Mal
Fazer o Bem brotar do Mal
Como é bela a idéia de um mundo em que harmoniosamente o Bem faz brotar o Bem, em que a Felicidade gera Felicidade, e em que a Paz faz vigorar a Paz.
Sem dúvida um mundo assim seria um mundo ideal.Mas quantas vezes neste mundo nós já vimos o Amor ser vítima do Ódio, vimos quem só prega a Paz ser acometido pela Guerra, e vimos quem só faz o Bem ser assolado pelo Mal? (...)
Neste mundo que parece virado pelo avesso, não podemos esperar que as coisas aconteçam apenas do modo ideal: precisamos fazer do fim um recomeço, precisamos fazer brotar o bem também do mal."
Nossos dias são como as estrelas cadentes. Mal as vemos enquanto passam; deixam depois que passam um sulco indelével na memória.
É estranho sentir saudade de algo o qual mal vivi ou evitava viver.
Renúncia
Chora de manso e no íntimo... procura
Tentar curtir sem queixa o mal que te crucia:
O mundo é sem piedade e até riria
Da tua inconsolável amargura.
Só a dor enobrece e é grande e é pura.
Aprende a amá-la que a amarás um dia.
Então ela será tua alegria,
E será ela só tua ventura...
A vida é vã como a sombra que passa
Sofre sereno e de alma sombranceira
Sem um grito sequer tua desgraça.
Encerra em ti tua tristeza inteira
E pede humildemente a Deus que a faça
Tua doce e constante companheira...
Quando alguém te contar o que de mal outro diz de ti, não te preocupes em refutar o que se diz, mas responde simplesmente: Quem disse isso de mim com certeza ignora os meus outros vícios, porque, de outra maneira, não se contentaria em dizer tais puerilidades.
O dia inteiro diz
E até a noite diz
Que é você
Meu bom senso, mal-juízo
Meu desejo e o que vejo
Dizem que é você
Meu outro lado esbraveja
Veja, tenho certeza
Que é você
O sol nasce e se levanta
Se deita e de todo jeito diz
Que é você
Tudo o que digo e faço
É só pra disfarçar
E eu só penso e me convenço
Que é você
Só você insiste em dizer
Que não é você
Estamos convencidos de que o pior mal, tanto para a humanidade quanto para a verdade e o progresso, é a Igreja. Poderia ser de outra forma? Pois não cabe à Igreja a tarefa de perverter as gerações mais novas e especialmente as mulheres? Não é ela que, através de seus dogmas, suas mentiras, sua estupidez e sua ignomínia tenta destruir o pensamento lógico e a ciência? Não é ela que ameaça a dignidade do homem, pervertendo suas idéias sobre o que é bom e o que é justo? Não é ela que transforma os vivos em cadáveres, despreza a liberdade e prega a eterna escravidão das massas em benefício dos tiranos e dos exploradores? Não é essa mesma Igreja implacável que procura perpetuar o reino das sombras, da ignorância, da pobreza e do crime? Se não quisermos que o progresso seja, em nosso século, um sonho mentiroso, devemos acabar com a Igreja.
Lutar com palavras
é a tuta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.
[...]
Palavra,palavra
(digo exasperado),
se me desafias,
aceito o combate.
Já passou, já passou. Se você quer saber, eu já sarei, já curou. Me pegou de mal jeito mas não foi nada, estancou.
Só que dessa não se morre. Mas tudo, menos a angústia, não? Quando o mal vem, o peito se torna estreito, e aquele reconhecível cheiro de poeira molhada naquela coisa que antes se chamava alma e agora não é chamada nada. E a falta de esperança na esperança. E conformar-se sem se resignar. Não se confessar a si próprio porque nem se tem mais o quê. Ou se tem e não se pode porque as palavras não viriam. Não ser o que realmente se é, e não se sabe o que realmente se é, só se sabe que não se está sendo. E então vem o desamparo de se estar vivo. Estou falando da angústia mesmo, do mal. Porque alguma angústia faz parte: o que é vivo, por ser vivo, se contrai.
Não me olhe assim tão convencido e diga que eu estou indo mal. Quem é você pra me julgar e a vida que eu vivo? Eu sei que eu não sou perfeito e eu não exijo ser. Então, antes de apontar seus dedos para mim, tenha certeza de que suas mãos estão limpas. Não julgue antes de julgar você mesmo. Não julgue se você não está pronto para o julgamento.
Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer.
Quando me surpreendo ao fundo do espelho assusto-me. Mal posso acreditar que tenho limites, que sou recortada e definida. Sinto-me espalhada no ar, pensando dentro das criaturas, vivendo nas coisas além de mim mesma. Quando me surpreendo ao espelho não me assusto porque me ache feia ou bonita. É que me descubro de outra qualidade. Depois de não me ver há muito quase esqueço que sou humana, esqueço meu passado e sou com a mesma libertação de fim e de consciência quanto uma coisa apenas viva. Também me surpreendo, os olhos abertos para o espelho pálido, de que haja tanta coisa em mim além do conhecido, tanta coisa sempre silenciosa.