Mensagens de Mágoa
A CRIAÇÃO DA FACA
Eu inventei a faca, nutri expectativas sobre a faca, acreditei que ela seria única, e a deixei existir.
Um dia, enquanto eu caminhava pela rua, tropecei em um homem irritado, manchei toda a sua camisa de café. O homem tirou dos bolsos o que eu não esperava, o objeto era uma faca.
Ele veio em minha direção, sem que eu pudesse explicar o que havia acontecido, pegou a faca e afundou diversas vezes em meu peito, até que o barulho dos gritos ofuscasse seus atos.
Nesse dia, a faca que criei foi a responsável pela minha morte, pois do que vale o bom coração na intenção de progredir, entregar nas mãos de qualquer um, o fruto da sua criação.
Quando as lágrimas quentes da decepção banham meu rosto, e a névoa da desilusão turva por alguns momentos meu espírito... É nesse momento em que paro para analisar a quantos e quantas esse mesmo sentimento eu causei . E relevo .
AMOR CEGO
Uma vez disseram-me que o amor é cego, acreditei em parte; outra vez falaram que ele estava cego de amor, e por mais contraditório que isso represente, eu acreditei sem hesitar. Ao contrário do amor, há pessoas que cegam seus próprios olhos, pois assumir que está amando outro alguém, é difícil demais, e quebraria toda ética interna do bom samaritano. Então não, o amor não é cego! Ele é puro, verdadeiro, envolvente! Mas sim, alguns estão cegos de amor.
A UNIÃO DOS PONTOS
Na escrita posso entregar os meus sentimentos de bandeja, ou, camuflá-los a ponto de causar dúvida. Escrever me faz livre, dado que por mais que tentem, nunca saberão a minha real dedicatória, sem que eu os conte. Algumas vezes me faltam palavras, pois comigo não aceitam ser tratadas de qualquer maneira, nem unidas em prol de mágoa. Sobre você, elas nunca terminaram o pensamento, apenas me trataram como distração, fugiriam deixando em aberto o fim, foram um verdadeiro espelho seu, mas não se turbe a mente, o ponto se depôs a ficar, e se agora te escrevo, significa que...
IDAS E VINDAS
De um instante para o outro, todos se foram. Você também se foi, mas diferente dos demais, você sempre volta, e como eu amei as suas voltas. No espaço de repouso da tua ida, entendi que meu peito não desfalece de tamanha carência e pobreza por afeto.
Entre o trânsito acelerado, dei de cara com muitas placas, uma dizia-me "pare", a outra dizia-me "volta". Por muito amei as tuas voltas, mas ensinarem-me que eu não mereço ninguém que volte, mas alguém que permaneça comigo para sempre.
Magoei.
O homem que mais me ama, mais luta por mim, mais me apoia, que é mais família do que parente. Eu o magoei.
Com conversas inúteis com gente que não leva nada a lugar nenhum, que não se importa comigo e que tão pouco vai querer se dar o trabalho de todo dia pedir a Deus que me abençoe e me guarde que nem ele.
Mas ele, é tão bom comigo, que me permitir a redenção: ser um novo eu, daqui por diante.
A confiança se perdeu, mas um dia ela vai voltar. Acredito que vai ser no dia em que a gente chegar do trabalho, se encontrar na nossa casa, abraçar nossos filhos e perceber que a gente é feliz, é família, é amor.
Eu espero muito que esse dia chegue logo e que até no dia do julgamento, a gente esteja junto, pra sempre.
O melhor a se fazer
é curar sua ferida,
esquecer aquela ofensa
que ficou mal digerida.
O problema do rancor
é que ele causa dor
para a sua própria vida.
Quando me machucar, terás de ver os meus cabelos se enlearem pelo coração. Meu dulçor não ultrapassará aqueles fios. Somente sentirás meu cheiro e entenderá que não é fácil penteá-los de volta.
As lembranças boas não cicatrizarão meu coração, pelo contrário, hão de alimentar ainda mais as feridas, a indignação, a raiva que me foi oprimida. Esse é o preço que se vale de um bom coração, sendo ele oito ou oitenta, ou ama-te ou te mata.
O GRITO
Quando o embrulho do estômago é mais alto que as formas de expressão, as palavras não me saem tão belas nem tão pouco formais, vejo-me ser atordoado pelas minhas próprias escolhas, todas baseadas na tolice da ingenuidade. O que mais quero é gritar até que todos aqueles ouvidos que me trazem tanta confusão, sufoquem em silêncio. Assim sou! Vendido por minha natureza selvagem, não mais atraído em satisfazer. Se tudo isso não lhe é correto, que se foda seu conceito ultrapassado. Rasgue-os na minha frente, eles não servem para mim.
Ninguém tem legitimidade de destruir o carácter de outrem sob pretexto de que terá sido fortemente magoada(o).
Chorou com você mas ainda assim seguiu dando força para o motivo das suas lágrimas? Ou chora com você ou sorri com seu algoz. A pessoa leal não titubeia, ela sabe o lado que está. Se há dúvidas, é porque ela nunca conheceu seu coração de verdade!
Há quem fique em relações falidas e falsas, porque já se habitou à dor. A relação tóxica é tão naturalizada que nem mesmo a dor já não ensina nada. Quem fica, apesar da dor constante, perde a perspectiva a ponto de aceitar tudo.
É um tipo de morte existencial.
#MADRUGADA
Louco...
O vento passeia...
Enquanto a noite envolve a terra...
E na rua deserta...
Uma alma vive...
Alma cheia de dor...
E de dor a alma está cheia...
Ao sabor dos enganos...
Vagou...
Não sentiu o decorrer dos anos...
Olhos fitos no vácuo...
Murmúrios desconexos...
Conserva o mesmo orgulho...
De um morto austero...
Celebra as ilusões com os fantasmas...
Enquanto gela o sorriso nos lábios...
Está só...
Não querida...
Apenas usada...
Caminha...
Passo a passo...
Se arrasta...
O tempo já lhe pesa...
Enquanto sopra o vento...
Nas altas horas em calma...
Cansada...
Tamanha fadiga...
Espreguiça...
Boceja...
Enfim, se dá por vencida...
Com os olhos cheios de mágoa...
Segue o vento pela estrada...
Aurora anuncia...
Nessa noite não foi usada...
Nem foi querida...
Sandro Paschoal Nogueira
Caminhos de um poeta
.
...
Nas asas do tempo
a tristeza voa.
No rabo do vento
meu disfarce ressoa.
Um discernimento,
meu grito ecoa.
Um ressentimento,
esperança destoa.
E minha felicidade,
aragem escoa.
[...] ela nunca se curaria enquanto continuasse infligindo novas mágoas sobre as passadas, em uma interminável autoflagelação. // Livro: Intensidade