Meninos de Rua
Sempre o mesmo
Quem disse que me mudei?
Continuo o mesmo,
Na mesma casa,
Na mesma rua.
Às vezes até vou na casa ao lado,
É melhor para ver a lua,
Continua pura...
E eu o mesmo.
Vou alinhavando meus defeitos
Nos retalhos da vida!
Às vezes ferida outras solução.
Esse meu jeito me agonia,
Sempre o mesmo
Mas nunca em vão...
Sou a favor da rua
Do vento na cara
Do sorvete gelado
Da ajuda inesperada
Sou a favor da felicidade sem custo
Do dinheiro doado
Do mergulho no mar
Do dedo na tomada
Sou a favor da dúvida
Do desejo que grita
Do tapa na cara
E do outro lado da face
Sou a favor de qualquer amor
Da palhaçada no trabalho
Da ligação para dizer eu te amo
Do trote, da bebida e do alcool
Sou a favor do talento
Da surpresa, do arrepio
Da gargalhada da criança
Da mesa e do convite
Sou a favor dos que andam pelo meio da rua
Dos que entram em mar revolto
Dos cachorros vagabundos
Dos que não têm conta em banco
Sou a favor de presentes fora de datas
Da carta escrita a mão
Da janela aberta
Da música cantada no trânsito parado
Sou a favor de quem só conjuga no presente
Do orgamo aguardado
Da expectativa atendida
Da sobremesa açucarada
Sou a favor da carona
Da vida na estrada
Do pedido de desculpas
Da ligação para casa
Sou a favor dos que não se definem
Dos que não rotulam
Dos que se vestem diferente
Dos que dizem o que pensam, sem ofenças, seu merda
Sou a favor do choro
Dos que pedem ajuda para dar um nó
Dos que pedem ajuda para tirá-lo da garganta
Sou a favor dos alunos
Dos que nadam com ou sem direção
Dos que sabem que seremos comida de vermes
Sou a favor do deslimite
Da não fronteira
Dos que não tem time
Dos que abraçam mendigos com cheiro de mijo
Sou a favor da mudança
Dos atos que cativam outros
Do serviço sem rosto
De comer o pão que caiu no chão
Sou a favor do tempo que não para
Do tempo que decreta o fim e o novo começo
Do tempo que ensina professores à alunar
Sou a favor dos que são contra
Porque só assim somos humanos
Somos ideias e ideais
Eu sou a praia
Eu sou a montanha
Vou seguindo pela rua querendo apenas dar, num gesto, palavra ou olhar, todo amor que tenho em mim e que já não acha mais lugar.
Obrigado amigo
Por ter comigo
Agradeço a visita
Aqui não tem pista
A rua é de terra
Bem-vindo a favela
Não tem muito lazer
Não tem muito o que fazer
A não sei trabalhar
Pra sustentar o lar.
Vem conhecer a minha casa
Não sei o que você acha
Mas é tudo que tenho
Pelo menos nesse momento
O lar não é muito grande
Em cima da estante
Apenas uma TV de 14 polegadas
E um rádio de duas faixas
Nas paredes as fotografias
Que guardo com alegria.
Tem dois quartos
Aqui você está guardado
Se precisar dormir
A comida é só dividir
Aí tem o banheiro
Quando conseguir dinheiro
Quero fazer uma reforma
Pra deixar em forma
Deixar mais adequada
Quando chegar a rapaziada.
Bora aí na cozinha
Tem pão e margarina
Pode se servir como quiser
É claro não pode faltar o café
Quando amanhecer o dia
Só não tem xícara
É copo extrato de tomate
As minhas riquezas, amor e humildade
O quintal é pequeno
Meu cachorro a companhia de todo momento.
Se eu pudesse ladrilharia a tua rua com pedras de brilhantes para apenas você passar. Faria um corrimão de diamantes para você segurar. Enfeitaria o local onde pisas com pétalas de rosas vermelhas e arrastaria com redes todas as estrelas do céu e as colocaria ao teu redor somente para te ver brilhar.
A minha namorada,
É a mais bela da rua.
A mais bela da quadra.
A mais bela do bairro.
A mais bela da cidade.
A mais bela do estado.
A mais bela do país.
A mais bela do mundo,
O meu amor caiu nas suas mãos e então
é bem zelado.
Muito obrigado só por existir e ter me mudado.
Viveria eternamente te amando do outro lado desse mundo!
Em um dia nublado, alguém pode sentar-se na rua contigo e torná-lo um dia inesquecível. Nunca será o lugar e nem o tempo, mas sim, com quem você está.
FACULDADE
Minha faculdade é a rua!
Formei-me em Letras,
História e Geografia.
Fiz letra de samba,
Letra de rap,
Letra de forma,
Letra de mão,
Letra de pixo,
Letra de grafite.
Fiz histórias nas ruas!
Contei histórias da vida,
Histórias de manos e minas,
Histórias do cotidiano…
Histórias de miliano,
Histórias verídicas.
Andei pelos guetos, becos,
Observei os terrenos baldios,
Construí poemas de madeira,
Barracos de papel.
Observei os arranhas céus
Os córregos poluídos.
Minha faculdade é a rua!
Formei-me em Letras,
História e Geografia.
Não pense em suas lutas quando você anda na rua e vê as mesmas flores que sempre vê. Pense em como essa cor de flor ficou mais bonita por causa de um significado que alguém deu a ela. se você se lembrar dessas palavras novamente, talvez seus passos se tornem um pouco mais leves, talvez o peso em seu coração desapareça.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.
A casa escondida atrás da rua trás tanta lenda antiga, mas ninguém sabia que ali morava tanta história de vida.
- Casa
Tempo de Criança
Saudade,
Do tempo em que eu ainda
brincava na rua de amarelinha,
Do tempo em que no olhar se via a
inocência e a vontade de viver,
Dos sorriso puros e dos sonhos tão bonitos...
Saudade,
Das bagunças, das traquinagens
e até dos tapas que a mamãe dava,
quando descobria alguma "arte" feita por mim...
Bons tempos os de criança!
Tempo em que tudo era uma brincadeira,
Tudo era alegri
Tempo que não volta mais,
Restando assim, somente lembranças,
Daquele tempo de criança
Que os anos não trazem mais
E que a saudade,
Se encarrega de guardar
Com tanto carinho e amor
Dentro do coração...
Senhor sinto a tua presença, na igreja, em minha casa, na rua, na escola...!
em qualquer lugar, eu não paro de te adorar...Pai,
preciso tanto de ti, Espirito Santo nunca se afaste de mim, sou fraca, sou barro, pó e cinza, sou nada, mas Tu Deus; estar comigo...Obrigada por estar sempre ao meu lado, me dando forças para suportar tudo... te amo Senhor' ♥
Andar de skate na rua, jogar taco, brincar de pique-esconde, pega-pega, andar descalço, acordar cedinho para brincar e voltar só quando a mãe gritar: "Já está escurecendo!"... Nossa, que saudade!
O silêncio que sai do som da chuva espalha-se, num crescendo de monotonia cinzenta, pela rua estreita que fito. Estou dormindo desperto, de pé contra a vidraça, a que me encosto como a tudo. Procuro em mim que sensações são as que tenho perante este cair esfiado de água sombriamente luminosa que [se] destaca das fachadas sujas e, ainda mais, das janelas abertas. E não sei o que sinto, não sei o que quero sentir, não sei o que penso nem o que sou.
Toda a amargura retardada da minha vida despe, aos meus olhos sem sensação, o traje de alegria natural de que usa nos acasos prolongados de todos os dias. Verifico que, tantas vezes alegre tantas vezes contente, estou sempre triste. E o que em mim verifica isto está por detrás de mim, como que se debruça sobre o meu encostado à janela, e, por sobre os meus ombros, ou até a minha cabeça, fita, com olhos mais íntimos que os meus, a chuva lenta, um pouco ondulada já, que filigrana de movimento o ar pardo e mau.
Abandonar todos os deveres, ainda os que nos não exigem, repudiar todos os lares, ainda os que não foram nossos, viver do impreciso e do vestígio, entre grandes púrpuras de loucura, e rendas falsas de majestades sonhadas... Ser qualquer coisa que não sinta o pesar de chuva externa, nem a mágoa da vacuidade íntima... Errar sem alma nem pensamento, sensação sem si-mesma, por estrada contornando montanhas, por vales sumidos entre encostas íngremes, longínquo, imerso e fatal... Perder-se entre paisagens como quadros. Não-ser a longe e cores...
Um sopro leve de vento, que por detrás da janela não sinto, rasga em desnivelamentos aéreos a queda rectilínea da chuva. Clareia qualquer parte do céu que não vejo. Noto-o porque, por detrás dos vidros meio-limpos da janela fronteira, já vejo vagamente o calendário na parede, lá dentro, que até agora não via.
Esqueço. Não vejo, sem pensar.
Cessa a chuva, e dela fica, um momento, uma poalha de diamantes mínimos, como se, no alto, qualquer coisa como uma grande toalha se sacudisse azulmente aberta dessas migalhinhas. Sente-se que parte do céu está já azul. Vê-se, através da janela fronteira, o calendário mais nitidamente. Tem uma cara de mulher, e o resto é fácil porque o reconheço, e a pasta dentífrica é a mais conhecida de todas.
Mas em que pensava eu antes de me perder a ver? Não sei. Vontade? Esforço? Vida? Com um grande avanço de luz sente-se que o céu é já quase todo azul. Mas não há sossego — ah, nem o haverá nunca! — no fundo do meu coração, poço velho ao fim da quinta vendida, memória de infância fechada a pó no sótão da casa alheia. Não há sossego — e, ai de mim!, nem sequer há desejo de o ter...
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