Mau Gosto
O capricho da simplicidade
Bom gosto e mau gosto custam a mesma coisa, me disseram certa vez. Adotei a frase como minha, tanto concordo com ela. Aliás, o mau gosto às vezes custa até mais caro.
Eu estava numa grande loja, naquele esquema de "só estou dando uma olhada", quando vi uma senhora se apossar de uma bolsa como se tivesse encontrado o Santo Graal. Chamou a filha e mostrou: "Não é linda?". Agarrada à bolsa em frente ao espelho, ela virava de um lado, de outro, extasiada com a própria imagem carregando aquela bolsa de couro azul-turquesa com umas 357 tachas pretas. Eu já vi bolsa feia nesta vida, mas como aquela, nem nos meus pesadelos mais tiranos.
Mas a tal senhora estava apaixonada pela bolsa. Mostrava a etiqueta com o preço para a filha e dizia: "E nem é tão cara!".
Nem é tão cara? A loja deveria estender um tapete vermelho e chamar banda de música para quem levasse aquele troço por R$ 5.
E a senhora voltava pro espelho, se olhava, levo ou não levo? Eu tive vontade de cutucar o ombro dela e dizer pelamordedeus não faça essa loucura, olhe em volta, tem bolsa muito mais bonita, com mais classe, mais usável, deixe essa coisa medonha pra lá.
Claro que não me meti e saí da loja antes de ver a tragédia consumada.
E então fiquei pensando nessa história de bom gosto e mau gosto, classificação que os politicamente corretos rejeitam, dizendo que gosto cada um tem o seu e fim de papo. Não é bem assim: a diferenciação existe. O que não impede que pessoas de bom gosto errem, e pessoas de mau gosto acertem - de vez em quando.
Cheguei em casa e fui reler um texto escrito por Celso Sagastume, em que ele defende que bom gosto se aprende. Que uma pessoa começa a gostar do que é bom quando adquire bagagem cultural (através de viagens e do acesso à arte) e quando tem humildade para observar pessoas e lugares reconhecidamente sofisticados e extrair deles a informação necessária para compor o seu próprio bom gosto.
Sofisticação, no entanto, tem variadas interpretações. Eu não troco uma charmosa bolsa de palha por uma Louis Vuitton e pode me chamar de maluca. Nunca duvidei de que menos é mais, e acho que estou me saindo razoavelmente bem, com uma porcentagem aceitável de deslizes.
Bom gosto e mau gosto custam a mesma coisa, me disseram certa vez. Adotei a frase como minha, tanto concordo com ela. Aliás, o mau gosto às vezes custa até mais caro. Ninguém precisa de muito dinheiro quando tem capricho e noção.
Capricho para tornar sua casa confortável, alegre e preparada não para uma foto ou uma festa, mas para ter história. Capricho para escrever um e-mail mantendo certa diagramação e um português correto. Capricho ao se vestir, deixando de se monitorar por grifes e valorizando mais o estilo.
Capricho é cuidado e atenção. Flores frescas nos vasos, unhas limpas, música em volume adequado, educação ao falar, abajures em vez de luz direta, um toque personalizado e uma pitada de bom humor em tudo: nas atitudes, no visual, até na bagunça do escritório, que uma baguncinha também tem seu charme.
Onde eu quero chegar com isso? Na bolsa azul-turquesa com 357 tachas pretas que a gente carrega desnecessariamente por falta de treinar o olho para as coisas mais simples.
Vou perder o resto do medo do mau gosto, vou começar meu exercício de coragem, viver não é coragem, saber que se vive é a coragem.
Há um mau-gosto na desordem de viver. E mesmo eu nem saberia, se tivesse desejado, transformar esse passo latente em passo real.
Tem atitudes, que por mais que eu me esforce, não consigo identificar qual foi o objetivo e nem a motivação, imperando apenas o mau gosto.
Em algumas atitudes, por mais que eu me esforce, não consigo identificar a motivação e nem seu objetivo, imperando apenas a falta de bom senso e o mau gosto.
Não se estresse com piadas de mau gosto. Fazendo isso você
dá moral a quem a fez. Se ela é de mau gosto já sabemos quem
é essa pessoa.
Mau gosto não existe, existe apenas aquilo que você não gosta. O que pode ser bom pra você, pode não ser bom pra outra pessoa.
Do bom e do melhor, tem gosto para tudo.
Salvo raras exceções de gente que fez voto de pobreza e dignamente ofereceu a vida para servir ao próximo, todo mundo gosta do bom e do melhor.
Tá certo que o que é bom para alguns é péssimo para gente normal, vide uns ritmos e músicas que mais parecem acompanhamento nos altares de sacrifícios de povos bárbaros.
Melhorando o velho ditado, “tem mau gosto para tudo”.
Essas e muitas outras tentativas de substituir a história pelo mito e a invenção não são apenas piadas intelectuais de mau gosto.
"Brincadeira de mau gosto, é quando, numa roda de amigos, no mínimo, uma pessoa não está sorrindo..."
Creio não existir bom gosto! O que existe é nossa boa vontade em concordar com o mau gosto dos outros.
O mau gosto musical do ser humano é diretamente proporcional ao volume em que ele ouve suas músicas.
Popularidade não significa Qualidade.
Um excremento atrai mais moscas do que uma flor atrai abelhas ou borboletas.
Quero ir quando eu quiser. É de mau gosto ficar prolongando a vida artificialmente. Eu fiz a minha parte, é hora de ir embora e eu vou fazê-lo com elegância.
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