Memória
Bons fones, se possível. Boa música, sempre!
Não acredito que a memória seja um lugar esperando nossa visita. Me parece mais algo que construímos a cada visita. E nunca construímos da mesma forma. Sempre que lembrarmos do primeiro beijo, será um beijo diferente. Será sempre outra pessoa, a pessoa que nos tornamos, a lembrar do mesmo beijo.
Num dia desses, minha andança por POA coincidiu com o horário de saída de um colégio. Crianças invadiram a calçada enquanto eu passava. Algumas ficaram me olhando fixamente. Na verdade, olhavam para meus cabelos. E riam. Saquei que elas nunca tinham visto um cara cabeludo! Estranho é que havia, entre as crianças, vários moicanos. Fala um pouco a respeito do nosso tempo o fato deste corte de cabelo complexo, que necessita aditivos químicos para dribar a gravidade, parecer mais natural às crianças do que cabelos que... simplesmente... naturalmente... crescem.
Apagar as fotos é um trabalho inútil, já que a memória e o passado vivem um triângulo amoroso com a saudade.
E aquele primeiro dia treze é ainda tão vivo na minha memória. Lembro da tarde ensolarada que fazia, consigo até sentir o cheiro daquele dia, cheiro bom de dia calmo...
Jota Cê
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Eu acho que se um dia eu perder a memória, e você me ligar, só de ouvir a sua voz eu me apaixonaria de novo.
A música e o perfume são os dois melhores remédios para a memória sentimental. Ao ouvir ou sentir o aroma, de imediato lembrarás de algo que te marcou.
Vasculhando na memória algum assunto, encontrei a carta que eu rabisquei na capa de um livro: “pra você”, era o destinatário. Não sei por que não mandei, talvez não quisesse passar a limpo o passado. Em letras garrafais eu te dizia: “acertei o caminho não porque segui as setas, mas porque desrespeitei todas as placas de aviso”. E achei curioso eu usar essa metáfora sem nem ao certo saber o que queria te dizer com isto. E, depois de repousadas aquelas palavras, percebi quanta coisa eu escrevi pra você, querendo dizer pra mim. Porque eu jamais chegaria aonde cheguei se só andasse em linha reta. Tive que voltar atrás, andar em círculos, perder dias, perder o rumo, perder a paciência e me exaurir em tentativas aparentemente inúteis pra encontrar um quase endereço, uma provável ponte: a entrada do encontro. Você tão ocupado com seus mapas, tão equipado com sua bússola, demorou tanto, fez sinais de fumaça e não veio. Você simplesmente não veio. Mas me ensinou a intuir caminhos certos, a confiar nos passos, a desconfiar dos atalhos. Porque eu estava do outro lado e só. Sem amparo. Mas caminhava. E você estava absolutamente equipado com seu peso. E impedido de andar por seus medos.
As guerras não têm memória e ninguém se atreve a compreendê-las até não haver vozes para contar o que aconteceu, até chegar o momento em que já ninguém as reconhece e regressam, com outra cara e outro nome, para devorar o que deixaram atrás.
Como diz Alcione em uma de suas canções " a paixão tem memória" eu também tenho, talvez por isso, não consigo deletar a nossa !
Não penses para amanhã. Não lembres o que foi de ontem. A memória teve o seu tempo quando foi tempo de alguma coisa durar. Mas tudo hoje é tão efémero. Mesmo o que se pensa para amanhã é para já ter sido, que é o que desejamos que seja logo que for. É o tempo de Deus que não tem futuro nem passado. Foi o que dele nós escolhemos no sonho do nosso absoluto. Não penses para amanhã na urgência de seres agora. Mesmo logo à tarde é muito tarde. Tudo o que és em ti para seres, vê se o és neste instante. Porque antes e depois tudo é morte e insensatez. Não esperes, sê agora. Lê os jornais. O futuro é o embrulho que fizeres com eles ou o papel urgente da retrete quando não houver outro.
Toda rua tem seu curso
Tem seu leito de agua clara
Por onde passa a memória
Lembrando histórias de um tempo
Que não acaba.
"A intensidade com que nos entregamos à vida também descortina a memória dos instantes que se eternizam em nossa história, que quanto mais constantes, doces e afáveis o forem, tanto mais terá valido a pena passarmos por todo esse mistério."
Recordar é viver, e relatar é uma forma de ampliar nossa memória, fazendo do passado, um meio de aprendizado para o futuro.
Quando é para ser
não há escapatória.
A gente tatua na memória
a melodia da voz
o calor do toque
o gosto do beijo.