Martyn Lloyd Jones
Só existem duas posições: ou estamos em Adão, ou estamos em Cristo. Não há posição intermediária. Você não poderá ser um salvo sem estar ligado a Cristo, sem estar em Cristo. E, assim como não há posição intermediária, assim também não pode haver processo progressivo nesse ponto.
(...)Como se argumenta no grandioso capítulo nove da Epístola aos Hebreus, há o fato de que o ensino geral de Moisés, com tudo mais que ele apresentou, foi tão-somente um expediente temporário. Bem, precisamos falar sobre isso com absoluta clareza. Era nestas coisas que os membros do Sinédrio se gloriavam, e eles estavam rejeitando Cristo. No entanto, examinem aquilo em que eles se apegavam! Vejam a lei. Uma parte de todo o problema deles era que não percebiam que a Lei não pode salvar ninguém. A Lei só nos pode dizer o que fazer; não pode dar-nos o poder que nos capacitaria a fazer o que ela diz. Por isso o apóstolo Paulo escreve aos romanos sobre "o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne..." (Romanos 8:3). Moisés se levantara diante do povo e praticamente dissera: "Cumpram estes mandamentos, e vocês serão salvos". A Lei deixa conosco: "Não matarás. Não adulterarás. Não cobiçarás". "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de toda o teu entendimento e de todas as tuas forças, e a teu próximo como a ti mesmo." Tudo ótimo, mas você pode fazer isso? A Lei diz: "Faze isto, e viverás". Mas ninguém pode fazer isso. Portanto, como já vimos, a Lei nos deixa condenados, sem esperança e desamparados, e nos diz que precisamos ser libertados.
Você e eu não temos que estar olhando nossa vida passada; nunca devemos ficar olhando para qualquer pecado que tenhamos cometido no passado, de modo nenhum, a não ser para louvar a Deus e engrandecer a Sua graça em Cristo Jesus. Eu o desafio a fazer isso. Se você olhar para o seu passado e este o deixar deprimido você deverá fazer o que Paulo fez. “Eu fui blasfemo”, disse ele, mas não parou aí. Disse em seguida: “Sou indigno de ser pregador do Evangelho”?
O que na verdade ele diz é exatamente o oposto: “Sou grato para com aquele que me fortaleceu, a Cristo Jesus nosso Senhor, que me considerou fiel, designando-me para o ministério” (1 Tm 1:12). Quando Paulo olha para o passado e vê seu pecado, não fica recolhido, de castigo num cantinho, a dizer: “Não presto para ser cristão; fiz coisas horríveis”. Nada disso. O que tudo isso produz nele, o efeito que lhe causa, é levá-lo a louvar a Deus. Ele se gloria na graça de Cristo, e diz: “Transbordou, porém, a graça de nosso Senhor com a fé e o amor que há em Cristo Jesus” (1 Tm 1:14).
Qualquer entendimento que possamos ter da Bíblia poderá ser uma cilada para nós, se deixarmos de aplicá-la.
Sábio é o homem que sempre pensa. Não age baseado apenas no instinto ou no impulso ou no desejo. Não, ele insiste em aplicar-se ao pensamento, à razão e à meditação.
Quando o ego tem a ascendência, ele sempre joga com os nossos sentimentos. O ego não pode resistir a um verdadeiro exame intelectual.
Se tentarmos combater o diabo e estes poderes unicamente em termos da nossa sabedoria e do nosso entendimento, inevitalmente seremos derrotados.
Cristo é o fim da lei no sentido de que Ele a cumpriu por aqueles que crêem nEle. Ele é o fim da lei no sentido de que Ele executou os ditames da lei perfeitamente, em todos os aspectos. Tudo quanto a lei requer, em função da justiça perante Deus, Cristo realizou.
A maior dificuldade acerca da vida cristã é que as pessoas correm em busca do experimental antes de terem entendido a verdade. O experimental é decorrência do entendimento da doutrina, da verdade.
Somente pessoas que entenderam a verdade, desejam obedecê-la. A tragédia das outras é que nunca a entenderam realmente.
Nenhuma seita gosta da doutrina do pecado; e isso pelo forte motivo de que você jamais ficará popular, se pregar a doutrina bíblica do pecado. No entanto, as seitas têm que ser populares, pois, do contrário, não poderão ter sucesso.
O Novo Testamento sempre introduz os aspectos práticos com o vocábulo "portanto" ou seu equivalente. O que você faz na prática sempre deve ser uma dedução do que você crê; e se você inverter essa ordem, correrá perigo mortal. Se você não tiver um "portanto" em seu sistema, que decorra da sua doutrina, o que você terá é uma seita, e não o ensino do Novo Testamento, não o cristianismo.
Há o perigo de que, havendo começado no Espírito, retornemos à carne. Este é o grande tema da Epístola aos Gálatas, resumindo nas palavras, "Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne?" (Gálatas 3:3) O apóstolo estava escrevendo a crentes autênticos, e é uma das "ciladas do diabo" com relação ao crente. É o perigo de que, tendo começado pela visão clara de que a justificação é somente pela fé, e de que tudo na vida cristã é pela fé, você pode, inconscientemente, começar a escorregar para trás, voltando a confiar nas suas obras, de uma forma ou de outra. É uma tentação muito sutil e astuta. Até Pedro chegou a sucombir sob ela como resultado do temor que teve dos irmãos que tinham vindo de Jerusalém e, em Antioquia, o apóstolo Paulo teve que lhe resistir "na cara", como ele no-lo recorda no capítulo dois, versículo 11 de Gálatas. É o perigo de retroceder de uma posição correta. Havendo visto, na ocasião da sua conversão, que a salvação vem inteiramente pela fé e confiança no Senhor, logo você começa a confiar em suas obras e atividades, naquilo que você é, em seu próprio entendimento; e nesse ponto você introduz estes aspectos fatais. Qualquer tipo de acréscimo é sempre e inevitavelmente um erro. No caso dos Gálatas foi a circuncisão, por causa do ensino dos judaizantes. Mas, surja como surgir a tentação para que retrocedamos, é essencial lembrar que não podemos aperfeiçoar a obra da graça ao nível da carne; tudo deve ser feito ao nível do Espírito, e sempre pela fé. Em última instância, tudo é pela fé e baseado na fé, e não devemos recuar dessa verdade fundamental.(...) Faça tudo que puder, obtenha todo o conhecimento que puder, trabalhe quanto puder, porém nunca ponha a sua confiança nessas coisas. Temos que confiar única e completamente em Cristo.
Por que o cristão, homem ou mulher, fica deprimido? É porque ele examinou a si mesmo desta maneira minuciosa - é sempre uma questão de pormenores, de pontos refinados, de tomar o pulso espiritual, de medir a temperatura espiritual. É levada a efeito toda investigação que se pode imaginar, e depois os resultados são reduzidos a uma sinopse. Eis aí, então, o registro; e é péssimo. A conclusão óbvia que se tira é: "Muito bem, será que sou cristão mesmo? Alguma vez fui realmente cristão? Será possível?"
O objetivo do diabo é conseguir que alimentemos esse sentimento. Se ele conseguir fazer que nos examinemos de tal maneira que isso não seja apenas uma introspecção, mas nos leve à conclusão de que nunca fomos cristãos, ele ficará mais que satisfeito. Estou procurando fazê-los lembrar-se de que a resposta fundamental ao diabo, é que, seja como for que nos sintamos, continuamos sendo cristãos. Contudo, como prová-lo a nós mesmos? Essa é a real necessidade nesse ponto. O modo de fazê-lo - e esta é a razão por que os reformadores protestantes viram que esse é o artigo fundamental de uma igreja para que se firme ou caia - é lembrar-nos da justificação só pela fé! O diabo diz: "Olhe a sua ficha, só há uma conclusão, você não é cristão, nunca foi." Responda ao diabo dizendo-lhe que o que torna um homem num cristão não é nada que se ache nele, e sim "o Sangue de Jesus e Sua Justiça". Graças a Deus por isso, pois se todos nós examinássemos verdadeiramente a nós mesmos e tentássemos decidir com base no registro da nossa própria vida se somos cristãos ou não, nunca existiria nem um único cristão!Há somente uma coisa que nos faz cristãos - a justiça de Cristo e nada mais.
Não tenham nada a ver com as obras das trevas. Sejam drásticos. Não façam nenhum trato com elas. O princípio importante, parece-me, é este: vigie o começo. Não debata, não discuta, não tenha nada a ver com o pecado, se é que você é sábio: despoje-se totalmente do velho homem. Não temos todos nós experiência disso? No momento em que você mal dá ouvidos ao diabo, praticamente já ficou por baixo. Se você discutir com ele, certamente você será derrotado. Não converse com ele, não troque expressões com ele. Se você começar a falar com o diabo e a ouvi-lo e disser: ora, por que não? Eu quero entender... você já estará batido, ele sempre o derrotará; ele é astuto, ele é esperto, ele é brilhantena arte da resposta pronta; ele conhece todos os argumentos. Assim que você começa a dar lado ao pecado, você está liquidado. Não tenh nenhuma ligação, nenhuma comunhão, com as obras infrutuosas das trevas.
Visto que Deus já tratou com o pecado da maneira explicada nas Escrituras, somos perdoados absolutamente e uma vez por todas. O perdão é definitivo. Somos reconciliados completamente com Deus pela morte de Seu Filho. "Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados." "Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus" (2 Coríntios 5:19-21). Deus tratou dos nossos pecados de maneira tão completa em Cristo, e por Seu sangue, que Ele os pôs para fora uma vez para sempre, e nunca mais os tornará a ver.
A nossa morte com o nosso Senhor é algo que diz respeito a nós exatamente do mesmo modo como é verdade que todos nós pecamos quando Adão pecou.