Meninos de Rua
Considero a dialética como uma rua denominada infinito. Entro nela e reflito na tese, encontro a antítese, e paro na síntese. Retorno e continuo a caminhada sem chegada definitiva e termino genuflexo perante Deus - SOBERANO - alfa e ômega, princípio e fim…
Andar na rua agora não é mais como era antes. Tudo que vejo me remete a você. Me pergunto o quanto de ti há nas coisas do mundo, inclusive em mim. Dar-te-ei o que queres, amor: distância. Como o sol da lua, o frio do calor, como a distância da inocência de uma criança para a malícia de um adulto. Me entristece saber que não lhe acolhi como fui acolhido por ti, e isso me destrói. Não sinto meu coração partido; sinto a ausência de um, pois nem o coração que está em meu corpo é de minha posse. O vazio que sinto sem teu bom dia é inefável, e não sei por quanto tempo consigo aguentar sem tua companhia. Quando me deparo com o mundo, sinto temores, e esses tiram meu sono, sono esse que sinto em teus braços.
a rua em silêncio!
a anestesia da dor
que não existe.
a lembrança que não volta
a saudade apertando
coração-solidão.
Selvagens
Na rua, tanta gente
a procurar a gente sua
nada fácil
nas metrópoles
selvagens
sonhos enfileirados
na distância
saudade de casa
gritando solitária
juntar as mãos
manter a fé
quem sabe amanhã,
se Deus quiser!
Engrandecer o encontro, o olhar, a vida
Enegrecer a rua, a cidade, o mundo
Enriquecer de abraços, de histórias, de afetos
Enlouquecer os donos do poder, os padrões, as regras
Fortalecer as mulheres, as crianças, o outro
Florescer os dias, os meses, as periferias
Crescer com as lutas, com os erros, com as perdas
Reconhecer os meus, os nós, a ancestralidade
Renascer a força, os sonhos, a esperança
Aquele foi um tempo bom. A rua era o palco da vida, desfrutada pela criançada: correndo, brincando, fazendo algazarras. Quanto a noite chegava era preciso voltar... Mas a vida ficava guardada nos bancos das praças, arborizadas, e nos quintais floridos fartos de frutas maduras - que faziam a festa da meninada.
O Mendigo
Na calçada fria, ele se estende,
navegante só, sem porto, sem cais,
veste a rua como manto e abrigo,
sem nome, sem rumo, sem nunca ter paz.
Olhos perdidos, sem brilho, sem cor,
mãos que tremem na busca de pão,
a vida escorre como chuva no rosto,
levando esperanças ao chão.
Um passado, quem sabe, o levou até lá,
talvez sonhos partidos, talvez um amor,
mas hoje é silêncio, poeira, e as horas
passando, sem rastro, sem calor.
E ele segue, invisível à cidade,
nas sombras, no frio, no vão do alvorecer,
como folha caída que o vento desfolha,
esperando apenas o nada acontecer.
TRÊS GATINHOS
Na esquina da rua
Três gatinhos
Miavam de fome
Eram tão lindinhos.
Alguém sem piedade
Deixaram abandonados
Procurasse quem queriam
Seriam adorados.
Dois eram pretinhos
Os olhos arregalados
Orelhinhas em pé
Os pelos arrepiados.
O outro era pintado
Os três sempre juntinhos
Bem sossegados
Os lindos gatinhos.
Irá Rodrigues.
Bom dia ao som de chuva,
Deus abençoe nosso dia, oremospelos moradores de rua
E sejamos gratos pelo que temos, por mais humilde que seja nosso teto, demos graças a Deus com alegria, damos valor por mais que seja pouco, é muito pra muitos que pouco queriam...
E não tem (...
Pensei ter te superado
Até te ver do outro lado da rua
E perceber que não
Pensei que eu estava livre
Sendo que deixei meu coração na sua mão
Pensando que um dia eu te teria
E que a gente seria
O que a gente nunca foi
Porque só eu pensei
Ou inventei?
Se eu tô na rua... Minha mãe me liga trinta vezes.
Se eu tô em casa e ela na rua... Ela me liga trinta vezes também! É muito amor!!!!
O VENDEDOR DE FLORES:
O florista da rua de minha aurora
...Toda aurora
Coloria em flores as cores dos que jazia.
Não havia odores às dores aos que sofria
E o florista da rua de minha aurora,
... Noutra aurora
Não percebia aroma, não havia cores
Às flores que lhe vestia...
PELADAS DE RUA:
Quando menino a bola era meu fraco:
Bastava saber que no campo do barreiro de ZÉ JOAQUIM havia uma. Que ali estava eu, moleque franzino de cabelos claros cortados em franja, motivo pelo qual a molecada me chamava de “Zico”, apenas pela aparência física, pois mesmo tendo certa intimidade com a “Gorduchinha” nem de longe lembrava o Galinho.
Porém, me recordo com muita nostalgia do primeiro time formadinho com uniforme e tudo. Mas, claro, não tinha nada a ver com a realidade tupiniquim.
O padrão era do Internacional, clube lá do sul.
Ora! Ninguém queria saber se era do Sul, Norte ou outra região. O que bastava era estar uniformizado e se exibir no campo defronte ao estádio JOSÉ RAMALHO DA COSTA, pointer dos times de peladas de rua à época. Por quê? “Por que ali era onde os jogadores profissionais e técnicos do América Futebol Clube passavam para os treinos e todos os moleques alimentavam a esperança de um dia jogar no América. Carinhosamente chamado de” MEQUUINHA”.
Como em todo grupo existem as figuras pitorescas aquele não podia ser exceção. Logo aparece o “Beque Central” do time, apelidado de “BUBAÇO”. Era uma figura esguia, meio corcunda e olhos quase que saltando de órbita.
Buba como carinhosamente o chamávamos, sujeito não muito adepto da higiene, tinha o mal habito de conservar as unhas dos pés sem apara-las.
Também lembro com muita nitidez que todos jogavam descalços porque a grande maioria dos meninos eram filhos de pais pobres e não podiam comprar o Kichute. Pois era privilegio dos mais abastados filhinhos d papai.
Nunca me saiu da lembrança, um fato no mínimo hilário, que até hoje quando lembro me passa um VT daquela cena inusitada: Era a final de um torneio, e nós decidíamos com o Botafogo de Ciço de Miguel Eustáquio. Que por sinal era o melhor entre os demais times.
A partida estava com o placar em 0 X 0 e já no finalzinho do jogo quando Bubáço (jogador), recebe uma bola cruzada sobre o zagueiro adversário, dribla-o” Quipa” e chuta com bastante força a bola que era de plástico, a saudosa Canarinho, o xodó da gurizada nos anos de 1970. Parece mentira, as unhas salientes do atleta corta a pelota e o gol é abortado.
Desolado e visivelmente indignado. Entra em cena JUVENAL, dono da bola e do fracassado time. Percorre todo o campo como se numa volta olímpica com um único intuito, agredir o pobre Buba que além de cortar sua bola, frustrou o resultado daquela partida.
O cartola ao alcançar seu jogador, impiedosamente o agride físico e verbalmente. Além de suspendê-lo da equipe até que compre uma nova bola e apare suas malfeitoras unhas.
Ainda meio assustado estava ali estático.
Eu, e os demais colegas do clube. Sem esboçar nenhuma reação em defesa do principal personagem daquele espetáculo que hoje juntamente com seu “algoz” encontra-se em outra dimensão.
Tudo isso para fazer jus ao que digo ao encetar o texto:
(A bola era definitivamente o meu fraco). Diferentemente do que representava meu ídolo Arthur Antunes Coimbra (Zico).
Nicola Vital
Incongruente
Quero um poema
que dança no meio da rua,
Sem o número da casa pra você achar!
Quero as letras espalhadas,
As mãos espalmadas,
de olho no olhar!
Quero peso sem medida
E medida sem tempo
Todo certo pelo canto,
E é por isso que eu canto
Que eu amo o incongruente!
MOTORISTA DA LUA
É na rua que eu lhe vejo
sem-sentido mulher de avessos,
olhando a história do céu
você lembraria
do tempo que rebeldia
passava perto nossos caminhos.
Quando andávamos na lama
saber o percurso do sol fazia
a gente acreditar os ninhos
dos deuses estavam a ponto de cair
as leis do mundo seriam pregadas
por nossas mãos livres de correntes
e nem de longe suspeitávamos um do outro,
éramos viajantes e a estrada nosso espelho sem imagem
Tão fortes as certezas que o vento era nosso aliado,
tão fortes as certezas que a chuva regava nossas sementes,
tão longos os caminhos - nossos carros sempre a sair,
mas logo o mundo ficou real os caminhos eram sem rumo.
Quando você me vir de novo
saiba que eu sou outro,
enraizado ao caminho errado
ando pelas ruas rasgado de frio
e não reconheço ninguém,
quando paro na estrada
é para ver que o tempo
me fez esquecer de mim,
guiar sob os mistérios da lua
é o destino dos perdidos
vou embora, sou dos viajantes
o que se despede dos sonhos
lavando o rosto no rio ao luar
a verdade crua
quando é dia sou apenas pó
de noite motorista da lua
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