Manhãs
Ficar olhando pela janela os anos indo, a rotina de cada dia, é loucura demais, é estar obcecado pelo simples fato de esperar pelo nada, é não se envolver com a beleza do nascer do sol todas as manhãs.
Nas manhãs e tardes
Voo em meu destino
Para retornar aos teus braços
Mãos que me cobrem de carinhos
Lábios que me fazem gritar em silêncio
Ternura sem igual que me torna fera
Suor que me faz delirar
E no êxtase leva minha alma aos céus
E na recíproca me enlaço em tua alma
Para sermos...
Só eu e você .
Todas as manhãs acordo
no mesmo horário!
O meu primeiro gole no café
Significa a vontade de vencer
O segundo gole
Significa a persistência de estar ali...
Não existe terceiro gole,
Nesse momento minha cabeça
Já está trabalhando muito para pensar em café...
Café que me deu vida,
É abandonado e esfria.
Mas quantas coisas não são assim?
O BEM-TE-VI
Ah! Bem-te-vi...
Não cantes por aqui
Não despertes meu amor, Bem-te-vi
Deixa-o dormir, deixa-o dormir...
Hoje as nuvens estão carregadas,
Logo há de chover por aqui.
É melhor que não cantes, Bem-te-vi
Deixa-o dormir, deixa-o dormir...
Ah! Bem-te-vi...
Abra tuas asas e fujas daqui
Não perturbes meu amor, Bem-te-vi
Deixa-o dormir, deixa-o dormir...
O silêncio, Bem-te-vi, também ecoa
Guarde teu canto e voa
Mas não despertes meu amor, Bem-te-vi
Deixa-o dormir, deixa-o dormir...
O amor não me consulta
Não se importa com minha opinião
Não pergunta se eu gosto
Ou não gosto de senti-lo
Cumpre-me aceitá-lo
Tal como é
E consequentemente
Tudo o que dele resulta
À DESPEDIDA AO TEATRO
Um dia, quis ser ator de teatro
E voar tão alto
Onde não se pode enxergar
Quis ser filho pródigo da arte
Quis subir ao palco
E subestimar o mundo
Como criança infame
A concepção pecadora de enlear tal arte
Me valeu sorrisos irônicos
De cruéis comediantes
Que se esquivam em virtudes ensaiadas
Hoje o teatro vaia minhas pretensões
E eu, tão pouco mudado
Tenho apenas alto os meus sonhos
Interpreto na vida o trágico sentido
Que exaspera o pensamento
No porvir que é motejante encalço do silêncio
E deixa tolas as vaidades incessantes
Num remediar meus costumes inconscientes
Ah! minh´alma teatral e desonesta...
Quer ser arte e não ser artista
Quer ser fonte e não ser nascente
Ah! minh´alma teatral e desonesta...
Já me priva meu anseio
E padeço estupidamente
Numa cidade sem sonhos
INSIGNIFICÂNCIA
O frio me espalma o rosto
E o deixa com a cor de nácar
A sinusite me dói a fronte
A ausência de amigos me faz sozinho
Ao amparo próximo que retém o equilíbrio inócuo
Carpir lágrimas me faz feliz no relento paulistano
Ainda sentado, na escadaria do teatro Anchieta
O frio inóspito...
A tosse árida...
Descanse em paz, amigo!
O anelante andejo propicia a falta
Que me faz cismar n’endecha...
Eu conheço este filho Antunes
E por que ele não há de me conhecer?
O frio me espalma o rosto novamente
A insignificância é humilhante avaro
De quem não faz por merecer
TENHO SOMENTE NOITE E DIA
Tenho somente noite e dia
E nada me faltará, espero
Assim
Quando chegarem os dias de tua ausência, estarei pronto
Tão pronto quanto as flores do dia dos namorados
Que são entregues murchas
E desesperadamente são colocadas na água
Pra ver se dura algum momento de amor
Não precisaremos de flores, espero
Mas, se algum dia eu lhe der flores
Deixe-as murchar, sem água
E observe como é curta a vida de um verdadeiro amor
Não precisaremos de flores, espero
Assim
Quando chegarem os secos dias de outono
Quando não teremos flores
Terei mais do que sempre imaginei
Porque tenho noite e dia
Nunca tive amor que me desse flores
Sinceramente, nunca tive amor de verdade
Então, como desejar flores?
Não amo flores
Não me apraz amar flores que não tenho
MINHA MUSA ADORMECIDA
Ignora, meu bem, os meus sonhos
Dorme tranquila na noite fria
Mas sua alma passeia comigo
E dormindo você sorri, apenas
Beijo sua boca molhada em meu sonho
Beijo seus olhos cerrados de sono
E molho com meu desejo o seu corpo
Enquanto você sorri, apenas
Ignora, meu bem, o meu sofrimento
Cega como a noite está
Mas seus olhos nos guiam no amor
E eu me perco e me encontro
E me esqueço em seu colo
Já que você sorri, apenas
Amo enquanto sofro
Não choro de felicidade
Mas rio do meu amor
Certo seria eu não rir nem chorar
Mas quem há de compreender o meu amor?
Amo
Enquanto é possível amar
A BELA PRISCILA
Já viste o espelho refletir teu rosto
E sabes que a beleza é inimiga dos amantes
Pois quem há de te espiar o âmago
Quando teu rosto faz inveja às flores?
Talvez a beleza não combine contigo
(E isto é de todo um mal, querida!)
Pois onde encontrarás um amor
Que ignore teu rosto sem a deixar ferida?
AMAR VERBO
Não sei o que é amar, o que é amar verbo
Amar, que habita o dicionário...
Conheci o amar que habita em peito aberto
O amar oportuno que olha de soslaio
Amar é legado de coexistência
Amar faz o que o dever não consegue
Amar não tem garbo, nem malícia
Amar é alvo e não persegue
Não, não pode ser amar o que sinto
Ao menos não o amar verbo transitivo
O meu amar é sentimento excessivo...
Amar é algo que se faz no leito!
Não, não pode ser amar o que sinto
Pois o que sinto não me sai do peito
BAR DA VIRADA
Pessoas comem, comendo riem
Tudo é tranquilo, no bar virada
Vira daqui, vira dali
Não vou cantar, não vou sorrir
Um canto escuro, a noite fria
Tudo é motivo pra dar risadas
Riem daqui, riem dali
Riem de tudo, não perdem nada
Pessoas comem, comendo riem
Como é gostoso, no bar virada
Vira daqui, vira dali
Quem demorou, não comeu nada
A noite é bela, uma criança
Como lembrança, de uma noitada
Riem daqui, riem dali
Riem de tudo, até de desgraça
O AMOR É COMO UM VENTO
Lá fora o vento sopra
Como se fosse o senhor do tempo
E dentro de mim é igual
Porque o amor é como um vento
Lá fora o vento sopra
Como o beijo que o amor precisa
Engraçado, dentro de mim é igual
Porque o amor é uma brisa
Lá fora o vento sopra
Sem que eu possa imaginar
E dentro de mim, eu sei
O amor é como o ar
Lá fora o vento sopra
Como se fosse em despedida
Mas dentro de mim há um suspiro
Porque o amor é como a vida
O amor caminha
E caminhando vão-se mais amores
O amor não para
O amor engana
O amor não espera
O amor não chega...
Maldito seja o amor que caminha!
Que me deixa esperar
O amor que não chega...