Literatura de Cordel
Eu sempre vou escrever para pessoas normais. Nunca vou escrever para escritor ou intelectual. Literatura não é receita médica.
REINADO
Noturnos são os passeios de minh’alma
Meu espírito vagueia por liberdade
Encarar a chama da vida
Talvez pela morte.
Quem sabe o homem
Aquele que neste instante
Atravessa a rua
E olha para o chão,
Talvez tenha perdido a alegria.
A moça que usa o fio no ouvido
A escutar músicas.
Pela tatuagem
Ela conhece o amor...
Um floral, lindo,
Que trança sua perna esquerda
Como se a possuísse.
Outro homem atravessa a rua
Segue vestido como quem procura um trabalho Não um trabalho qualquer
Vai decidido, confiante.
Aquele rapaz
Jovem
Está sorrindo sozinho
Talvez tenha conhecido
Os prazeres do amor.
Ah, o amor...
Esta noite as ruas estão agitadas
Os cães estão calados
Posso dormir tranquilo
Porque essa noite
Quem reina é o amor.
AS HORAS
Sossegado e lento o dia nasce
O sol latente sem nuvens
As mulheres já estão apostas
Para o dia a dia
Os homens relutam,
Mas se aprontam.
As horas passam
E inevitavelmente a vida.

QUEM?
Quem de nós?
Quem de nós?
Quem falará a verdade?
Os poetas?
Os advogados?
Quem?
Não há verdade!
Não há verdade absoluta!
E isso é absolutamente verdade!

MARIA MÃE DE DEUS
Maria mãe de Deus
Maria minha mãe
Talvez eu seja Irmão de Deus,
Mas da parte pobre
E sem poderes.

ÁLVARO DE CAMPOS FOI À COOPERIFA
Chegou cedo e viu o bar vazio
Pediu uma bebida, um conhaque.
Lembrou que estava numa terra
Dantes lusitanas; conquista das grandes.
Atravessou o mar, sentia medo de avião.
Não acreditava ser seguro o homem voar. Lembrou-se das riquezas que sua terra
Fez com aquele lugar, agora não
Pertence mais a ninguém.
Nem a Portugal, nem aos brasileiros,
Terra sem dono.
Relutara em vir
Quando soube que era na periferia.
Tinha lido como o Brasil trata
A população periférica e ficou com medo
De ser confundido com algum morador.
Veio porque sua essência
Suas raízes se misturam, Inclusive, aos moldes ingleses, Isso o livraria de todo o mal.
19h30
Algumas pessoas começam a chegar
Duas mulheres, doces senhoras,
Que chegam e o cumprimentam,
Isso lhe causa espanto.
Quem cumprimenta um desconhecido?
O local é um bar típico de favela
Pela fama achou que seria mais bonito,
Pinturas desgastadas, mesas grudadas.
As paredes que vão de encontro à rua
Não existem, são grades, como se fosse uma jaula.
Próximo ao balcão, uma estante de livros
Que se amontoam sem nenhuma ordem.
Na parede dois destaques, duas camisetas
[emolduradas;
Uma com uma árvore escrita, 1a Semana de Arte [Moderna da Periferia,
Algo semelhante ao que ouviu falar na década de [1920 sobre o Brasil, em Portugal;
A segunda é uma camisa da seleção brasileira de [futebol,
Assinada pelo Rei, que não era Sebastião, mas sim, [Pelé.
Quando dá por si, não há mais lugares vazios,
O bar está inteiramente ocupado.
Pessoas de todos os tipos,
Brancos, pretos, pardos, ruivos, amarelos,
Isso o espanta, pois nunca tivera em um lugar assim,
Onde essas raças se misturam.
20h20
Muitas pessoas o cumprimentaram
Sem ao menos saber quem ele era
É como se fosse dali, há tempos,
Como se pertencesse ao lugar.
Uma pessoa vai ao microfone
Agradece a presença de todos
E relata que todos são bem vindos.
Como todos podem ser bem vindos?
O líder, o poeta, Sérgio Vaz,
Chama um grito de ordem
Todos os acompanham:
Povo lindo, povo inteligente é tudo nosso,
Uh, Cooperifa! Uh, Cooperifa! Uh, Cooperifa!
Uma sensação estranha
O sangue que corre em minhas veias
Ferve, uma adrenalina toma conta,
É como se algo mágico fosse acontecer.
Chamam o primeiro poeta,
Jorge Esteves, ele é aplaudido, Calorosamente, como se fosse uma estrela. Seu poema fala do homem comum
Que migrou para tentar a sorte
Na cidade grande.
Assim, vai seguindo,
Outros poetas são chamados,
Lourival, Cocão, Lu Souza,
Rose Dória, Márcio Batista,
Marcio Vidal, Fuzzil, Elizandra, Viviane, Jairo, todos são tratados iguais.
Até que uma senhora é chamada,
Dona Edite, todos fazem um barulho Estrondoso.
A senhora que é cega
Recebe auxílio até o microfone,
Lá recita o poema “Navio Negreiro”,
Neste momento confesso que vi
A magia da poesia.
Senti algo novo, eu,
Álvaro de campos,
Engenheiro, viajado,
Nunca vi, nem senti
Qualquer coisa parecida.
Confesso que uma lágrima escorreu,
Chorei.
Chorei a dificuldade de ver
Tão distante das glórias lusitanas de outrora
A poesia viva.
Descobri porque escrevo.
O poeta “more”, Sérgio Vaz,
Chama-me, os aplausos
São os mesmos efusivos e festivos.
Vou à frente, me posto ao microfone,
Sinto-me trêmulo, nunca fiquei assim
Diante de qualquer público,
Nem do próprio Fernando.
Inicio o poema Tabacaria
E percebo meu coração
Disparado, uma felicidade,
Um nervosismo.
Na metade do poema
Estou mais nervoso
E não consigo mais falar.
Todos os presentes se levantam
E batem palmas, assoviam, gritam...
As lágrimas dessa vez são maiores,
Sinto-me abraçado,
Olho e vejo Sérgio Vaz ao meu lado,
Ele pede aplausos, aplausos,
No final, um coro:
Uh, Cooperifa! Uh, Cooperifa! Uh, Cooperifa! Uh, Cooperifa!...

AMO-TE E ISTO BASTA
Amo-te e isto basta
Não quero riquezas
Nem palácios.
Amo-te e isto basta
Teu corpo luzente
Amplia meu desejo de viver
Sou teu como o ar à vida.
Não quero riquezas
A felicidade me basta.
Não julgueis, para não ser um camuflado
Passo na rua e me param, para me dizer, que se eu não for para igreja não serei salvo.
Não tenho culpa irmão, se não preciso de acordo para ter Deus do meu lado.
Põe em pauta meus pecados,
Como se os seus fossem menor por serem apenas industrializados.
Diz ate que minha música é do diabo.
Não se iluda, sua música gospel não faz de ti um iluminado.
Repeito mutuo é lei da reciprocidade, aprenda, ninguém conseguirá comercializar e nem trazer por encomenda.
Sou um simples pecador, assumo todas as minhas falhas e todos os meus erros, faça você o mesmo, ao invés de me apontar o dedo.
Deus é o juiz, não faça da sua crença um negócio, você não conseguirá melhorar o mundo para alguém, enquanto piora-lo para si próprio.
Eu vivo a minha vida como um pássaro livre, que tem suas asas para levá-lo aonde quer. Mas como a única asa que tenho é minha imaginação, deixo-me ser conduzido pelo coração.
Preciso aprender a dosar sentimentos... Não por medo de me decepcionar, mas por receio de gostar dos outros mais do que de mim.
Tire tudo de mim... Menos o meu coração. Não por ele ser indispensável à vida, mas o responsável por me fazer morrer de amor.
No mundo da nossa imaginação cabe aquilo que quisermos. Viajar nos livros é uma forma de conhecer o mundo imaginário dos outros.
Às vezes, eu não quero dizer nada, preciso apenas ouvir no silêncio as respostas para os meus questionamentos interiores.
Quando se gosta de alguém não adianta tentar controlar os pensamentos, pois eles são sussuros do que anseia o coração.
Na minha mente apenas a certeza de que o caminho a ser percorrido me levará ao encontro do que almejo realizar.
Sem saber se me contia apenas sentindo a energia desse dia, ou se abria a janela do meu coração pra dizer um simples bom dia ao meu sol interior.
Que o abraço seja sempre o melhor aquecedor nos dias frios. Pois ele não só aquece o coração, mas incendeia a alma.
Na vida temos que ser atores interpretando os personagens que queremos para conquistar o que buscamos. E às vezes temos que nos vestir com armaduras de adamantium para não transparecer a fragilidade do nosso coração.
Não importa o quão difícil é a sua situação. Faça uma pausa, sorria, dê um sim pra vida e descanse o seu coração. Você perceberá que a vida continua...