Mensagem dia do Livro
Aquele que quiser servir a Deus deve renunciar a tudo sem esperar recompensa alguma. Uma paz interior, entretanto, ostentar-lhe-á na face um sorriso de felicidade que aqui na terra não se encontra igual.
O que pensam que isto é? Uma história de Mills e Boon, a dupla Água com Açúcar? Sinto muito, mas se esse é o tipo de roteiro no qual estão interessados, então sugiro que leiam um livro diferente.
Não, ele me entregou a toalha e dei em meu cabelo alguns esfregões não muito fortes. Não queria terminar com ele todo arrepiado e secando em ângulos engraçados. Com toda franqueza, preferia pegar pneumonia.
Minha cabeça estava cheia de Adam, Adam, Adam. Da mesma maneira como os camareiros do Titanic estavam mais preocupados com os cinzeiros não esvaziados do bar do que com o enorme buraco do lado do navio, que deixava entrar milhões de litros de água, eu também estava preocupada apenas com o que não tinha importância, e ignorava, assim, o que era vital. Algumas vezes, é mais fácil dessa maneira. Porque, embora eu não pudesse fazer droga nenhuma com relação ao enorme rombo, ainda estava ao meu alcance esvaziar um cinzeiro. Bela analogia.
Mas me sentia tão vazia e solitária. Triste e solitária e todas as outras emoções que se enquadram no gênero “Perda”, subespécie “Rejeição”.
Eu não ouvira a expressão “Ato Antinatural”, com a idade de doze anos, mas, se tivesse ouvido, eu a abraçaria como a uma irmã que não se vê há muito tempo. Senti vontade de chorar pela criança inocente que eu era, pela idealista menina de doze anos que eu fora um dia. Mas, ao mesmo tempo, não sabia o que estava perdendo
E as meias soquete! Eu poderia falar durante horas sobre as meias que comprei para minha filha. Tão diminutas, fofas, aconchegantes e macias, e tudo para cobrir seus minúsculos, minúsculos, minúsculos pezinhos cor-de-rosa. Algumas vezes, eu tinha um tamanho surto de amor por ela e queria apertá-la com tanta força, que chegava a temer por sua segurança.
Deus ajuda àqueles que ajudam a si mesmos. E Deus não pode dirigir um carro estacionado. Se eu tivesse ficado em casa, na cama, com o chocolate e a Marie Claire, será que o encontraria? A resposta só pode ser não.
Mas, de qualquer maneira, era tudo tão esquisito que, para ser inteiramente franca com você, eu já não distinguia meu bumbum do meu cotovelo. E não é o tipo de erro que normalmente cometo. Não seria comum me acharem colocando pomada para hemorróidas em meu cotovelo. Ou encharcando meu bumbum com suco de limão, por exemplo. Mas, como eu já disse, eram tempos difíceis.
De uma maneira perversa, eu ficaria satisfeita se o tivesse surpreendido fazendo alguma coisa ruim. Talvez numa trama sadomasoquista com uma menina de 14 anos. Ou, ainda melhor, com um menino de 14 anos. Ou, ainda melhor, com uma ovelha de 14 anos. Ou, o melhor de tudo, espiando o programa “Cada Segundo Conta” (isso sim é abominável e imperdoável).
Chegava de humilhação para mim, muito obrigada. Não engoliria mais minha raiva. Honestamente, não entrava mais nem uma garfada. Mas estava deliciosa. Foi você quem fez?
Sabia que fizera a coisa certa. Pelo menos pensava ter feito. Mas acontece que aquilo era a vida real, e nenhuma decisão era inteiramente clara. Não é como virar no lugar certo e conseguir a felicidade para sempre ou virar no lugar errado e sua vida se transformar num desastre. Na vida real, muitas vezes é quase impossível dizer qual a decisão que se deve tomar, porque o que se ganha e o que se perde muitas vezes são equivalentes.
Meu Deus! Eu detestava aquela história de ser adulta. Detestava tomar decisões quando não sabia o que haveria escondido por trás da situação. Desejava um mundo onde as coisas boas e más tivessem rótulos claros. Onde música sinistra começasse a tocar no instante em que o vilão aparece na tela, de modo a não se poder confundi-lo com o mocinho. Onde o que lhe pedem é para escolher entre brincar com a linda princesa, no jardim perfumado, ou ser devorado pelo monstro horroroso, no fosso fedorento. Nada de muito difícil, entende? Nada que force a pessoa a se angustiar a respeito nem que lhe tire o sono a noite inteira. Ser uma vítima não é uma coisa lá muito boa, mas, que diabo, tira um bocado da confusão das coisas. Pelo menos você sabe que está certa.
Eis que coloquei diante de Tí,a porta aberta do destino,e ninguém pode fechá-la pois está pregada por trás!
Quinze de fevereiro é um dia muito especial para mim. É o dia em que dei à luz meu primeiro filho. E também o dia em que meu marido me deixou. Como ele esteve presente ao parto, só posso supor que os dois acontecimentos tiveram alguma relação entre si. Eu sabia que deveria ter seguido meus instintos. Era a favor do papel clássico, ou, digamos, tradicional, que o pai desempenha no nascimento dos seus filhos. Que é o seguinte: tranque-o num corredor do lado de fora da sala de parto. Não deixe que entre, em momento algum. Dê-lhe quarenta cigarros e um isqueiro. Instrua-o a caminhar até o fim do corredor. Quando chegar a essa feliz posição, instrua-o a dar a volta e retornar ao local de onde veio. Repita, se necessário.
Sei que o marido dela é italiano, mas realmente não vejo nenhuma probabilidade de que ele mate o casal. É garçom, não é um mafioso; então, o que vai fazer? Envenená-los com pimenta do reino? Fazer com que entrem em coma, após tantos boa noite senhores? Ou atropelá-los com o carrinho das sobremesas?
Sustento que nos apaixonamos imediatamente. Ele não sustentou nada do gênero e disse que eu era uma tola romântica. Disse que demorou pelo menos trinta segundos para se apaixonar por mim. Os historiadores discutirão.
E lamento dizer isso a você, mas vou ter de usar uma porção de clichês aqui. Não vejo nenhuma maneira de escapar disso.
Tenho vergonha de contar-lhe que eu andava nas nuvens. E lamento mais ainda ter de lhe dizer que me sentia como se o tivesse conhecido durante toda a minha vida. E vou agravar as coisas, contando ainda que achava que ninguém me entendia do mesmo jeito que ele. E, como perdi toda a credibilidade com você, também posso dizer que não sabia que era possível ser tão feliz. Mas não vou forçar a barra contando-lhe que ele me fazia sentir segura, sexy, inteligente e meiga. (E, lamento, mas realmente devo dizer-lhe que achava que havia encontrado minha outra metade e agora eu era inteira, e prometo que vou parar por aqui).
Depois de algum tempo, fomos morar juntos. Depois de um tempo um pouco mais longo nos casamos. E, alguns anos depois, decidimos ter um bebê, afinal, meus ovários pareciam estar prontinhos, os espermatozoides dele não registraram nenhuma queixa a respeito, meu útero não levantou nenhuma objeção e, então, engravidei. E dei à luz uma menina.
Soube, então, que a vida não respeitava circunstâncias. A força que atira em nós os desastres não diz: “Bem, não darei a ela aquele caroço no seio antes de pelo menos um ano. É melhor deixar que se recupere primeiro da morte da mãe.” A vida simplesmente vai em frente e faz o que tem vontade, sempre que tem vontade.
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