Literatura de Cordel
Deixe-me ir, deixe-me sorrir, não sou fábrica de sonhos, mas desejo alçar muitos voos, sempre lembro delas, das flores mais belas, assim as desejos, desejos não são fábricas de sonhos, mas sonhos podem serem exibidos em forma de rabiscos, enfim, exige habilidade de corrigir erros do amor vividos, pois podem ocasionar o desespero de amores contínuos, pois não importa o que vais escrever ou descrever, importa sim o compreendimento do ato gerado sobre o amor doado, e a parte mais importante estará sempre dentro de você.
Coisa Nenhuma
Quem roubou
Tua risada
Meu bem
Diga
Que vou buscá-la
Para cobrir
Sua boca
Quem tirou
Tua espontaneidade
E hoje fica nu, encolhido
Diga
Que vou buscar
Outra roupa
Quem tirou sua dança
Ficas parado
Feito estátua de sal
Diga
Qual é a música
Vou tocá-la
Para ti.
Diga
Por favor
Quem colocou
O mar dentro
De teus olhos
Mas sou eu
A praia
Venha para mim
Não se afogues
No pranto
Diga
Diga
Porque eu
Te amo
Quero levá-lo
Ao meio da pista
Nu como estás
Para dançarmos
E recomeçarmos
Com ritmo
Sem lhe roubar
Nada
Livro Pó de Anjo
Autora: Rosana Fleury
Peço encarecidamente que me violentem
Sem culpa ou remorso
Com ódio
Repulsa
E o senso inquestionável de poder
Quebrem meus dentes
Queimem minha pele e meus cabelos
Impeçam meus acessos
Sem drama
Com fazem com as mulheres e os cães
Ascendo por sobre a pele grossa
Tenho a dor arraigada ao sangue
Então atirem
E tirem o pouco que sobra
E não deixem de fazê-lo
Não permitam que não doa
Para que eu não ouse esquecer
Nem por um segundo miserável
Que não sou igual a vocês.
Não Cortem os Meus Cabelos
Thersila era linda, o conjunto fazia a graça da sua beleza e o que mais impressionava eram os seus cabelos, tão longos como as horas de nossas vidas.
Sua mãe dizia: “corte os cabelos, estão muito compridos! Fez promessa?" Mas, ela se calava e seus cabelos cresciam feito horas de espera: intermináveis. Cresceram... Cresceram... que para lavá-los ia até ao rio Corumbá, desatava as tranças o que levava horas, e deitava sua longa cabeleira no cascalho das águas do rio.
Neste instante, os cabelos encharcavam e tomavam o movimento das águas e mais pareciam galhos e gravetos esparramados pela chuva. Lavava, secava e perfumava seus fios e retornava à casa.
Sua mãe bradava: "Que é isso? Promessa?” E os seus cabelos ainda mais cresciam... cresciam tanto, que seu marido fez deles seu colchão e suas cobertas, apaixonado pelos longos fios sedosos e cheirosos.
Amanhecia emaranhado, que o prendia feito teias, para que não abandonasse o leito.
Conselhos não adiantavam: corte as pontas, da força!
E não entendiam. Thersila fez promessa? Todos ficavam impressionados com ela sentada na poltrona trançando os fios esparramados pelo chão.
Ela passava horas a fio a desembaraçar e ajeitar os fios na cama e cobrir seu amado, confiando no enlace da paixão.
Num dia de irritação, ele entrelaçado e embaraçado em seus fios, bradou e cortou os seus cabelos.
Thersila, nesse instante entristeceu, empalideceu e emudeceu.
Sentou-se num canto da sala, começou a tecer os fios cortados, como teias, num crochê complicado e os dependurava nas janelas, como cortinas.
Ele desesperado com a sua mudez, pediu:
— Fale Thersila, são seus cabelos que lhe fazem falta?
Ela então falou:
— Você cortou meus cabelos, junto deles a minha história. Agora teço com o que restou, teias, para que os fios não voem pela janela afora, como palavras perdidas de uma história de amor que levei anos e anos para contar e lhe ACONCHEGAR!
Livro: Não Cortem Meus Cabelos
Autora: Rosana Fleury
Assim, com tempo nas mãos, munidos destas ideias absurdas, e com uma secreta descrença na literatura, continuei a procrastinar, a adiar e a beber, arranjando toda a espécie de justificações para evitar a incómoda tarefa de, finalmente, me sentar e começar a escrever.
ESPELHOS DA ALMA ACESOS
E hoje,
A luz das estrelas da constelação de gêmeos acenderão o brilho dos teus belos olhos castanhos...
...E não me hipnotizarão mais.
Da Janela
Meu coração anda junto ao seu
Minha boca
Colada à sua
Meu corpo
Entrelaçado ao seu
Meu coração
Este descompasso
Mas neste
Compasso
Desta dança
Anda junto ao seu
Minha oração
Abraça teu
Coração
Abençoa nossa
Devoção
E meu coração
Anda junto
Ao teu
Meu coração
É meu
Teu coração
É teu
Mas meu coração
Anda junto
Ao seu
Somos dois
Em um só coração
O que é direito
E que é esquerdo
Meu coração
Anda junto
Ao seu
O leste
À esquerda
Meu coração abraça o seu coração.
minha oração
Suplicando perdão
Livro Pó de Anjo
Autora: Rosana Fleury
Oh, menina bela!
Onde é que eu me meti?
O destino enlouqueceu
Ou eu enlouqueci?
Por pensar que um caminho
Foi criado para mim
E para ti!
Assim que te vi,
Com certeza
Enlouqueci
Diria eu com grande paixão
O quão bela tu és
De vestes largas, invulgar
Qualquer ser é capaz
De t'amar...
Amor tão largo,
Que dói!
Não te poder falar
Chorar por t'amar
Dói
Assim que te vi,
Com certeza
Enlouqueci
Oh, menina bela!
Onde é que eu me meti?
Por ti, não por mim
Apunhalei um coração
Que doía por t'amar
Que chorava por te querer
Nos meus braços
Oh, doce mulher
O que fiz eu pra t'amar?
Amarga seja esta coita
Que só me faz chorar
Sonhar e Cair
Sonhei
e
Caí
No mundo imaginário
Sem razão
Sem julgamento
Sonhei
Caí
Em seus braços
Em seus abraços
Em seus beijos
Caí
Na decepção
Na sua aspereza
Na sua razão revoltada
Sobrevivi
Em sonhar
Em amar
E
Caí desesperadamente
Novamente
Em teus braços
Caí
E
Sonhei
Com você
Sobre nós
Só que
Agora
Na minha
Imaginação.
Livro Pó de Anjo
Autora: Rosana Fleury
As Linhas
Disseram pra Vânia que as linhas das mãos guardavam e guiavam seu destino.
Estava tudo ali na palma das mãos, determinado, sacramentado, no desejo intransponível do destino.
Era só interpretar as linhas... tantas linhas...
para cima...
para baixo...
em retas...
em diagonal...
formando hexágono, que Deus havia carimbado em sua mão.
A mão, um deserto cor de rosa, riscado de linhas falantes, para que o caminhante não morresse de sede e descortinasse o futuro.
As respostas estavam nas linhas que riscavam a palma da mão, mostrando o caminho e iluminavam as suas decisões.
Buscava sempre nas linhas, destinos a serem realizados e sonhos que sonhava.
Era uma busca incansável de premonições, ir a adivinhos, sensitivos, para desvendar e achar os mais curtos caminhos nas linhas das mãos.
A busca se tornou a razão da vida de Vânia. Viajava, andava longe, por estradas esburacadas, em casas escuras cheirando a velas queimadas, acreditando na imaginação dos sensitivos às suas mais íntimas indagações.
Assim caminhante da Roda Viva, pelas leis do Karma, Vânia procurava o destino na magia e no mago, nos desdobramentos de suas forças, o julgamento de sua vida para alcançar o sol da eterna felicidade.
Ora diziam que havia um moço claro e Vânia jogava p’ro alto sua sorte, e fazia uma mudança radical em sua vida.
Sua vó alertava:
— A vida tem que ser uma oração.
Vânia subia até as estrelas em sua nova esperança e nesta aventura, aparecia um louco que só queria aventuras e incertezas.
Sua mãe dizia:
— As respostas estão em você, abrace sua fé.
Vânia por tempos aquietava a ilusão, mas, o seu medo pela vida, ressuscitava as incertezas.
Sua irmã exaltava:
— Encontre seu próprio rumo e confie em você mesma.
Vânia, já mais velha e madura desanimada na busca e sentido da vida desejava agora uma harmonia sobrenatural, a temperança e sua auto realização (o mundo).
Agora tinha certeza de que o mundo não guardara p'ra ela nenhum amante loiro nem moreno. Lia as cartas de previsões e se embaralhava nas linhas escritas. Até que um dia, Vânia de tanto reler as cartas, não saía mais do quarto e todo mundo pensava: "Deve estar lendo as linhas e previsões.”
O sol se aproximou da Terra, secou o orvalho da manhã e Vânia não apareceu para o almoço.
Bateram, bateram na porta do quarto...
...não houve resposta. Quando abriram encontraram Vânia enrolada como um novelo de linha.
Linha de tudo quanto era jeito:
linha de retroz
linha de bordar
linha de carretel
linha grossa
linha fina...
Vieram suas irmãs, Vera e Virgínia, correndo e não sabiam se chamavam um médico, o curandeiro ou o sensitivo.
Vânia estava enrolada e embaraçada nas linhas.
Foi um reboliço. Tinham que achar o fio da meada e desenrolar as linhas que amarravam Vânia.
E tinha que ser rápido. Deu uma trabalheira danada, dia e noite, Vera e Virgínia se revezavam para desenrolar as linhas que aprisionavam Vânia.
Precisava pressa, pois, ela já estava pálida, acinzentada, não falava, estava cabisbaixa, enquanto as irmãs desenrolavam linhas... e mais linhas...
Eram tantas linhas... linhas da vida agarradas à Vânia.
Passaram dias e noites. Vera e Virgínia se revezando.
- Venha rápido, pedia uma, vamos deitar Vânia, já está quase no fim do “enrosco”.
As duas pegaram com afinco a tarefa. Vânia ainda de pé rodopiando, para desenrolar o “enrolo”.
Quando acabaram, levaram um grande susto, só restava de Vânia as suas sapatilhas.
Aí, elas concluíram que Vânia também virara linha, tinha corrido tanto atrás das linhas, que se embaraçou, se perdeu, não escreveu nem uma linha da sua vida, que minguou, minguou até virar um
FIO DE LINHA!
Livro: Não Cortem Meus Cabelos
Autora: Rosana Fleury
Monstras somos nós, extraordinárias, visto que a monstruosidade é corpo diferente em movimento, feito de solidão. A monstra é linda e canta uma canção. A letra é dela dessa vez.
Amor quebrado com força de poesia
O amor espatifou-se
Nas eiras da vida.
Marcas deixou
Nas calçadas,
Nos beijos,
Ventos e camas.
Rastejando
Conheci penhascos
De náufragos
Outrora errantes.
Arranquei lodos da terra,
Essência das flores,
Dei sabor de inverno à primavera,
Destrui nações,
Apalpei corpos voluptuosos,
Ladrei.
No mundo sub-mundo
De dó a si dissipei
Os espectros da liberdade.
Afogando no eco das tristezas,
Tive forças e ressuscitei.
Hoje sou árvore de raiz profunda,
Que bebe o leite da terra,
E me embriago de natureza.
Livro: Travessia de Gente Grande
Escritor: Ademir Hamú
Poder voltaraos livros era um santuário para o meu coração. E uma alegria se libertou, diminuindo minhas próprias queixas, perdoando a juventude perdida e os sonhos agonizantes perdidos para uma vida difícil.
QUINTAS
Dia Namorados
amor excelso:
Teófilo & Bárbara
narrado pelo
CELSO!
= =
grande, desgrande
amor libertário:
doce bem-estar
mal-estar amaro:
LITERÁRIO!
Se não sabes o que vês, não sabes o que ouves e não sabes o que sentes, jamais saberás o que escreves. Isto é literatura.
Hoje
Hoje o dia chora
Não há metáfora
Não chove
Há um vapor
Um suor
Um choro
Que exala dos poros
Há um transpirar
Escorrer
Que banha as lembranças
Há um recordar
De dois corpos suados
Pregados
Em meus pensamentos
Do que foi todo
Meu choro.
Livro Pó de Anjo
Autora: Rosana Fleury