Luto Morte

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Todos os dias vão em direção à morte, o último chega a ela.

Acontece com a velhice o mesmo que com a morte. Alguns enfrentam-nas com indiferença, não porque tenham mais coragem do que os outros, mas porque têm menos imaginação.

Se é mesmo verdade o que os sábios nos dizem e se existe um lugar que nos acolhe (depois da morte), talvez o amigo que acreditamos extinto tenha apenas nos precedido.

Nem o sol, nem a morte se podem olhar fixamente.

Os homens, ao fugir da morte, perseguem-na.

Para o amor e a morte, não há coisa forte.

Estar sozinho é treinarmo-nos para a morte.

Louis Céline
Viagem ao Fim da Noite

No meio da vida acontece que a morte surge e mede o homem. A visita é esquecida e a vida continua. Mas o fato está feito, silenciosamente.

Sabe-se que enquanto vivemos estamos mais ou menos expostos à inveja, mas depois da nossa morte os nossos inimigos deixam de nos odiar.

A morte é o repouso, mas o pensamento da morte é o perturbador de todo o repouso.

A vida, para os desconfiados e os temerosos, não é vida, mas uma morte constante.

O avarento gasta mais no dia da sua morte do que gastou em dez anos de vida, e o seu herdeiro mais em dez meses do que ele na vida inteira.

O grande político conhece-se pelo fato de os seus pensamentos viverem depois da sua morte ou da sua derrota.

O temor da morte é a sentinela da vida.

A velhice poderia ser a suprema solidão, não fosse a morte uma solidão ainda maior.

A meu favor tenho o teu olhar
testemunhando por mim
perante juízes terríveis:
a morte, os amigos, os inimigos.

E aqueles que me assaltam
à noite na solidão do quarto
refugiam-se em fundos sítios dentro de mim
quando de manhã o teu olhar ilumina o quarto.

Protege-me com ele, com o teu olhar,
dos demónios da noite e das aflições do dia,
fala em voz alta, não deixes que adormeça,
afasta de mim o pecado da infelicidade.

Criar é matar a morte.

Condenados à morte, condenados à vida, eis duas certezas.

A glória é um luto ostentoso da felicidade.

Tão bom morrer de amor! E continuar vivendo...

Mario Quintana
Baú dos espantos, Porto Alegre: Editora Globo.1986.p. 596 p. 87.

Nota: Trecho do poema Conversa Fiada, compilado na obra referida de Mário Quintana.

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