Menina Boa
Quero fim de ano, pés descalços na areia, a brisa do mar, fim de tarde tranquilo, música boa, sem relógio, despertador ou qualquer coisa que me mostre o tempo passando. Quero sair de noite, olhar pro céu e ver estrelas, ter tempo pra ver como a lua é bela, observar pessoas, rir, chorar, pensar, viver, cantar, sentir. Preciso de um tempo, preciso me reencontrar em novos caminhos e preciso disso agora...
Viva as válvulas de escape, que lamentavelmente não gozam de boa reputacão. Não sei quem inventou que é preciso ser a gente mesmo o tempo todo, que não se pode diversificar. Se fosse assim, não existiria o teatro, o cinema, a música, a escultura, a pintura, a poesia, tudo o que possibilita novas formas de expressão além do script que a sociedade nos intima a seguir: nascer-estudar-casar-ter filhos-trabalhar-e-morrer.
É claro que a vida é boa (…)
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste…
Nota: Trecho de poema "Dialética", de Vinicius de Moraes.
Era bom estar solitário num lugarzinho, sentado, fumando e bebendo. Sempre tinha sido uma boa companhia para mim mesmo.
Talvez eu seja um cara que apenas te disse um ‘oi’
Ou um ‘boa noite’.
Talvez eu só tenha aberto uma porta pra você
Ou te servido um copo d’água
Talvez eu tenha te cuidado com os olhos enquanto você passava
Ou simplesmente te observei partir, sorrindo comigo mesmo
Talvez eu tenha te oferecido balinhas
Ou alguma outra guloseima
E você apenas disse ‘muito obrigado’
Talvez eu seja apenas aquele carinha que você esbarrou na rua
Enquanto você lia um livro, ou olhava as vitrines,
E ao qual você sorriu desconcertada
Enchendo o meu coração de poesia
Sim, talvez eu seja aquele carinha que viajou ao teu lado
Com o qual você cantou e sorriu e depois disse adeus
E desde então nunca mais nos vimos
Talvez eu seja um cara que você nunca irá conhecer
Talvez eu seja um cara ao qual você jamais irá esquecer
- ou fará questão de esquecer!
E talvez eu seja um cara ao qual você jamais notará a presença
Não é preciso, pois, que me notes a presença
Já me sinto muito feliz em estar aqui
E ter notado você
Em meu caminho
Pois é justamente isto o que sou
E apenas isto o que sou:
apenas um cara no caminho...
Quem deserta das coisas materiais mostra boa vontade – mas não prova verdadeira compreensão. Por que foge? Por que deserta? Porque se sente fraco e receia cair; mas o temor é escravizante. Plenamente liberto e livre é somente o homem que, depois de se consolidar definitivamente no mundo espiritual, volta ao mundo material sem se materializar; o seu reino não é daqui, mas ele ainda trabalha aqui, como se fosse o mais profano dos profanos. Somente um homem plenamente espiritual pode admitir aparências de materialidade sem desmentir a sua espiritualidade. De um homem que nada espera do mundo, tudo pode o mundo esperar.
Em uma boa biblioteca, você sente, de alguma forma misteriosa, que você está absorvendo, através da pele, a sabedoria contida em todos aqueles livros, mesmo sem abri-los.
A vida humana só acontece uma vez e não poderemos jamais verificar qual seria a boa ou a má decisão, porque, em todas as situações, só podemos decidir uma vez. Não nos é dada uma segunda, uma terceira, uma quarta vida para que possamos comparar decisões diferentes.
Existe algo mais importante que a lógica: a imaginação. Se a ideia é boa, jogue a lógica pela janela.
Me vê uma rodada de vida boa, com uma porção extra de amor, uma boa dose de amizades verdadeiras e boas músicas para acompanhar! E se tiver dinheiro aí, pode incluir no pedido.
Todo mundo tem dentro de si um fragmento de boas notícias. A boa notícia é que você não sabe quão extraordinário você pode ser! O quanto você pode amar! O que você pode executar! E qual é o seu potencial!
O sofrimento, entretanto, é necessário para a formação do homem; todo homem de boa compleição deve trilhar esse caminho:
"Essas dores podem ser bastante penosas: mas sem dores não é possível tornar-se guia e educador da humanidade; e coitado daquele que quisesse sê-lo e não tivesse essa pura consciência!"
(Humano, Demasiado Humano)
Por fim, o gênio que sobrevive ao sofrimento que lhe cria e lhe acompanha acaba superando as noções de "bom" e "mau", e a moral existirá apenas como um vestígio de uma cultura inferior:
"Enfim, quando a tábua de sua alma estiver totalmente coberta de esperiências, ele não desprezará nem odiará a existência e tampouco e amará mas estará acima dela ora com o olhar da alegria, ora com o da tristeza, e tal como a natureza terá uma disposição ora estival, ora outonal. (...)
Quando o seu olhar tiver se tornado forte o bastante para ver o fundo, na escura fonte de seu ser e de seus conhecimentos, talvez também se tornem visíveis para você, no espelho dele, as distantes constelações das culturas vindouras."
(Humano, Demasiado Humano)