Matar
Eu quero matar teu desejo,
em todas as formas que entendes,
que sabes ou imaginas,
onde o querer se faz infinito.
Te dar o beijo mais quente,
fazer meu calor e energia
pararem teu raciocínio,
tirar-te o juízo, sem saída.
Que meu cheiro fique em ti,
na tua memória a persistir,
a ponto de procurares algo
próximo, quando estás a partir.
Que teu corpo deseje o meu,
a ponto de tuas pernas tremerem,
sentadas, só de lembrar
da química que nos aquece,
quando ocupamos o mesmo espaço.
"...os loucos amam perdidamente e são capazes de tudo, principalmente matar e morrer por aquilo que amam, sobretudo, por aquilo que acham que amam, ainda que a pessoa transformada em objeto amado não valha nada".
Se o ser humano visse a desgraça que é pro mundo, faria o favor de se matar. E se visse a graça do mundo, faria o dever de refleti-la em si.
Por que é certo um animal matar outro animal, ou um homem matar um animal, e é errado um homem matar outro homem?
Muitas vezes, já pensei em me matar, não é incentivo, eu só quis me retratar; quantos leriam isso pra depois vir me julgar? Deixa a alma falar, deixa o que faz sentido na vida antes que o corpo retorne ao mar, ao lar de flores que caem, olhares que traem. Sou eu ou meu pai? Disseram que viver era um sacrifício, que se morre a cada dia por ofício. Firmei meu pensamento no que realmente vale a pena, olhei a minha volta e vi gente com problemas, somos tão racionais ao ponto de sermos menos unidos do que formigas ou abelhas. Pobres somos, reis de tronos que depois ninguém se lembra. Me deixa reintegrar com fragmentos de verdades. São palavras que revelam um segredo. Miragens são solidificadas quando não assumimos porquê viemos. Mas como saberemos? Para que seremos? Por que lutaremos? Após a morte, continuaremos?
FOME
Cortou aquele pedaço de pão
para poder matar a fome,
que já lhe cortava a carne.
Não desperdiçou nada daquele alimento,
recolhendo cada uma das migalhas,
já que, na maioria das vezes,
até mesmo elas lhe têm faltado.
O pão nosso de cada dia
só lhe vem à boca, ultimamente,
quando reza aquela oração.
Mas, para que querer pão,
se quase não tem dentes?!
Para que os dentes
se não tem mais sorriso?!
Para que o sorriso
se não tem esperança?!
Para que a esperança,
se quase não tem vida?!
Para que a vida,
se viver é ‘morrer de fome’
aos poucos, todos os dias,
até, literalmente, morrer de fome
num dia qualquer,
num canto qualquer?!
(Publicado no livro “Arcos e Frestas”, página 16)
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- O texto recebeu Menção Honrosa no “XIII Concurso Nacional de Poesias Marcos Andreani”, da Academia de Letras e Artes de Paranapuã-ALAP, de Tijuca-RJ.
"Jogamos em um campo de guerra, se você não quer matar ou morrer, cave um buraco e morra de fome esperando o fim da guerra"
As pessoas só vêem o 'ruim' em matar os outros, em agredir, em fazer coisas ruins fisicamente... Mas será que as pessoas que agridem o sentimento dos outros são julgadas por isso? Seja a situação que for, porque há situações que machucam de verdade, mas a agressão emocional nunca foi levada em conta... Somos ensinados à não roubar, matar (...) mas nunca - ou quase nunca - somos ensinados à não magoar os outros. São poucos os que se importam com isso, e evitam. Se a consequência de agredir emocionalmente fosse a mesma de agredir fisicamente, as pessoas pensariam duas vezes antes de agirem de tal forma. Mas como elas não têm nada a perder, assim se segue, e continuamos vivendo num mundo inferior, onde as pessoas não têm nem compaixão para com as outras, como têm para si mesmo. O pior é que a nossa sociedade não enxerga a agressão emocional como algo ruim, apenas como algo corriqueiro, banal. Que assim seja, que cada um possa desfrutar do mundo que merece, de acordo com seu grau de elevação espiritual.
Muitos julgam o predador por matar sua presa, porém ninguém julga a presa por deixar seu predador morrer de fome.
correr na rua
embaixo da chuva
molhar o deserto da alma
tirar a secura da boca
matar a sede de ser feliz
e tirar o gosto amargo
que acompanha nossos dias.
A cada dia tomemos a nossa cruz, pois a mesma é um instrumento utilizado pelo Eterno para matar o nosso orgulho.