Martyn Lloyd Jones
Estar debaixo da Lei significa que você tem que tentar justificar-se na presença de Deus por suas ações, por suas próprias obras, por seus feitos. A Lei é sempre uma coisa que chega ao homem e lhe diz: "Faze isto, e viverás." É o oposto da justificação pela fé.
A lei nunca nos pode livrar da escravidão do pecado, porque nunca foi destinada a isso. "Pela lei vem o conhecimento do pecado." Não a libertação do jugo do pecado, mas o conhecimento dele! Ela nunca foi designada para fazer mais do que isso. Devemos ir até mais longe. Diz o apóstolo que a Lei, longe de libertar-nos da tirania e da escravidão do pecado, tende antes a agravar o pecado em nós, e a agravar a escravidão e a tirania do pecado sobre nós.
Não há nenhum poder na Lei de Deus que nos livre do poder e da tirania do pecado em nenhum sentido. Nunca houve o propósito de que fizesse isso. A função da Lei foi dizer-nos o que tínhamos que fazer: "Pela lei vem o conhecimento do pecado." Essa é a única razão pela qual a Lei foi dada. Seu efeito, Paulo afirma, foi pôr às claras "a profunda gravidade do pecado", ajudar as pessoas a verem a natureza e o caráter do pecado - a coisa terrível que era - e a enxergarem sua necessidade de Cristo. "A lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo", para mostrar a nossa condição de desamparo e a nossa terrível necessidade. Sim, mas, por causa da natureza decaída, a Lei de fato incentiva o pecado em nós. Longe de libertar-nos, agrava o problema. Se estivermos debaixo da Lei, esse será o efeito que a Lei terá sobre nós; e isso, por sua vez, produzirá um estado de completa depressão e uma sensação de desamparo. E isso nos torna mais suscetíveis ainda ao poder do pecado; pois, sempre que alguém está deprimido, está mais aberto à tentação. Ele desanima-se, e assim o pecado aproveita a oportunidade. Além disso, a Lei nos desanima porque nos mostra a santidade de Deus; mostra-nos o caráter enganoso do pecado dentro de nós; assinala-o; desmascara-o, agrava-o, e assim estimula em nós. Ela nos diz que não façamos alguma coisa e, dizendo-nos isso, apresenta-nos a ela e desperta dentro de nós o desejo de fazê-la.
Eis um homem que está debaixo da Lei. Sente-se desamparado, deprimido e desanimado; e quanto mais a Lei lhe diz que não faça certas coisas, mais ele deseja fazê-las. Não é o que faz toda criança? Diga-lhe que não faça uma coisa, e imediatamente ela vai querer fazê-la. A natureza humana é assim.
No livro de Jó, o homem sábio disse: “Fiz aliança com meus olhos” (Jó 31.1). Era como se dissesse: “Olhem diretamente, não olhem para a direita ou para a direita. Cuidem de seus olhos propensos a vaguear, esses olhos que se movem quase automaticamente e veem coisas que iludem e induzem ao pecado”. “Faça uma aliança com os seus olhos”, declara esse homem. Concorde em não olhar para coisas que tendem a levá-lo ao pecado. Se isso era importante naqueles dias, é muito mais importante em nossos dias, quando temos jornais, cinemas, outdoors, televisão e assim por diante! Se há uma época em que os homens precisam fazer aliança com seus olhos, esta época é agora. Tenham cuidado com o que leem. Certos jornais, livros e diários, se os lerem, eles lhes serão prejudiciais. Vocês devem evitar tudo que lhes prejudica e diminui sua resistência. Não olhem na direção dessas coisas; não queira nada com elas... Na Palavra de Deus, vocês são instruídos a mortificar “os feitos do corpo” e não satisfazer “a carne no tocante às suas concupiscências”. Agradeça a Deus pelo evangelho poderoso. Agradeça a Deus pelo evangelho que nos diz que agora somos seres responsáveis em Cristo e que nos exorta a agir de um modo que glorifica o Salvador. Portanto, “nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências”.
Se vocês apenas reprimirem uma tentação ou esse primeiro movimento do pecado, ele provavelmente surgirá novamente com mais vigor. Nesse sentido, concordo com a psicologia moderna. A repressão é sempre má. “Então, o que devo fazer?”, alguém pergunta. Eu respondo: quando sentir aquele primeiro movimento do pecado, erga-se e diga: “Isto é mau; isto é vileza; é aquilo que expulsou do Paraíso os nossos primeiros pais”. Rejeite-o, enfrente-o, denuncie-o, odeie-o pelo que é. Assim, terá lidado realmente com o pecado. Você não deve apenas fazê-lo recuar, com um espírito de temor e de maneira tímida. Traga-o à luz, exponha-o, analise-o e, denuncie-o pelo que ele é, até que o odeie.
Se querem mortificar os feitos do corpo, “nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências”. O que isso significa? Em Salmos 1, achamos um discernimento claro quanto ao significado dessas palavras do apóstolo. Eis a prescrição: “Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores” (Sl 1.1). Se vocês querem viver esta vida piedosa e mortificar os feitos do corpo, não gastem tempo permanecendo nas esquinas das ruas, porque, se fizerem isso, provavelmente cairão em pecado. Se permanecerem no lugar por onde o pecado talvez passará, não se surpreendam se voltarem para casa em tristeza e infelicidade, porque caíram no pecado. Não se detenham no “caminho dos pecadores”. E, menos ainda, devem vocês assentar-se “na roda dos escarnecedores”. Se permanecerem em tais lugares, não haverá surpresa em caírem no pecado. Se vocês sabem que certas pessoas lhes são má influencia, evitem-nas, fujam delas. Talvez vocês digam: “Eu me ajunto com elas para ajudá-las, mas percebo que, todas as vezes, elas me levam ao pecado”. Se isso é verdade, não estão em condições de ajudá-las...
"Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe”. Não haja em vocês nenhuma dessas conversas ou gracejos tolos! Não façam isso! Abstenham-se! É tão simples e claro como estas palavras: parem de fazer isso!
Pedro disse: “Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma” (1 Pe 2.11). Esse é um ensino bastante claro. Aqui não há qualquer sugestão de que somos incapazes, temos de desistir da luta e entregar tudo ao Senhor ressuscitado. Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes...” — parem de fazer isso, parem imediatamente, não o façam mais! Vocês precisam se abster totalmente desses pecados, essas “paixões carnais, que fazem guerra contra a alma”. Vocês não têm o direito de dizer: “Sou fraco, não posso; as tentações são poderosas”.
Quanto à questão da pregação... O perigo está em ficar preso ou às anotações próprias ou ao que foi preparado, e esquecer a “liberdade do Espírito”.
A melhor maneira de purificar a igreja é pregando sistematicamente a palavra de Deus. Pois ninguém resistirá ouvir por vários dias a genuína palavra de Deus e não ter uma reação. Duas coisas vão acontecer: ou os pecadores saem da igreja ou se convertem.
O homem que é escravo do pecado e de todos os seus poderes não pode crer; portanto, o simples fato de que um homem crê no Evangelho é prova de que ele foi "libertado do pecado".
A salvação é toda de graça, cada pequena porção dela; é inteira e unicamente pela graça. A graça reina, e não compartilha o trono com ninguém, nem com coisa alguma. Você não deve colocar as obras ali, nem a igreja, nem os sacerdotes, nem os santos, nem a "Virgem Maria", nem coisa alguma. A graça ocupa sozinha o trono; e se você tentar pôr alguma coisa ao lado dela, significa que você não entendeu o que é "o reinado da graça".
A graça não quebra a Lei, nem a anula. Não devemos pensar nela em termos de sentimento ou emoção. Esse é um modo inteiramente errado de pensar na graça de Deus.
Ou você está "debaixo da lei" ou está "debaixo da graça". Não pode ficar a meio caminho; não pode estar às vezes numa posição, às vezes na outra. Se Deus o declarou justo e reto, você está "sob a graça", você está na esfera da graça, você está no Reino no qual Deus trata bondosamente todos os cidadãos, por Sua graça.
Devemos descobrir o modo certo de agir em toda situação.
A primeira regra é pensar em vez de falar. "Pronto para ouvir", diz Tiago, "tardio para falar, tardio para se irar" (Tiago 1:19). O problema é que somos prontos para falar, prontos para irar-nos mas tardios para pensar. Antes de expressarmos nossas reações devemos disciplinar-nos para pensar. Pode parecer supérfluo acentuar este ponto, mas sabemos muito bem que aqui é onde no mais das vezes erramos.
Diz a regra seguinte que quando a pessoa começa a pensar, não deve fazê-lo com seu problema imediato. Comece um pouco para trás. Aplique a estratégia do ataque indireto, um princípio bem conhecido no planejamento militar. O inimigo na última guerra era a Alemanha, mas os Aliados começaram a derrotá-la no norte da África, uma estratégia de ataque indireto. Esse método é, às vezes, de vital importância na vida espiritual. Precisamos começar a pensar um pouco para trás e atacar o problema imediato indiretamente.
Devemos lembrar-nos, primeiro, das coisas sobre as quais estamos absolutamente certos, coisas que estão inteiramente fora de dúvida. Anote-as e diga a si mesmo: "Nesta situação terrível e desnorteante em que me encontro, aqui pelo menos o terreno é sólido." Quando, caminhando nos pantanais, ou numa cadeia de montanhas, deparamos com atoleiros, o único modo de atravessá-los com êxito é encontrar lugares sólidos onde colocar os pés. O único meio de cruzar os brejos e pantanais é procurar apoio para os pés. Assim, no que tange a problemas espirituais, é preciso voltar aos princípios eternos e absolutos. A psicologia desse princípio é óbvia, porque no momento em que voltamos para os princípios básicos, imediatamente começamos a perder o pânico. É muito importante tranquilizar a alma com as coisas que estão além de discussão.
Havendo, pois, feito isso, a pessoa pode dar o passo seguinte. Coloque o problema particular no contexto dos princípios sólidos que lhe estão adiante. A realidade é que todos os problemas têm solução, contanto que sejam postos no devido contexto. Muitas vezes confundimos o significado de uma frase porque a retiramos do contexto; mas quando colocamos a passagem problema no seu contexto, geramente este nos interpretará o trecho. O mesmo princípio aplica-se ao problema que lhe está preocupando.
Se a resposta ainda não lhe é clara, então leve a dificuldade a Deus em oração e deixe-a com ele.
Não devemos esperar demais do Estado porque as atividades que compete ao Estado é principalmente negativa. Sua principal função é controlar e limitar o mal e as manifestações do mal. O Estado, seja monarquia, oligarquia, democracia, ou qualquer outra forma que vocês queiram escolher, pouquíssimo bem positivo pode fazer, e as pessoas entram em dificuldade quando pensam que ele pode fazer muito.
Como cristãos, como crentes, como aqueles que estão em Cristo, não estamos mais debaixo da lei. Estamos "mortos para o pecado", "mortos para a lei". Terminamos com a lei. "A lei do Espírito de vida em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte" (Romanos 8:2). Significa que não estou mais sob a condenação da lei. Não só isso, significa também que não fico mais tentando cumprir a lei e falhando. Terminei com isso também. E então, qual é a minha situação? Bem, como Paulo nos diz constantemente, estamos "debaixo da graça" (Romanos 6:14). Mas, significaria que por isso eu não tenho mais nada a ver com a lei? Ora, nós terminamos com a lei na questão de inutilmente tentarmos justificar-nos por ela. Também terminamos com a condenação pronunciada pela lei contra nós. Mas ainda podemos receber mensagens e apelos em termos da lei porque ela continua sendo a expressão perfeita de como Deus quer que vivamos. Ela ainda se aplica a nós nesse sentido.
Na Bíblia, quem age é Deus. Temos visto o que o homem faz. O que o homem faz é cair em pecado, e continuar no pecado, produzindo assim degradação, miséria e desespero. O homem é isso. Que é este Livro, a Bíblia? Seria tão-somente ensino moral? Acaso simplesmente nos diz o que precisamos fazer para que juntemos forças e nos safemos do lamaçal em que afundamos? Seria uma exortação? Não! É Evangelho. É um anúncio. Deus! Deus, que veio ao Jardim do Éden e falou com Adão e Eva em seu pecado e em sua vergonha. É Ele que age. É Ele que tem agido através de toda a história humana. Foi Ele que chamou Abraão e fez dele uma nação. Foi Ele que deu reis. Foi Ele que enviou profetas. Foi Ele que deu a lei. É sempre Ele. Foi Ele que, "vindo a plenitude dos tempos... enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei" (Gálatas 4:4,5). É Ele que ainda o faz; Ele o está fazendo no mundo atual. Toda a evangelização está subordinada a Deus. É Deus que age, e Ele continuará agindo até que tudo esteja finalmente perfeito e completo. O Evangelho é o grande plano e esquema de Deus em operação.
Amigo, o que esse mundo lhe oferece que seja de real valor? O que todo esse entretenimento, que todos desejam loucamente, realmente lhe ofereceu? Quão melhor ele lhe tornou? O pecado é como objetos de consumo anunciados nas propagandas. Maravilhoso! Olhe as cores. Maravilhosas! Mas não são nada. Pareciam ser algo concreto, mas não são nada mais que ar, insuflados, e desmoronam. O que esse entretenimento do mundo traz para sua mente? O que traz de bom ao seu espírito? O que dá à sua alma? Ajuda-lhe a viver? Eleva sua visão com respeito à vida? Ajuda-lhe quando adoece - quando você fica desesperadamente doente? Esse entretenimento parece mais um escárnio quando você fica doente assim, e você então não o quer mais. Tome tudo o que o mundo lhe oferece e que é oposto ao Evangelho e, quando analisá-los, você verá que nada tem.