Mario Quintana fim e Começo

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Esse mundo que aí está foi feito por nós, portanto, pode ser por nós reinventado.

É hora, de uma vez por todas, de dizer basta a esses erros, e lutar por um mundo melhor, mas um mundo construído por nossas mãos e pela nossa inteligência, por todos nós, responsáveis de tudo quanto acontece, e não apenas por alguns iluminados, que se julgam os porta-vozes da divindade, super-homens que nada mais são que super-pigmeus, cuja única grandeza é a sombra imensa, que projetam nos entardeceres humanos.

O homem é um fim e não um meio. Utilizá-lo, transformá-lo em peça de um mecanismo, é ofender a sua dignidade.

As más ideias, como as más práticas, tendem a progredir com mais intensidade porque é mais fácil ser vicioso do que virtuoso.

Sou todo incoerências. Vivo desolado, abatido, parado de energia, e admiro a vida, entanto como nunca ninguém a admirou!

O esquartejamento da humanidade em blocos rigidamente diferenciados - como em ser negro, muçulmano, cristão, branco, budista, judeu etc - é perigoso porque estimula o fanatismo dos que se consideram superiores.

Soneto

Tanta lágrima hei já, senhora minha,
Derramado dos olhos sofredores,
Que se foram com elas meus ardores
E ânsia de amar que de teus dons me vinha.

Todo o pranto chorei. Todo o que eu tinha,
caiu-me ao peito cheio de esplendores,
E em vez de aí formar terras melhores,
Tornou minha alma sáfara e maninha.

E foi tal o chorar por mim vertido,
E tais as dores, tantas as tristezas
Que me arrancou do peito vossa graça,

Que de muito perder, tudo hei perdido!
Não vejo mais surpresas nas surpresas
E nem chorar sei mais, por mor desgraça!

Mário de Andrade
ANDRADE, M. Poesias completas: Volume 2, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014

Todo homem deve viver e morrer como um guerreiro.

O medo de ultrapassar a si mesmo impede a muitos de empreenderem a marcha superior.

Também na contemplação tranquila, na confiança e na entrega, nos encontramos com os desafios e com os novos prazeres que nos ajudam a crescer.

Tentação

Eu fechei os meus lábios para a vida
E a ninguém beijo mais, meus lábios são,
Cmo astros frios que, com a luz perdida,
Rolam de caos em caos na escuridão.

Não que a alma tenha já desiludida
Ou me faleçam os desejos, não!
O que outrem prejulgava uma descida,
É subir para mim, elevação!

Vejo o calvário por que anseio, vejo
O Madeiro sublime, "Glórias" ouço,
E subo! A terra geme... eu paro. (É um beijo.)

A moita bole... Eu tremo. (É um corpo.) Oh Cruz,
Como estás longe ainda! E eu sou tão moço!
E em derredor de mim tudo seduz!...

Mário de Andrade
ANDRADE, M. Poesias completas: Volume 2, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014

O homem de hoje está enfermo em sua alma, e tão enfermo que quer negá-la inclusive.

Popular é o ruim gostoso.

Por isso, enquanto tenho tempo, isto é, enquanto vivo, esse período é ocupado com ações e pensamentos, ideias e práticas, sucessos e fracassos. Como o que faço e penso e uma questão de escolha minha, o uso do tempo é questão de prioridade. Em outras palavras, como o meu tempo existirá ainda que eu fique estático, sem nada fazer além da imobilidade, o que nele faço resulta de decisão livre, a partir da importância que dou ao que farei naquele tempo.
Assim, se alguém diz "Não tenho para isto ou aquilo", de fato está dizendo "Isto ou aquilo não é prioridade para mim".

A minha alma não se angustia apenas, a minha alma sangra.As dores morais transformam-se-me em verdadeiras dores físicas, em dores horríveis, que eu sinto materialmente - não no meu corpo, mas no meu espírito.

Eu não sou eu nem sou outro
sou qualquer coisa de intermédio.

⁠A coisa mais perigosa que existe é o incompetente com iniciativa.

Fim

Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.

Os ateus são perseguidos não exclusivamente pela descrença em um deus, mas por não darem dinheiro para os templos.

Emprego é fonte de renda e trabalho é fonte de vida. Meu trabalho é minha obra.