porque sem cuidar, nada floresce.
Coragem mesmo, é... optar por um caminho diferente, confiar mais na intuição do que em estatísticas, arriscar-se a decepções para conhecer o que existe do outro lado da vida convencional. E, principalmente, coragem para enfretar a própria solidão e descobrir o quanto ela fortalece o ser humano...