Mensagem de Ausência
Sempre fui sentimental a ponto de guardar a mistura ao lado do prato para comer por último. O melhor para o final. Tão sentimental que, quando criança, tomava Yakult pelo fundo do pote que era para durar mais. Mantinha o lacre intacto, mordia o fundo, um minúsculo furo no fundo e o minimalista Yakult durava vários minutos até acabar. Lembro uma vez que bebi metade do pote e guardei metade para mais tarde. Logo, sinto sempre que esvazio um cinzeiro. Cada bituca é uma lembrança. Tenho um cinzeiro em casa que guarda bitucas de anos atrás. Um cinzeiro especial, dado por uma pessoa que não me dará nada mais que ausência, então, tão sentimental que sou, guardo.
A pior coisa é ter saudade do que não existiu. Saudade do que foi idealizado, do que poderia ter acontecido...
Duas certezas
Só tenho essas duas certezas:
A ansiosa certeza do não saber
Até quando hei de permanecer
Na escuridão que ainda habito
Diante do vão tentador da janela
Calado como o silêncio.
E a covarde certeza de saber-me ameaçado
Não pela perigosa lida do vento
Da chuva, de corujas ou de ladrões
Mas pela luz inofensiva que há além da janela
Onde mora a mais dura das minhas certezas
A que evito cegamente
Cega certeza da sua ausência.
Longe de ti
Longe de ti,
Eu sou uma miragem,
Refletida nos campos sem vida da solidão.
Sou um sonho,
E sou uma imaginação.
Longe de ti,
Eu sou uma saudade,
Sou um pranto de lágrimas,
Quase uma insanidade.
Longe de ti,
Eu sou um rio frágil,
Ansioso para encontrar o mar,
Sou um arco-íris apagado no céu,
Sou o reflexo de um sonho bonito,
Suspenso, planando no ar.
Longe de ti,
Eu sou uma flor pálida,
Nascida à beira de um escuro caminho.
Sou uma poesia lacrimosa e nostálgica,
De um poeta triste e sozinho.
Longe de ti,
Eu sou um andarilho incompreendido,
Perdido nos labirintos do pensamento.
Vivendo uma vida inventada,
Em um mundo sem sentido.
Porque insistimos tanto em sofrer por coisas que sabemos que não teremos mais: uma amizade, um amor, um emprego... Se entendermos que um dia nunca será igual o outro aí sim iremos valorizar mais o presente para no futuro não lamentarmos mais da ausência de coisas ou pessoas...
Amizade não se cobra? Depende do que você entende por amizade... Depende do que você entende por cobrança.
Para mim, a amizade é como uma planta. Quanto mais antiga, maiores são suas raízes. Isso não muda o fato de que todas precisam de cuidado, atenção e presença. É por isso que devemos regar as plantas para que elas não morram.
De certo que as mais antigas possuem raízes mais fortes e não precisam serem regadas com a mesma frequência que as novas. Entretanto, mesmo as plantas antigas morrem se ficarem longos períodos sem a atenção necessária.
Por vivermos num mundo de intrincadas conexões, as nossas escolhas tem um impacto sobre nós, aqueles que nos rodeiam e até mesmo os que virão depois de nós.Quando conseguimos criar essa imagem mental, notamos que cada
escolha carrega o peso da eternidade.
Gostamos de falar da luz divina, mas tentamos ocultar os nossos pecados com justificativas, a preferida é: Ele me fez assim. Ousamos transferir os nossos pecados ao próprio Deus, nem mesmo Adão e Eva foram tão longe.
Amamos em verdade e espírito quando acreditar nele não nos traz nenhum benefício, quando a Sua ausência não consegue mais nos assustar pois “sentimos” a Sua respiração suspensa.
A vantagem do cristão não está na sua saúde, mas em conhecer e aceitar a sua doença. O tratamento proposto pelo “hospital” não é um processo de cura instantânea. É um método que começa agora e só terminará na eternidade. Quem se recusar continuará eternamente doente.
Há filmes, livros, pinturas, músicas, florestas e paisagens que são itinerários espirituais por onde passeia o sopro do Espírito de Deus.
Quando o cristianismo tenta se adaptar a cultura, ele tende a transbordar para fora da sua existência. Torna-se um parasita do verdadeiro cristianismo, atraindo algumas pessoas, mas não transformando vidas.
Não minimizo a famosa frase “Deus é amor”. Sou totalmente
dependente desse amor. Mas, eu amo Deus? Se continuar acariciando os meus pecados, eu não O amo. Se não confronto e enfrento os meus pecados, preferindo afagá-los debaixo do edredom da misericórdia, recostado no travesseiro da graça sobre o aconchegante colchão do amor de Deus, não estou demonstrando que O amo, mas que utilizo o amor de Deus para justificar a minha perversidade.
O escândalo do cristianismo é que existe apenas um caminho. A boa notícia é que, apesar de toda a nossa teimosia, egoísmo e pecado, ainda há um caminho.
Muitos sermões são ofertados como se a igreja fosse um restaurante que deve conquistar o paladar dos seus clientes. Não precisamos de clérigos semeando frases de autoajuda; sacerdotes se portando como animadores de
auditório; reverendos motivando a auto satisfação ou fiéis se auto justificando no mantra do “Deus é amor”.
Precisamos de homens e mulheres trilhando o caminho da
transformação. Não devo aprender a amar mais a mim mesmo, mas a morrer para que Cristo viva em mim. Não quero a cumplicidade com os meus pecados, mas a luta diária para vencê-los. Não quero o cobertor elétrico sobre os meus erros, mas o inverno asfixiante derrubando todas as folhas com as quais me cubro.
O invisível não pode ser apreendido no visível. Na verdade o visível é a sombra de uma realidade maior que está além do limitado alcance da nossa visão.
Quando um cristão passa a ser celebrado nos círculos intelectuais dominantes, nota-se que o cristianismo apresentado foi diluído e os tons ofensivos ao homem natural encontram-se reduzidos de brasas incandescentes
a cinzas inofensivas.
A beleza, criatividade e alegria de Deus esparramam-se pela natureza aguardando que o distraído ser humano possa observá-la mais de perto. Mas o entediado não tem mais tempo para as coisas comuns. Vive tão absorto nos
afazeres da vida que não consegue vislumbrar as sombras da Realidade maior, a assinatura do Artista em sua obra.
Deus não existe. Se Ele existisse seria apenas mais um objeto. Deus antecede a existência, assemelha-se mais ao invólucro que a agasalha, a nascente de onde sai o filete da vida. A linguagem é limitada. Só é possível a teologia no terreno da analogia. Deus não se encaixa num exemplo mais amplo, porque se encaixasse, o gênero do qual Ele se tornaria membro seria maior do que o próprio Deus. Todo esforço linguístico sequer toca nas bordas da divindade. Sem Ele “nada do que foi feito se fez”.