Machado de Assis Poema Pai Contra Mae
A QUE VEM DE LONGE
A minha amada veio de leve
A minha amada veio de longe
A minha amada veio em silêncio
Ninguém se iluda.
A minha amada veio da treva
Surgiu da noite qual dura estrela
Sempre que penso no seu martírio
Morro de espanto.
A minha amada veio impassível
Os pés luzindo de luz macia
Os alvos braços em cruz abertos
Alta e solene.
Ao ver-me posto, triste e vazio
Num passo rápido a mim chegou-se
E com singelo, doce ademane
Roçou-me os lábios.
Deixei-me preso ao seu rosto grave
Preso ao seu riso no entanto ausente
Inconsciente de que chorava
Sem dar-me conta.
Depois senti-lhe o tímido tato
Dos lentos dedos tocar-me o peito
E as unhas longas se me cravarem
Profundamente.
Aprisionado num só meneio
Ela cobriu-me de seus cabelos
E os duros lábios no meu pescoço
Pôs-se a sugar-me.
Muitas auroras transpareceram
Do meu crescente ficar exangue
Enquanto a amada suga-me o sangue
Que é a luz da vida.
Se uma águia fende os ares e arrebata
esse que é forma pura e que é suspiro
de terrenas delícias combinadas;
e se essa forma pura, degradando-se,
mais perfeita se eleva, pois atinge
a tortura do embate, no arremate
de uma exaustão suavíssima, tributo
com que se paga o vôo mais cortante;
se, por amor de uma ave, ei-la recusa
o pasto natural aberto aos homens,
e pela via hermética e defesa
vai demandando o cândido alimento
que a alma faminta implora até o extremo;
se esses raptos terríveis se repetem
já nos campos e já pelas noturnas
portas de pérola dúbia das boates;
e se há no beijo estéril um soluço
esquivo e refolhado, cinza em núpcias,
e tudo é triste sob o céu flamante
(que o pecado cristão, ora jungido
ao mistério pagão, mais o alanceia),
baixemos nossos olhos ao desígnio
da natureza ambígua e reticente:
ela tece, dobrando-lhe o amargor,
outra forma de amar no acerbo amor.
O espelho reflecte certo;
não erra porque não pensa.
Pensar é essencialmente errar.
Errar é essencialmente estar cego e surdo.
Soneto de Montevidéu
Não te rias de mim, que as minhas lágrimas
São água para as flores que plantaste
No meu ser infeliz, e isso lhe baste
Para querer-te sempre mais e mais.
Não te esqueças de mim, que desvendaste
A calma ao meu olhar ermo de paz
Nem te ausentes de mim quando se gaste
Em ti esse carinho em que te esvais.
Não me ocultes jamais teu rosto; dize-me
Sempre esse manso adeus de quem aguarda
Um novo manso adeus que nunca tarda
Ao amante dulcíssimo que fiz-me
À tua pura imagem, ó anjo da guarda
Que não dás tempo a que a distância cisme.
Não te rias de mim, que as minhas lágrimas
São água para as flores que plantaste
No meu ser infeliz, e isso lhe baste
Para querer-te sempre mais e mais.
Não te esqueças de mim, que desvendaste
A calma ao meu olhar ermo de paz
Nem te ausentes de mim quando se gaste
Em ti esse carinho em que te esvais.
Não me ocultes jamais teu rosto; dize-me
Sempre esse manso adeus de quem aguarda
Um novo manso adeus que nunca tarda
Ao amante dulcíssimo que fiz-me
À tua pura imagem, ó anjo da guarda
Que não dás tempo a que a distância cisme.
Ó madrugada, tardas tanto... Vem...
Vem, inutilmente,
Trazer-me outro dia igual a este, a ser seguido por outra noite igual a esta...
Vem trazer-me a alegria dessa esperança triste,
Porque sempre és alegre, e sempre trazes esperanças,
Segundo a velha literatura das sensações.
Vem, traz a esperança, vem, traz a esperança.
Hei de seguir eternamente a estrada
Que há tanto tempo venho já seguindo
Sem me importar com a noite que vem vindo
Como uma pavorosa alma penada.
Sem fé na redenção, sem crença em nada
Fugitivo que a dor vem perseguindo
Busco eu também a paz onde, sorrindo
Será também minha alma uma alvorada.
Onde é ela? Talvez nem mesmo exista…
Ninguém sabe onde fica… Certo, dista
Muitas e muitas léguas de caminho…
Não importa. O que importa é ir em fora
Pela ilusão de procurar a aurora
Sofrendo a dor de caminhar sozinho.
Lição de bondade
Quando Jesus entrou vitoriosamente em Jerusalém, montado num burrico, eis que o povo, alvoroçado, vinha vê-lo e saudá-lo na praça pública.
Muitos supunham que o Mestre seria um dominador igual aos outros e bradavam:
- Glória ao Rei de Israel!...
- Abaixo os romanos!...
- Hosanas ao vencedor! ...
- Viva o Filho de David!... Viva o Rei dos Judeus!...
E atapetavam a rua de flores.
Rosas e lírios, palmas coloridas e folhas aromáticas cobriam o chão por onde o Salvador deveria passar.
O Mestre, contudo, sobre o animalzinho cansado, parecia triste e pensativo. Talvez refletisse que a alegria ruidosa do povo não era o tipo de felicidade ele desejava. Queria que ver o povo contente, mas sem ódio e sem revolta, inspirado pelo bem que ajuda a conservação das bênçãos divinas.
O glorificado montador ia, assim, em silêncio, quando linda jovem se destacou da multidão, abeirou-se dele e lhe entregou uma braçada de rosas, exclamando:
- Senhor, ofereço-te estas flores para o Reino de Deus.
O Cristo fixou nela os olhos cheios de luz e indagou:
- Queres realmente servir ao Reino do Céu?
- Oh! sim... - disse a moça, feliz.
- Então - pediu-lhe o Mestre -, ajuda-me a proteger o burrico que me serve, trazendo-lhe um pouco de capim e água fresca.
A jovem atendeu prontamente e começou a compreender que, na edificação do Reino Divino, Jesus espera de nós, acima de tudo, a bondade sincera e fiel do coração.
Uma boa mãe dá ao enteado um pedaço de bolo igual ao que dá ao próprio filho, mas fá-lo de maneira diferente.
E você, sozinho e pensativo em sua dor, buscará sua mãe e esconderá seu rosto nesses braços; no seio que nunca muda encontrará descanso.
Oração pelos filhos
Ó Deus, Pai de todos os homens, a Vossa lei me lembra o sagrado dever de educar os meus filhos segundo a santa religião para a virtude e o céu. Eles pertencem mais a Vós do que a mim. Das minhas mãos os pedireis um dia. É a Vossa palavra: "Se alguém não tem cuidado dos seus e sobretudo dos de sua casa, negou a fé e é pior que o infiel" (I Tim 5,7).
Além do bem-estar temporal dos meus filhos me confiaste a maior responsabilidade: a santificação de suas almas.
Assisti-me, Senhor, e iluminai-me para que eu conheça as minhas obrigações e concedei-me a firme vontade e o máximo cuidado em cumpri-las.
Moderai o nosso amor natural: quantas vezes nos tornamos cegos em seus erros, perdoando-os facilmente, sem mostrar-lhes suas faltas e os prejudicando intensamente.
Dai-me inteligência para usar da severidade quando esta for necessária; dai-me brandura quando me faltar a paciência.
Livrai-me, Senhor, de todo o escândalo, para que sirva de modelo aos meus filhos, em tudo quanto é justo, bom e louvável.
Santificai, Deus de toda santidade, os meus filhos, para que Vos amem e respeitem; dai-lhes docilidade e obediência para que se tornem perfeitos.
Não Vos peço riquezas para eles, e sim saúde e força para se manterem na vocação que Vós lhes destinastes.
Preservai-os da escravidão das más paixões; conservai-lhes a pureza no meio deste mundo depravado. Concedei, Senhor, aos meus filhos boas companhias e exemplares guias; antes quero vê-los mortos do que vê-los em vida perdida.
Eu Vos entrego, ó Pai de bondade, cada um de meus filhos para os protegerdes e salvardes por toda a vida.
Assim tenho a firme esperança de poder dizer um dia: "Senhor, daqueles que me confiastes não perdi nenhum".
Amém.
RIQUEZA E POBREZA
Um dia um pai de família rica, levou seu filho para o interior com o firme propósito de mostrar quanto as pessoas podem ser pobres.
Eles passaram um dia e uma noite na fazenda de uma família muito pobre.
Quando retornaram da viagem o pai perguntou ao filho:
- Como foi a viagem?
– Muito boa Papai!
– Você viu como as pessoas podem ser?
E o que você aprendeu ? – O pai perguntou.
O filho respondeu:
- Eu vi que nós temos um cachorro em casa, e eles tem quatro. Nós temos uma piscina que alcança o meio do jardim,
eles tem um riacho que não tem fim.
Nós temos uma varanda coberta e iluminada com luz, eles tem as estrelas e a lua.
Nosso quintal vai até o portão de entrada, eles tem uma floresta inteira.
Quando o pequeno garoto estava acabando de responder, seu pai ficou estupefato. O filho acrescentou:
- Obrigado, pai, por me mostrar o quanto pobres nós somos!
MORAL DA HISTÓRIA:
Tudo o que temos depende da maneira como olhamos para as coisas.
Se temos amor, amigos, saúde bom humor e atitudes positivas para com a vida, temos tudo! Se somos “pobres de espírito", não temos nada.
Cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Ese silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa
De muito gorda a proca já não anda
De muito suada a faca já não corta
Como é difícilo, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontgade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade
Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça
O tempo não pára
Disparo contra o sol
Sou forte, sou por acaso
Minha metralhadora cheia de mágoas
Eu sou um cara
Cansado de correr
Na direção contrária
Sem pódio de chegada ou beijo de namorada
Eu sou mais um cara
Mas se você achar
Que eu tô derrotado
Saiba que ainda estão rolando os dados
Porque o tempo, o tempo não pára
Dias sim, dias não
Eu vou sobrevivendo sem um arranhão
Da caridade de quem me detesta
A tua piscina está cheia de ratos
Tuas idéias não correspondem aos fatos
O tempo não pára
Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não pára
Não pára, não, não pára
Eu não tenho data para comemorar
Às vezes os meus dias são de par em par
Procurando uma agulha num palheiro
Nas noites de frio é melhor nem nascer
Nas de calor, se escolhe: é matar ou morrer
E assim nos tornamos brasileiros
Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro
Transformam o país inteiro num puteiro
Pois assim se ganha mais dinheiro
A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas idéias não correspondem aos fatos
O tempo não pára
Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não pára
Não pára, não, não pára
Dias sim, dias não
Eu vou sobrevivendo sem um arranhão
Da caridade de quem me detesta
A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas idéias não correspondem aos fatos
O tempo não pára
Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não pára
Não pára, não, não pára
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