Literatura de Cordel
É importante a gente desmistificar quem é este sujeito que escreve. Geralmente, o que é mostrado para nós é escrito por homens brancos, ricos ou europeus, como se nós não produzíssemos saber também, como se não tivéssemos escrevendo a História. Poder mostrar isso para as pessoas é fundamental. Escritores de diferentes lugares, as pessoas que vêm da periferia também são sujeitos pensantes, que produzem, sujeitos que escrevem. Isso gera uma identificação em pessoas que nunca foram vistas como produtoras. Há uma identificação com o que está sendo escrito e com o que se escreve. O leitor consegue se ver nestas pessoas.
Os livros são os marcos da minha vida. Algumas pessoas têm fotos de família ou filmes caseiros para registrar o passado. Eu tenho livros. Personagens. Pois, desde sempre, os livros têm sido o meu porto seguro.
Os livros estão sempre sós. Como nós. Sofrem o terrível impacto do presente. Como nós. Têm o dom de consolar, divertir, ferir, queimar. Como nós. Calam a sua fúria com a sua farsa. Como nós. Têm fachadas lisas ou não. Como nós. Formosas, delirantes, horrorosas. Como nós. Estão ali sendo entretanto. Como nós. No limiar do esquecimento. Como nós. Cheios de submissão ao serviço do impossível. Como nós.
A arte não pode ser política, nem sujeição social, nem glosa duma ideia que faz época; nem mesmo pode estar de qualquer forma aliada ao conceito «progresso». É algo mais. É o próprio alento humano para lá da morte de todas as quimeras, da fadiga de todas as perguntas sem solução.
Outros mundos dentro de nós – ? Sim. As coisas que há fora de nós possuem um paralelo nas coisas que há dentro de nós – como nós também somos mundos e coisas...
Somos música – ou, de certa forma, os pais da música
que toca e amamos, que toca nossos corações e alma. Ela
– essa música – começa em nós, sim.
Somos geografia de nós mesmos – sim. Podeis apostar, Senhores. Podeis apostar e vereis o quanto há de verdadeiro nisso, Senhores. Apostai e constatai. Sim. [...]
Noite quente
Durante a noite quente,
numa faixa de terra
O mar reflete o céu
A lua brilha no mar
Recife o meu cantar
De porto a atracar
Para capitania a prosperar
Lugar onde o mar ressoa sem sessar
Dá sé, ouve-se o cantar
Do velho Barroco a ladrilhar
Duarte Coelho que fez vingar
E Bento Teixeira a prosopopeia narrar
Terra dos altos coqueiros
Do marco zero e do frevo
Recife, mar
Ah, Recife
Amar!
Paletas de cores
(Victor Bhering Drummond)
Sabe quando você quer pintar o céu e o mar
Com um verde-turquesa que não sabe onde encontrar?
Não precisa procurar por nenhuma paleta, nem em escalas pantones.
Olhe pra dentro de você e quem sabe também dê um passo pelos seus arredores;
As cores que procura para deixar sua pintura mais bonita
Estão dentro de você e já foram misturadas na natureza que te cerca,
Por um poderoso Autor, Mestre em Belas Artes,
Que também quer aquarelar seu chão e seu coração.
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Cidadãos de cultura duvidosa, com visão política à direita, invariavelmente repetem mantras neoliberais que incluem o Estado mínimo, a meritocracia, rejeitam o papel social dos governos (é o ensinar a pescar, jamais dar o peixe), apreciam a privatização do patrimônio público, são egoístas, profundamente egoístas e alheios a qualquer humanismo nas relações de classe. Muitas vezes, foram ou são beneficiários da coisa pública, mas não aceitam que outros sejam. Repudiam o comunismo sem o mínimo traço de conhecimento teórico, sem sequer terem investido numa leitura básica do Manifesto de Marx e Engels. É difícil respeitar as opiniões dessa gente, que raramente são opiniões de fato, geralmente se resumem a aspectos autobiográficos de um pensamento medíocre.